Crime organizado
Extorsão a donos de revendas está por trás de execução e ataque com tiros de fuzil no Vale do Paranhana
Morte de jovem de 18 anos é investigada pela Polícia Civil
De dentro de um veículo preto, descem três homens encapuzados, com fardas militares e pelo menos um fuzil. Um jovem também desembarca, e é empurrado na direção do portão de uma revenda de carros. De costas, antes de se dar conta do que está prestes a acontecer, é alvejado por uma sequência de disparos e tomba morto.
Logo depois, os mesmos criminosos atiram dezenas de vezes em direção ao pátio, perfurando automóveis estacionados. Foram contabilizados pelo menos 40 disparos. A cena foi registrada na noite da última terça-feira (12), em Taquara, no Vale do Paranhana, e é o retrato da intimidação que criminosos vêm tentando impor a empresários da região.
Embora o caso tenha acontecido nesta semana, esse tipo de tentativa de extorsão é monitorado pela Polícia Civil há mais tempo no município. Em setembro e outubro, agentes conseguiram prender seis suspeitos de fazerem ameaças aos comerciantes e empresários em nome uma facção criminosa. Os bandidos exigem quantias em dinheiro para realizar a segurança do local e cobrar dívidas. Os valores exigidos variam, mas há casos em que são cobrados R$ 500 semanais.
— O empresário dono dessa revenda já vinha sendo ameaçado por esses criminosos, que usam o telefone, se dizem da facção e oferecem proteção e auxílio para comerciantes, donos de revendas. O morto não tem qualquer vínculo com a revenda. Eles aproveitaram a oportunidade para intimidar – explica o delegado Heliomar Franco, responsável pela delegacia regional.
Em setembro, durante investigação por suspeita de extorsão e formação de organização criminosa, foram apreendidos diversos armamentos na cidade e quatro suspeitos foram presos – dois com prisão preventiva, um com temporária e um em flagrante.
A polícia já havia identificado casos de bandidos, vinculados a uma facção, que vinham fazendo ameaças a comerciantes e suas famílias. Foram apreendidos dois revólveres, cinco pistolas (duas de calibre 9 milímetros e três de calibre 380), um fuzil calibre 556 e uma espingarda calibre 12. Veículos também foram apreendidos e quase R$ 5 mil foi apreendido.
Dias depois, um casal também foi preso na mesma investigação. Segundo a apuração da polícia, seriam os responsáveis por fazer o recolhimento do dinheiro de proprietários de revendas na cidade. Comerciantes, que se negaram a fazer o pagamento aos bandidos, procuraram a polícia e denunciaram o que estava acontecendo.
Os presos, que estavam com uma quantia em dinheiro, foram reconhecidos pelas vítimas. A investigação apontou que o grupo criminoso ameaçava, inclusive, colocar fogo nos comércios caso os pagamentos não fossem realizados.
O episódio da última terça-feira às margens da RS-239 demonstra que os criminosos seguem agindo na tentativa de intimidar os comerciantes. Para a polícia, a escolha do local onde se deu a execução não foi aleatória. O crime foi registrado por imagens de câmeras de segurança. Foram usadas três armas, sendo pelo menos um fuzil calibre 556 e uma pistola calibre .40.
— Esse caso é prioridade na delegacia de Taquara. Na quarta-feira (15), nos reunimos para decidir ações. Estamos trabalhando com muita força para combater isso, integrados com a Brigada Militar, inclusive — afirma o delegado Franco.
Após o episódio, a revenda permaneceu fechada na quarta-feira. Nesta quinta-feira (14), GZH fez contato com o local, mas não obteve retorno até o momento.
Estelionato
Outra modalidade que também envolve extorsão de comerciantes e empresários já foi identificada na região, segundo o delegado. Nesse tipo de delito, estelionatários se aproveitam da presença do crime organizado nas comunidades para entrarem em contato com as vítimas, identificando-se como membros de uma facção, para exigir dinheiro.
— Essas facções realmente migraram para o Interior e vêm diversificando os métodos. E esses golpistas aproveitam, pegam carona e começam a ligar indiscriminadamente para empresários para pedir dinheiro — detalha Franco.
Nesses casos, conforme o delegado, a maioria dos autores é de fora do Estado.
A investigação
A suspeita da Polícia Civil é de que Kevyn Alcides, 18 anos, tenha sido assassinado em razão de desavenças vinculadas ao tráfico de drogas. Quando chega no local da execução, o rapaz não parece se dar conta do que vai acontecer. Se aproxima do portão da revenda e faz menção de bater palmas, como se fosse chamar alguém, e então é alvejado.
— Pelo que apuramos até agora, houve alguma diferença, desacerto entre eles, e acabou sendo executado neste local — diz o delegado.
A investigação busca descobrir com quem ele manteve contatos nos últimos dias. O corpo do rapaz foi velado no Cemitério São João Batista, de Parobé, e sepultado na manhã desta quinta-feira, no Cemitério Morro do Pinhal.