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Passo Fundo

Polícia prende seis suspeitos de lavagem de dinheiro após aplicarem golpe do bilhete premiado

Em 2020, investigados lesaram nove vítimas em mais de R$ 500 mil na Grande Curitiba em apenas duas semanas de atuação

13/03/2021 - 07h00min


Cid Martins
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Polícia Civil / Divulgação
Durante a operação realizada em Passo Fundo, a Polícia Civil apreendeu dinheiro e 11 veículos

A Polícia Civil prendeu na manhã desta sexta-feira (12), em Passo Fundo, norte gaúcho, seis integrantes de uma organização criminosa. Os investigados têm aplicado há anos o golpe do bilhete premiado em nove Estados brasileiros. Desta vez, também estão sendo responsabilizados por lavagem de dinheiro.

No ano passado, depois de lesarem vítimas em mais de R$ 500 mil em apenas duas semanas, na Grande Curitiba, no Paraná, os estelionatários passaram a usar a maior parte do dinheiro para comprar dólares e euros, além de fazer depósitos em contas bancárias de laranjas no Rio Grande do Sul.

O delegado Diogo Ferreira, responsável pela operação e titular da Delegacia de Repressão de Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Passo Fundo, diz que a investigação começou logo depois de agosto de 2020, quando souberam que os suspeitos haviam se instalado em cidades da Região Metropolitana de Curitiba para aplicar o golpe do bilhete. Ao todo, em apenas duas semanas, nove vítimas foram identificadas, a maioria idosos. Uma delas teve prejuízo de R$ 230 mil.

— Todos os suspeitos já foram investigados e alguns até indiciados por nós, desde a chamada Operação Pólis, de 2018, quando cumprimos 127 ordens judiciais. Desde então, temos prendido estes suspeitos que seguem agindo no Rio Grande do Sul, mas também passaram a atuar em Santa Catarina, Paraná, Paraíba, Sergipe, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo — explica Ferreira.

Somente em 10 inquéritos nos últimos três anos, mais de 250 golpistas do norte gaúcho foram indiciados, com valores passando de R$ 55 milhões em lavagem de dinheiro. Em uma das investidas contra o grupo, foi apreendido um Chevrolet Camaro. O veículo adquirido com dinheiro ilícito foi repassado pela Justiça para a Polícia Civil e nesta sexta-feira foi usado na operação policial em Passo Fundo.

Polícia Civil / Divulgação
Uma das viaturas usadas pela polícia na operação foi um Chevrolet Camaro apreendido de um dos golpistas em outra ação

Operação  

Ferreira destaca que foram cumpridos seis mandados de prisão preventiva, nove de busca e oito de sequestro de veículos em Passo Fundo e Curitiba na chamada Operação Orange X. Um dos suspeitos não estava no local investigado e foi detido dentro de um carro em estrada da região.

Um dos mandados de busca foi cumprido em hotel de Passo Fundo, onde ficava o líder da quadrilha, e outro em uma casa com piscina usada por outro integrante.

Ao todo, foram apreendidos 11 veículos — avaliados em R$ 500 mil, joias, ouro e R$ 7,2 mil, bem como algumas notas de euros e dólares. Além disso, foi solicitada a quebra do sigilo bancário de quatro contas de laranjas.

A operação contou com apoio da Polícia Civil e Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Paraná.

Polícia Civil / Divulgação
Residência em Passo Fundo onde foi cumprido um dos mandados de busca e apreensão

Lavagem de dinheiro

O Núcleo de Lavagem de Dinheiro da Draco constatou a existência de um elaborado esquema criminoso para usar os valores adquiridos com os golpes. Primeiro, o dinheiro era depositado em contas bancárias de laranjas residentes em Passo Fundo. Depois disso, era enviado para casas de câmbio em várias cidades do país para a aquisição principalmente de dólares, mas também de euros.

Em uma terceira etapa, os valores eram repassados para contas bancárias de outros laranjas, também no norte gaúcho. Por último, o dinheiro era sacado por integrantes da quadrilha, que usavam na compra de imóveis e veículos, além de uso pessoal.

— Todos os presos, apesar de usarem veículos bons e estarem em imóveis de alto padrão, não exercem atividades lícitas. O crime é o meio de vida desses indivíduos que citam aos quatro cantos que não precisam nem pretendem trabalhar licitamente — diz Ferreira.

Escutas telefônicas 

A Justiça autorizou a divulgação de algumas escutas telefônicas. Em um dos trechos, em uma conversa ente golpista e idoso que foi vítima no Paraná, os criminosos divulgam até uma música da Caixa Econômica Federal (CEF) para dar a ideia de uma situação lícita ou autorizada pelo banco. Mas tudo é simulação e, depois de ser abordada por integrantes do grupo em via pública, a vítima conversa com um suposto funcionário da CEF e repassa dados bancários para a transferência de dinheiro. 

Em outra escuta telefônica, os golpistas falam entre si para confirmar se a vítima depositou o dinheiro

Como funciona o golpe do bilhete premiado

A forma mais comum de abordagem é aquela em que um estelionatário se aproxima de uma vítima perto de bancos ou praças. Os alvos principais dos bandidos são pessoas idosas ou que aparentem boa situação financeira. O criminoso se passa por uma pessoa pobre e analfabeta, e pergunta para a vítima, inicialmente, onde fica a agência da CEF mais próxima, porque tem um bilhete premiado e precisa trocá-lo.

Em seguida, um segundo estelionatário se aproxima. Com roupas sociais, se oferece para ajudar o outro criminoso, simulando uma ligação telefônica para o banco. Na sequência, surge o terceiro criminoso, que se apresenta como funcionário da Caixa. A partir daí, há a confirmação com o telefone no viva voz, de forma que a vítima possa ouvir, dos números sorteados e do valor do falso prêmio.

O bancário informa a documentação e condições para sacar o dinheiro. Depois disso, o primeiro estelionatário - que aparenta ser pouco instruído - diz não ter documentos e pede ajuda à vítima e ao comparsa para receber o prêmio. Ele promete repartir o dinheiro com quem auxiliar, mas exige uma quantia financeira antecipada para garantir que não seja "roubado" pelas pessoas que o estão ajudando.

Seduzida pela possibilidade de receber parte do prêmio, a vítima se oferece para comprar o bilhete e é levada até uma agência bancária para sacar um valor estipulado e dar como garantia. Após a vítima entregar a quantia em espécie, os criminosos desaparecem e o golpe é concluído. Em alguns casos, a vítima até percebe que pode ser um golpe, mas é ameaçada psicologicamente pela quadrilha. 


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