Após susto
"Não posso parar de trabalhar porque fui assaltada", diz dona de mercado onde ladrão foi morto por policial militar
Caso aconteceu ao meio-dia desta quarta-feira, no bairro Santana
Um dia após o mercado ser mais uma vez alvo de criminosos no bairro Santana, em Porto Alegre, uma comerciante de 44 anos tocava novamente sua rotina na manhã desta quinta-feira (1º). Mas o susto deixou reflexos tanto na proprietária, que atua há duas décadas no ramo, quanto nos funcionários, que ficaram amedrontados.
Pouco depois do meio-dia de quarta-feira (31), dois criminosos invadiram o local e anunciaram o assalto. Um deles, que estava armado, acabou morto após um tenente-coronel da Brigada Militar, cliente do estabelecimento, reagir e atirar contra o ladrão. Um suspeito de ser o comparsa na ação foi preso.
— As contas não varar parar de chegar. Não posso parar de trabalhar porque fui assaltada — disse a comerciante, que preferiu não ser identificada na reportagem.
Esta não foi a primeira vez que o mercado que mantém na Rua São Manoel, próximo da Rua Veador Porto, foi assaltado. Pelo contrário, diz que já foi vítima dos criminosos diversas vezes, em diferentes horários do dia. Mas, em nenhuma delas, o desfecho havia sido parecido: com tiros e um morto.
A comerciante estava em uma salinha separada do mercado quando o roubo teve início. Dois assaltantes ingressaram no mercado e caminharam até o fundo da loja, fingindo interesse em adquirir algumas bebidas. Chegaram a conversar com o açougueiro e perguntar sobre os produtos. Na sequência, um deles caminhou de volta até a entrada e mostrou uma arma para a atendente no caixa. Exigiu que ela entregasse o dinheiro.
Dentro da salinha, a proprietário do mercado respondia algumas mensagens enquanto se preparava para assumir o lugar da empregada do caixa, que sairia para o almoço. Neste momento, percebeu que havia algo errado. Além da dona e dos funcionários, havia clientes na loja.
— Lá de dentro, ouvi quando ele se aproximou dela e mandou colocar algo na sacola. Olhei pelas câmeras e vi que era assalto. Dei um tempo, esperei ele se virar, para então eu sair — descreveu.
Quando o criminoso deixava o local, deparou com outro cliente que chegava ao mercado. O ladrão não sabia, mas se tratava de um policial militar, armado. Como o cliente tinha um celular na mão, o assaltante retornou atrás dele e anunciou o roubo, querendo levar o smartphone. Antes de abordá-lo, o criminoso se dirigiu a um idoso, que estava próximo ao caixa, com uma sacolinha, para ver se ele tinha algo de valor.
— Foi aí que o policial viu a brecha de reagir. Atirou nele. Quando eu saí da salinha, bem na frente do caixa, deparei com os tiros — contou a comerciante.
O ladrão tentou reagir, mas o PM se esquivou para trás das prateleiras. Baleado, ele ainda tentou escapar correndo, mas acabou caindo logo depois. Apesar do medo de novos assaltos, a proprietária diz que no momento não tem condições de implementar mais medidas de segurança. Por enquanto, vai manter somente as câmeras, que registraram o roubo.
— A gente fica bem assustado, abalado. Foi um choque. Mas todo mundo precisa trabalhar. Não posso atender pela grade. O movimento já está fraco. Pensamos até em contratar um segurança, para ficar na frente, mas nosso mercado é pequeno, não compensa. É complicado. Tem que estar sempre de olho, cuidando — disse.
Investigação
O baleado chegou a ser socorrido, mas não resistiu e morreu ainda na quarta-feira (31). O outro suspeito foi preso em flagrante pelo roubo. Ainda no local do crime, o suspeito negou que estivesse junto com o assaltante. Ele acabou preso, logo após sair do mercado.
— A prova é bastante forte. Tem imagens dele dentro do estabelecimento. E depois dele fugindo quando deu a situação toda. Todas as partes indicam ele como comparsa — afirmou o delegado Hilton Muller, que responde interinamente pela 11ª Delegacia de Polícia, responsável pela investigação.
O morto foi identificado como Marcelo Rafael Nascimento, 29 anos, e o preso como Clystenes Augusto de Souza Muttes, 27 anos. Segundo a polícia, Nascimento tinha antecedentes por crimes como assalto a estabelecimento comercial, receptação de veículo e porte ilegal de arma de fogo. Já Muttes possui passagens por roubo a estabelecimento comercial, tráfico de drogas, arrombamento e receptação de veículo.
As vítimas e testemunhas do crime foram ouvidas ainda na quarta-feira. O policial militar que atirou no assaltante também prestou depoimento. O tenente-coronel relatou que ingressava no mercado quando foi abordado por um dos ladrões. No momento em que o criminoso se aproximou de outro cliente, ele sacou a arma e disparou.
— Ele agiu em legítima defesa. Está bem claro — afirmou o delegado.