Polícia



Tentativa de resgate 

Criminosos dispararam pelo menos 148 tiros de fuzil em direção à penitenciária no Vale do Rio Pardo

Veículo blindado artesanalmente foi encontrado na tarde desta segunda-feira em Venâncio Aires

25/05/2021 - 07h00min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Susepe / Divulgação
Câmera flagrou momento em que um dos servidores vai até a frente da casa prisional e revida os disparos

Na ação que teve como alvo a Penitenciária Estadual de Venâncio Aires (Peva), no Vale do Rio Pardo, bandidos dispararam pelo menos 148 tiros de fuzil, além de 21  de pistola 9 milímetros, em direção à casa prisional. Os estojos foram recolhidos no entorno da unidade e fazem parte das provas coletadas pela investigação da Polícia Civil que tenta identificar o grupo criminoso. Na tarde desta segunda-feira (24), um veículo blindado artesanalmente foi encontrado na área rural do município.  

A EcoSport, com placas de Porto Alegre, estava abandonada em uma estrada vicinal, na altura do quilômetro 59 da RS-287, na localidade de Picada Mariante. O local fica a cerca de 10 quilômetros da casa prisional. O Grupo Rodoviário da Brigada Militar foi acionado no início da tarde e apreendeu o veículo. Um dos pontos que chama atenção é que o carro possui uma espécie de blindagem artesanal.  

— Aparentemente são placas de proteção balística, tanto na parte traseira quanto no lado do motorista e passageiro. A perícia foi acionada porque há possíveis manchas de sangue — explica o delegado Marcelo Chiara, titular da Delegacia de Polícia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Santa Cruz do Sul, que apura o caso.  

O ataque à Peva aconteceu na madrugada de domingo (23), quando criminosos invadiram uma área externa, na lateral da casa prisional, e dispararam em direção às guaritas. Para isso, romperam uma tela de contenção. Os bandidos, afugentados a tiros pelo servidores penitenciários e Brigada Militar, abandonaram dois veículos de cor prata: um Jeep Renegade, com placas de Porto Alegre, e uma Captiva, de Recife, em Pernambuco, blindada.  

Os carros, que ficaram atolados no entorno da penitenciária, não tinham registro por furto ou roubo. Ambos foram encaminhados para análise, para verificar se há sinal de adulteração, o que indicaria que podem ter sido clonados.   

Susepe / Divulgação
Bandidos usaram escudos metálicos

A polícia pretende ouvir os servidores e policiais militares nos próximos dias para ter mais detalhes da ação. Sabe-se que os bandidos dispararam dezenas de tiros em direção à Peva, com diferentes calibres como fuzil 556 e 762. Em vídeo de uma câmera de monitoramento é possível ver o momento em que um dos agentes corre até a frente da penitenciária e atira na direção dos bandidos. Nenhum policial ficou ferido na ação.  

Uma das hipóteses é de que um dos criminosos tenha sido ferido gravemente durante a troca de tiros. Isso porque uma touca-ninja com manchas de sangue e possíveis resquícios de massa encefálica foi encontrada abandonada no local. Também havia bastante sangue próximo de onde estavam os carros. O fato de um dos criminosos ter sido ferido pode ter sido, inclusive, um dos motivos que levou o bando a desistir do resgate. A polícia suspeitava que um dos bandidos pudesse acabar buscando atendimento médico, mas até o momento isso não se confirmou.  

Alvos 

A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) confirmou nesta segunda-feira que transferiu dois presos após a tentativa de resgate. Os apenados foram identificados como possíveis alvo da ação do bando. A identidade dos presos e o local para onde foram enviados não foram informados, por segurança. Ambos seriam vinculados a um grupo criminoso. A casa prisional teve a segurança reforçada e os presos seguem sob análise – não se descarta novas transferências ao longo desta semana.  

Já a Polícia Civil diz que ainda é muito cedo para apontar quem seriam os alvos da ação criminosa. A expectativa é de que as perícias possam ajudar a chegar aos nomes dos envolvidos na tentativa de resgate.   

— Destacamos a gravidade da ação, a audácia desses criminosos em atentar contra o sistema prisional. É um fato muito grave. Eles usaram munição de grosso calibre, bastante potentes. Embora a Susepe tenha feito essas transferências, neste momento ainda não podemos afirmar quem era o alvo ou os alvos. Estamos dando prioridade devido à gravidade do caso — afirmou o delegado Chiara.  

Além da munição de grosso calibre, os bandidos também estavam equipados com escudos metálicos e explosivos, que não chegaram a ser detonados. Acredita-se que a intenção era acessar a casa prisional e utilizar o explosivo para permitir a fuga. A casa prisional contava no momento da tentativa de resgate com 530 detentos – a capacidade de engenharia é para 529.   

Sindicato

O presidente do Amapergs-Sindicato, Saulo Felipe Basso dos Santos, e o vice-presidente, Cláudio Dessbesell, estiveram na Peva nesta segunda-feira. A direção da entidade destacou que, mesmo diante de dificuldades, os servidores penitenciários se envolveram na intensa troca de tiros e evitaram a fuga de presos. 

Santos afirmou que a penitenciária é uma das mais bem estruturadas do Estado, mas considera que a falta de efetivo é um dos motivos que está por trás da ação, assim como o atraso na regulamentação da Polícia Penal. O sindicato defende o incremento do número de servidores e o uso de armamentos mais pesados, já que os bandidos usavam fuzis, enquanto a Susepe portava pistolas e espingardas. 

— Agora imagina o que essas facções estão dispostas a fazer! Pensa nas casas prisionais onde a estrutura é mais precária? Por isso a importância da regulamentação da Polícia Penal. Por isso a necessidade de reforçar o efetivo, chamando os aprovados em concurso para servidores penitenciários — disse o presidente da entidade. 


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