Polícia



Vale do Sinos

Um ano depois, morte de blogueira e namorado com quase 80 tiros em Araricá ainda é mistério

Karuel Barbosa, 25 anos, e Adair da Silva, 31 anos, foram mortos dentro da casa dele em 4 de junho

31/05/2021 - 12h47min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Karuel Barbosa mantinha perfil nas redes sociais onde divulgava produtos e mostrava como era seu cotidiano

Pelas redes sociais, Karuel Barbosa, 24 anos, despertava a atenção por ser uma jovem bonita e espontânea. Acumulava mais de 70 mil seguidores no Instagram, onde divulgava sua rotina, produtos e fotos dos trabalhos como modelo. Na casa humilde que vivia com os pais em Campo Bom, no Vale do Sinos, decorava o quarto com fotos e bichinhos de pelúcia. O cômodo de paredes lilás de onde ela saiu na noite de 4 de junho para encontrar o namorado, Adair Silva, 31 anos, permanece intacto. A morte do casal, executado com dezenas de tiros em Araricá, completa um ano, sem respostas.  

Karuel era a única filha de Isabel Felix, 42 anos, com o marido, Vilson Barbosa, 57. Nos últimos 12 meses, os pais se dividem entre idas à polícia e ao cemitério. Em acompanhamento psicológico e tratamento psiquiátrico, Isabel pouco sai de casa. Só deixa a residência para ir até o túmulo da filha. Já Vilson costuma ir rotineiramente à Polícia Civil, onde procura pelo desfecho do caso. Até hoje, não tem certeza sobre como se deu a morte da filha e do genro – os dois namoravam havia cerca de três anos.  

– É muito difícil. Vivemos nessa agonia, ansiosos. O que dói mais é não ter um resultado. Tantos casos aconteceram depois do dela e já foram solucionados. Se ao menos soubéssemos quem foi, por qual motivo, dava um alívio. Vamos continuar sofrendo pela perda. Mas pelo menos teríamos alguma resposta. Agora não sabemos, eles podem estar por aí, na rua, passando do nosso lado. Dizem que era para ele (Adair), que ela estava no lugar errado, na hora errada – diz o pai.  

No início da investigação, a Polícia Civil chegou a afirmar que Adair seria o alvo dos criminosos e que havia suspeita de vínculo com o tráfico de drogas – atualmente, não são divulgados detalhes do caso. A forma como se deu o crime leva a crer que foi cometido por grupo criminoso, em razão do tipo de arma empregada. Vilson acredita que a filha pode ter tentado intervir, para evitar a execução do namorado, e que, por isso, teria sido morta. Mas anseia por saber se realmente foi isso que aconteceu.

O apartamento onde estavam os namorados era a moradia de Adair. No primeiro andar do imóvel ficava a sala onde os dois jogavam videogame no sofá – o quarto ficava no andar superior. Os dois foram executados com disparos de fuzil e pistola. 

Sobre a suspeita de motivação envolvendo o tráfico, a família da jovem diz que para eles o genro trabalhava com investimentos online. Adair já havia sido preso por porte ilegal de arma de fogo.  

– Ele tinha um bom carro e o apartamentinho. Mas tinha uma vida apertada, não tinha dinheiro. As coisas do apartamento quase tudo foi ela que comprou. Ela trabalhava bastante, com propagandas, e eles ficavam um pouco melhor por isso. Então a gente não entende o motivo – afirma Vilson.  

"O sofrimento é o mesmo", desabafa o pai

A família manteve as contas da jovem ativas nas redes sociais – após o crime, o número de seguidores aumentou e surgiram, inclusive, perfis falsos. A mãe decidiu não se desfazer dos pertences da filha. Entre eles, a maleta de maquiagem que mantinha no guarda-roupas. Duas semanas antes do crime, a jovem tinha recebido o diploma de um curso profissionalizante de maquiagem. Karuel também trabalhava como manicure e garçonete.  

– Não mexemos em nada, está tudo lá. Algumas pessoas mandam pelo WhatsApp que querem comprar, mas não queremos nos desfazer. É muito complicado, sofrido. Era uma filha maravilhosa, nunca deu trabalho. O sofrimento é o mesmo, não muda nada com o tempo. Acho que isso vai ficar para toda a vida – desabafa o pai.  

"Caso está entre as nossas prioridades", diz delegado

À frente da investigação do duplo homicídio, o delegado Fernando Pires Branco não divulga detalhes da apuração. Mesmo um ano após o crime, diz acreditar que chegarão à elucidação do caso. O crime, na época, apavorou os vizinhos em razão da sequência de disparos.

Para chegar até o apartamento, pelo menos quatro criminosos pularam a grade do condomínio e arrombaram a porta. Em menos de cinco minutos, balearam as duas vítimas. Depois, fugiram em um veículo.  

– Não posso falar nada neste momento. Mas a investigação está em andamento. Não esquecemos do caso, pode ter certeza. A solução desse caso é muito importante para nós. Está entre as nossas prioridades – garante  o delegado.  

O policial diz que a investigação aguarda no momento pelo retorno de uma perícia.


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