Polícia



Estelionato

Suposta diretora de recursos humanos aplica golpe em desempregados em Porto Alegre

Falso processo seletivo teria até mesmo entrevistas por videochamada

25/05/2021 - 09h57min


GZH
Lucas Amorelli / Agencia RBS

A Polícia Civil investiga um novo tipo de estelionato que já fez pelo menos quatro vítimas em Porto Alegre. No golpe da falsa vaga de emprego uma mulher entra em contato com as vítimas se apresentando como diretora de recursos humanos de uma empresa que tem sede em Porto Alegre e em Fortaleza, no Ceará. 

Após realizar entrevistas por videochamada, a suspeita solicitaria documentos e pagamento para realizar exames admissionais. Os valores, conforme as vítimas, variavam de R$ 12 a R$ 300 e são transferidos por meio do Pix. Após a transação, a suspeita criaria algumas desculpas e não retornaria mais os contatos. Além de registrar ocorrência, as vítimas criaram um grupo no WhatsApp, atualmente com quatro integrantes, para reunir informações e organizar as denúncias.   

De acordo com relato das vítimas à polícia, quase todas da área de recursos humanos, a forma de agir da suspeita é sempre muito semelhante. Ela realizaria entrevistas por videochamada de WhatsApp e aplicaria testes, também pelo aplicativo. Os falsos processos seletivos durariam, em média, um mês. Uma das vítimas, de 34 anos, que não quis se identificar, estava desempregada desde fevereiro deste ano. A vaga de gestão de desempenho na área de RH chamou sua atenção porque parecia maravilhosa: 

— Eu iria trabalhar viajando, ela falava inclusive que já estava organizando a compra das passagens para uma viagem que seria feita assim que eu começasse a trabalhar com ela. No meu caso, eu deixei de aceitar outras propostas porque essa parecia mais promissora — relata. 

Após anunciar que a vítima havia sido selecionada para a vaga, já em março, a suposta diretora de RH solicitou R$ 230 para agendar o exame admissional: 

— Pediu cópia de todos os meus documentos e marcou o dia para a realização dos exames. Quando eu cheguei na clínica, me falaram que não havia nada marcado, que eles não trabalhavam com a empresa. Resolvi ir até o endereço em que funcionaria uma das sedes da empresa, mas chegando lá não tinha empresa nenhuma. 

Uma segunda vítima, de 32 anos, recebeu o anúncio de uma vaga por meio de um ex-colega de trabalho, no final de março. A função para a qual haveria seleção era para gestora de projetos de responsabilidade social, com ênfase em RH. Apesar de não estar procurando emprego, a vaga parecia bastante vantajosa, o que fez com que ela resolvesse tentar. 

— Entrou em contato comigo e marcamos uma entrevista pelo celular mesmo. Conversamos bastante por videochamada, foi uma entrevista bem dentro do padrão. Uma semana depois, ela me disse que eu havia sido aprovada. Eu teria que viajar para Fortaleza para fazer o mapeamento interno da sede de lá. Então foi uma mudança drástica. Fui atrás de uma pessoa para cuidar do meu filho no período em que eu estivesse viajando. Meu marido também precisou alterar algumas coisas na rotina dele, porque não temos uma rede de apoio muito grande — conta. 

Após a vítima aceitar o emprego, três semanas após o primeiro contato, a suposta diretora de RH prometeu enviar a guia para a realização do exame, mas afirmou estar com um problema no sistema e por isso não conseguiria fazer o pagamento do exame PCR. 

— Ela disse: "faz um Pix para mim que eu consigo resolver isso para ti e você se apresenta na empresa depois do exame e eu te reembolso". Achei estranho, mas como estou há três anos afastada da prática do RH, estamos no estilo home office por causa da pandemia e eu já me sentia à vontade com ela, arrisquei. Depositei R$ 183 e, depois disso, ela sumiu — relata. 

Investigação 

Em alta no Estado, em abril, os crimes de estelionato aumentaram 51,79% em comparação ao mesmo período de 2020. Em Porto Alegre, os dados demonstram que, no mês de abril, 1.322 pessoas foram vítimas de algum tipo de golpe, acréscimo de 41,08% em relação ao registrado no mesmo período de 2020. 

De acordo com o delegado Paulo Cesar Jardim, que investiga um dos casos, atualmente há mais de 50 tipos de golpes em Porto Alegre. 

— Infelizmente, os estelionatários acabam se aproveitando do momento em que as pessoas estão desesperadas atrás de emprego para lesar quem quer que seja. Quando alguém perde um documento ou é roubado muitos desses documentos podem ser utilizados para a abertura de contas. Então, dificilmente conseguimos identificar esses criminosos — explica o delegado.   

Além disso, outro fator que facilita a prática dos golpistas, de acordo com o delegado, são as ofertas vantajosas que fazem com que as vítimas não desconfiem de que podem estar caindo em algum golpe: 

— Indiscutivelmente, todas as pessoas tinham alguma vantagem. Nesse caso, é ainda mais triste porque foi dado às vítimas a esperança de uma possibilidade de trabalho. O fato de elas sentirem vergonha e não denunciarem também faz com que a ação dos suspeitos continue acontecendo — conta o delegado. 

Até o momento, nenhuma vítima foi ouvida pela polícia.


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