Fique atento
Número de estelionatos quase dobra no RS nos dois primeiros meses de 2021
Das 20 cidades com maior número de casos em fevereiro, nove ficam na Região Metropolitana
Se 2020 foi marcado pelo salto no número de estelionatos no RS em contraponto à maioria dos demais crimes que apresentou queda, 2021 dá mostras de que a tendência poderá continuar. Os indicadores de criminalidade divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) apontam que os dois primeiros meses do ano tiveram elevação de quase 90% nos registros de golpes. Em fevereiro, foram 5.485 casos, 91,4% a mais do que os 2.865 do mesmo mês do ano passado (veja abaixo).
A Grande Porto Alegre é responsável por puxar boa parte desse indicador. Das 20 cidades com maior número de casos em fevereiro, nove ficam na Região Metropolitana. A maior concentração de golpes se dá na Capital, onde foram, no segundo mês do ano, 1.188 estelionatos — aumento de 81,9%. Outras cidades que apresentaram aumento expressivo são Canoas, com elevação de 94,8%, 116 para 226 casos, Sapucaia do Sul, com acréscimo de 191,3%, passando de 23 para 67 registros, Gravataí, com 118%, saltando de 83 para 181, e Alvorada, com 114,6%, de 41 para 88 golpes registrados.
Em janeiro, Alvorada foi a cidade metropolitana com maior aumento, ao saltar de 35 para 122 casos — elevação de 248,5%. Na soma dos dois meses, é o município com maior aumento percentual na Grande Porto Alegre. Foi na cidade que um técnico mecânico de 27 anos acabou ludibriado ao tentar vender um Playstation 4 pela internet, no fim de fevereiro. Uma mulher fez contato e disse estar interessada. Os dois seguiram a conversa pelo WhatsApp e o preço foi acertado em R$ 1,8 mil. A vítima, que preferiu não ser identificada, relata que ainda resolveu dar desconto de R$ 100 porque a compradora alegou que não tinha como pagar o total.
— Como eu estava precisando muito, pois estava desempregado, aceitei. Quando ela foi retirar o videogame, fez o pagamento em dinheiro — conta o técnico.
Quando recebeu a quantia, chegou a verificar a marca d'água das cédulas e acreditou que estava tudo certo. Somente no dia seguinte, ao mostrar as notas para um vizinho foi alertado de que eram falsas. Depois, passou a tentar fazer contato com a mulher, mas não conseguiu mais falar com ela.
— Parecia uma mulher muito correta, até comentou que o videogame faria alegria do filho que estava triste pela morte de um tio. Cheguei a sentir pena deles. Não esperava que isso fosse acontecer comigo — relata.
Os números elevados são percebidos no dia a dia pela Polícia Civil, onde são registrados diferentes golpes, como clonagem de WhatsApp, envio de falsos boletos, empréstimos fraudulentos e falsos leilões.
— O aumento é notável em vários tipos de golpes, como no do falso motoboy, aquele em que a pessoa entrega algo, geralmente cartão, para um golpista, mas também em estelionato pela internet, por telefone. Infelizmente, é o crime do momento em Alvorada — avalia Luís Carlos Rollsing, titular da 2ª Delegacia de Polícia do município.
Enganada na porta de casa
No ano passado, assim como ocorreu no Estado, Alvorada já havia apresentado salto de 168% no número de estelionatos, de 389 casos para 1.046. Em dezembro, uma moradora do bairro Fontoura foi enganada na porta de casa. A idosa, de 63 anos, estava se preparando para servir o almoço, quando ouviu alguém batendo palmas. Saiu para a rua, acompanhada da nora, e deparou com uma vendedora de lençóis. A golpista disse que as roupas de cama estavam em promoção: quatro por R$ 150.
— Ela insistiu bastante. Achei que, pelo valor, valia a pena — recorda a idosa, que também quis ter a identidade preservada.
A vítima resolveu fazer o pagamento no cartão de crédito, mas, no momento de finalizar a compra, a estelionatária passou a alegar que a máquina estava com problemas. Ela pediu que a idosa repetisse a senha três vezes. Somente três dias depois, a mulher descobriu que havia sido enganada.
