Investigação
Polícia Civil e Exército fazem ação contra venda ilegal de munições em Porto Alegre
Suspeitas recaem sobre loja que comercializa armamentos. Um dos investigados é sargento temporário do Exército
A suspeita de que uma loja adulterou as notas fiscais de munições comercializadas, para justificar a venda ilegal de projéteis para criminosos, levou a Polícia Civil a desencadear na manhã desta quinta-feira (26) uma operação em Porto Alegre. A ação, realizada pela 2ª Delegacia de Polícia (bairro Menino Deus), conta com colaboração de militares das Forças Armadas, já que um dos investigados pelos desvios é sargento temporário do Exército.
A desconfiança é de que no mínimo 3 mil munições tenham sido vendidas ilegalmente.
Tudo começou em 22 de janeiro, quando uma mulher ligada à facção Bala na Cara foi presa em Caxias do Sul portando 550 projéteis de diversos calibres. Ela foi abordada pela Brigada Militar quando conduzia um veículo do modelo C3.
Na inspeção, foram localizadas 265 gramas de crack, 500 gramas de cocaína, 2,4 quilos de maconha, além da munição. Também foram apreendidos um celular e duas balanças de precisão.
A munição foi rastreada pelo Exército, que descobriu que um dos lotes tinha sido vendido pela loja da Capital. A Polícia Civil foi avisada em maio, e funcionários do estabelecimento comercial começaram a ser monitorados pela 2ª DP de Porto Alegre — responsável por investigações na região onde a loja está situada.
Um dos que trabalha na loja é um sargento temporário do Exército, cujo período como militar já deveria ter sido encerrado, mas que alegou problemas de saúde e conseguiu permanecer nas Forças Armadas, constatou a investigação conjunta feita por militares e policiais civis. Ele também é instrutor de tiro.
A loja funciona há décadas. Clientes do estabelecimento foram ouvidos pela Polícia Civil e confirmaram que algumas notas fiscais de compra de munição, tiradas nos nomes deles, foram alteradas.
— O atirador esportivo comprava 20 munições e a nota, por algum motivo, saía como se tivessem sido adquiridos 420 projéteis — ilustra a delegada Ana Caruso, responsável pelas investigações.
Uma funcionária da loja também é suspeita. Em mensagem de WhatsApp, ela pede a um cliente que confirme a compra de 120 munições. O atirador desconfia e se recusa a confirmar:
"Mas eu não comprei 120, comprei 20. Foi isso que passei para o sargento, mandei a nota para ele", enfatiza o cliente da loja.
A vendedora diz que isso é necessário "para um ajuste de estoque". O cliente rebate: "É, mas não às minhas custas. Sinto muito".
A vendedora insiste e diz que "eles podem fechar a loja". O cliente não responde mais.
Com base nisso, a Polícia Civil conseguiu ordens judiciais de busca e apreensão para diversos endereços do proprietário da loja, da vendedora e do militar temporário. O Exército realizou as buscas também.
O objetivo, diz a delegada, é verificar como as munições foram parar com a integrante de uma das maiores facções criminosas do Rio Grande do Sul. GZH não publica o nome da loja e dos investigados porque eles não foram presos e nem indiciados no inquérito.