127 vítimas
Polícia pede mais tempo para concluir investigação contra Klaus Brodbeck, médico suspeito de abuso sexual
Número grande de vítimas é a justificativa para o pedido de prorrogação; Justiça ainda não deu resposta ao pedido
A Polícia Civil pediu ao Judiciário mais tempo para concluir a investigação do caso do cirurgião plástico Klaus Brodbeck, 54, suspeito de abusar sexualmente de pacientes. Ao todo, 127 mulheres procuraram a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) para denunciar o médico. O alto número de vítimas é o que leva a polícia a pedir a prorrogação para o fim do inquérito, já que o objetivo é ouvir todas as denunciantes.
O prazo para conclusão termina nesta segunda-feira (26), tendo em vista o tempo menor para as investigações já que o suspeito se encontra preso. Klaus foi detido em 16 de julho, em Gramado, na Serra, após a namorada dele fazer ameaças às vítimas nas redes sociais.
A polícia pediu mais 30 dias para concluir a investigação. Solicitações de prorrogação são comumente aceitas pela Justiça. Ainda não houve resposta do pedido.
O número de vítimas quando o caso veio à tona, em 13 de julho de 2021, era de 12. Nos últimos 13 dias, mais de cem mulheres procuraram a polícia por meio dos canais oficiais e até mesmo pelo Instagram da delegada responsável pela investigação, Jeiselaure Rocha de Souza.
Até agora, 70 pessoas, entre vítimas e testemunhas, já foram ouvidas. A demanda de trabalho levou o Departamento dos Grupos Vulneráveis da Polícia Civil (DPGV) a ceder agentes à delegacia para reforçar a força-tarefa da investigação.
Em 2003, médico foi denunciado por pacientes
Reportagem de GZH revelou, na última sexta-feira (23), que no ano de 2003 Klaus também foi alvo de denuncias por parte de pacientes que diziam ter sido abusadas. Sete mulheres denunciaram o cirurgião naquele ano. Ele terminou indiciado por atentado violento ao pudor. Foi pedida a prisão dele, mas a solicitação foi negada pela Justiça.
Responsável pela investigação daquela época, a delegada Sílvia Coccaro acompanhou pela imprensa as novas denúncias contra o cirurgião. Para ela, não há surpresa: o relato das mulheres nos últimos dias se assemelham com os de vítimas que ouviu há quase duas décadas:
— Ele fazia como faz agora, ele passava a mão, ele passava a mão nos seios, masturbava as mulheres, fazia muita coisa quando elas estavam dormindo (sedadas). Na época, uma delas encontrou vestígios de sêmen, mas não tinha como provar que era dele. Eram coisas bem sérias.
À frente da investigação atual, a delegada Jeiselaure Rocha analisou o inquérito antigo para se inteirar dos fatos. Para ela, está claro que o caso antigo mostra que a "conduta lasciva, que ultrapassa e muito a boa relação entre médico e paciente" ocorre "há muito tempo".
— Temos aí um conjunto probatório bem significativo no sentido de um padrão de conduta, um modus operandi do médico. São relatos impressionantemente semelhantes. O relato das vítimas de 2000 e 2003 são muito semelhantes com o das vítimas de 2020 e 2021. Ao longo desses anos, temos essas condutas reiteradas que vieram sendo praticadas de forma sequencial contra diversas mulheres. Isso está cabalmente provado — complementou Jeiselaure.
Absolvido 15 vezes
Conforme documento obtido por GZH, o médico foi alvo de 23 sindicâncias ou processos ético-profissionais abertos no Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremers) nos últimos 20 anos. Em pelo menos 15 desses casos, foi absolvido ou teve as denúncias arquivadas. Os motivos que geraram as procedimentos não foram revelados pelo Cremers, que também não confirmou a existência desses processos junto à entidade.
Em duas oportunidades, Klaus teve o registro cassado pela entidade, mas as decisões foram revertidas no Conselho Federal de Medicina (CFM).
Posição da defesa
O advogado de Klaus, Gustavo Nagelstein, afirma que o cliente é inocente e que a defesa tem conhecimento de apenas cinco ou seis vítimas.
Como fazer denúncias
A Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher da Capital pode ser contatada pelos telefones (51) 98402-2495/98682-9585 ou pelo WhatsApp da Polícia Civil: (51) 98444-0606.