— Ela passou uma compra no valor de R$ 3 mil, que foi aprovada, uma segunda no valor de R$ 150, que também foi aprovada. Por fim ela tentou passar uma terceira vez no valor de R$ 3.250 que foi recusada — relembra a idosa.
A vítima procurou a Polícia Civil e registrou o caso, que está sob investigação. Ela conseguiu estornar o valor do pagamento com a instituição financeira responsável pelo cartão. Esse tipo de trapaça, segundo a polícia, é conhecido como o golpe dos vendedores de panelas ou de roupas de cama.
O tipo de produto oferecido pelo estelionatário pode variar, mas a finalidade é a mesma: oferecer itens a preços atrativos para fisgar a vítima. O golpista sempre finge ter problema na internet e consegue fazer a pessoa repetir a senha, aprovando mais de um pagamento.
— Em compras de R$ 50, eles passam R$ 500, por exemplo. Existem casos em que eles passaram valores 10 vezes maiores do que o informado para a vítima. A pessoa acaba só se dando conta depois de um tempo — afirma o delegado Carlos Eduardo da Silva Assis, da 1ª DP de Alvorada.
Alerta
Estelionatários, em geral, costumam se aproveitar do momento para criar novas trapaças. Recentemente foi registrado um caso em Porto Alegre no qual a vítima foi enganada e, na sequência, acabou assaltada. Embora tenha sido um roubo, a forma de agir é semelhante a dos golpistas. Um casal se passou por agentes de saúde aplicando a vacina contra a covid-19 para ingressar na residência da vítima. Na casa, anunciaram o roubo, agrediram a cuidadora da idosa e fugiram com pertences. O caso levou a Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Sul (Asdep) a se manifestar, alertando as famílias para que orientem os idosos.
— A indicação é sempre pedir a identificação dos profissionais que estão atuando na vacinação e não deixar ninguém entrar na sua casa sem a devida autorização. As pessoas estão desesperadas pela vacina, e os golpistas sabem disso. É preciso orientar todos os idosos e familiares sobre como se proteger. Qualquer ação suspeita denuncie pelo telefone 181 — afirmou o presidente da Asdep, delegado Pedro Carlos Rodrigues.
A Asdep fez outro alerta ainda sobre golpes em relação ao uso do Pix pelos estelionatários para agilizar o recebimento de valores. Um dos golpes comuns que usa esse tipo de ferramenta é o de clonagem ou cópia do WhatsApp, no qual o golpista acessa a conta da vítima ou cria nova com a foto de alguém e começa a pedir dinheiro para familiares ou amigos.
— Após a transferência, o dinheiro é sacado imediatamente para que a transferência não seja anulada — explica o delegado.
Iniciativas
No ano passado, os registros de golpes mais do que dobraram no RS: de 28.340 para 64.181, num acréscimo de 126%. A mudança de hábito da população devido à pandemia do coronavírus é apontada como fator que contribuiu. O maior uso da internet, seja para comunicação, teletrabalho ou compras online, ampliou a possibilidade de atacar vítimas. O meio virtual é cenário para inúmeros tipos de trapaças.
Em contrapartida, algumas medidas foram adotadas para tentar reduzir os casos. Uma das apostas principais é na prevenção, por isso foi criado o aplicativo da Polícia Civil PC Alerta com orientações sobre os crimes mais comuns e como se proteger deles. Também houve a centralização das investigações de casos de golpes envolvendo grupos organizados na Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Deic.
Dicas para não cair
- Desconfie de promessas de recompensa ou de lucro fácil. Essa é uma forma dos golpistas atraírem as vítimas
- Não forneça seus dados pessoais para desconhecidos na internet ou por telefone
- Se alguém lhe pedir uma transferência bancária, alegando que está com problema no aplicativo, por exemplo, ligue para a pessoa antes e se certifique de que é ela mesma
- Na hora de comprar algo pela internet, desconfie se o site só aceitar pagamento por boleto ou transferência, se tiver falhas ou erros na página e se o único contato for por WhatsApp
- Se for vítima, registre o caso na polícia. É possível fazer isso por meio da Delegacia Online
- Baixe o aplicativo PC alerta da Polícia Civil, onde pode conferir os principais golpes aplicados no RS e como se proteger deles
- Alerte seus familiares sobre os principais golpes aplicados
Fonte: Polícia Civil do RS
Produção: Kênia Fialho