Maus-tratos
Homem confessa à polícia que adotava gatos pela internet para depois matar os animais no noroeste do RS
Suspeito citou pelo menos dois casos em Jóia e Ijuí, mas ativistas reúnem evidências de pelo menos 30 fatos na região
A Polícia Civil de Jóia, no noroeste gaúcho, investiga duas ocorrências de crueldade contra animais domésticos, basicamente gatos, que pode chegar a mais de 30 casos na região. Um homem prestou depoimento nesta semana e confessou que adotava animais de estimação pelas redes sociais para depois agredir e estrangular os bichos até a morte. Apesar da nova lei federal dos maus-tratos, que prevê prisão e pena de reclusão de até cinco anos, ele responde pelos fatos em liberdade porque não houve flagrante.
Um grupo de ativistas foi criado no Noroeste e reuniu evidências de pelo menos 30 casos de gatos que desapareceram neste ano e, em todos os fatos, o mesmo homem foi quem realizou as adoções. Apenas um dos animais sobreviveu, o gato Sargento, que ele devolveu com patas e dentes quebrados três dias depois de ter adotado, alegando que houve uma queda de escada. Essa situação foi usada pelo grupo para denunciar o criminoso.
Segundo o delegado Ricardo Miron, da Delegacia Regional de Ijuí, um morador da região prestou depoimento após a polícia receber denúncia de maus-tratos. Além de confessar a agressão ao gato Sargento, ele disse que havia estrangulado outro gato que era de Jóia.
Assim como foi repassado aos agentes, ele destacou, em depoimento, que adotava os animais pelas redes sociais, principalmente Facebook, para depois executá-los, mas antes disso, agredia, quebrando patas e dentes. As adoções eram feitas tanto com pessoas que criavam gatos em suas casas quanto em entidades de proteção.
Miron diz que o investigado responde criminalmente pelos fatos, que está entrando em contato com várias delegacias da região para saber se houve outras denúncias e pede para que as pessoas façam registro pelo site da Polícia Civil ou liguem para o telefone 181.
— O inquérito apura principalmente casos de felinos machucados ou mortos. Agora, depois de ouvir o suspeito, estamos verificando se confirma em Ijuí, depois dele ter também confessado crime em Jóia. A investigação continua e, por enquanto, não temos outros casos confirmados — diz Miron.
No momento da abordagem policial, na residência do criminoso, um filhote de gato foi apreendido. O animal não estava machucado e foi encaminhado para tratamento e adoção.
Ativistas desconfiaram
O caso investigado pela polícia, que pode ter muito mais vítimas, veio à tona a partir de agosto deste ano. Ativistas da região noroeste gaúcha passaram a desconfiar de alguns pedidos de adoção em que entravam em contato para saber como estavam os animais encaminhados por eles e não tinham respostas. Logo depois disso, o mesmo homem que depôs na delegacia de Jóia nesta semana devolveu um gato três dias após ter adotado de uma organização não-governamental (ONG) de Santo Ângelo, também na região.
Ele alegou a uma das entidades que o animal havia caído de uma escada. O gato estava com patas e dentes quebrados. Vários ativistas fizeram uma vaquinha e pagaram R$ 2,5 mil para o tratamento do gato Sargento, que tem cerca de cinco anos e que havia sido recolhido meses antes, assim como tratado, por uma entidade de proteção animal. Ele segue em recuperação em Santo Ângelo, com vários pinos nas patas.
A ativista Roséli Marasca, integrante de uma ONG na cidade, foi uma das primeiras pessoas a desconfiar do fato e reuniu evidências, além de participar da criação de um grupo que apurou mais de 30 casos de adoção de gatos na região nos últimos meses. Todos envolvem o mesmo homem e em todos eles os animais desapareceram.
— Soubemos que ele alegou que fazia essas crueldades por prazer. Não consigo imaginar uma coisa dessas. A gente se empenha tanto, luta para salvar, faz de tudo para recuperar, e vem um ser destes e faz um negócio assim, um gatinho que é tão inofensivo. Ele ainda tinha preferência por filhotes e gatos mansos e não sabemos o motivo, até por siameses — ressalta Roséli.
Dossiê
Houve denúncias em Catuípe, Cruz Alta, Entre-Ijuís, Santo Augusto, Santo Ângelo, Jóia, Ijuí e até em Santa Maria, na região Central, entre outras cidades. O delegado Miron já tem informações iniciais de que o caso de Santa Maria pode estar ligado ao mesmo investigado. Além de procurar a polícia, o grupo de ativistas tem uma advogada que está finalizando um dossiê sobre o caso para ingressar com uma representação judicial contra o criminoso.
A polícia não divulgou o nome do homem que confessou matar os gatos que adotava porque a investigação continua, contudo revelou que ele e da cidade de Coronel Barros, no noroeste, próxima de Ijuí. Miron diz que os motivos, a partir do que foi apurado até agora, são fúteis e sem nenhuma razão aparente, não descartando problemas psicológicos.
Roséli alerta que, quem oferecer um animal para adoção, não faça um simples descarte, mas procure conhecer a pessoa que vai adotar, o local onde o animal vai ficar e que faça um termo de adoção, além de manter contato para saber como está o bichinho.
Em um ano, após a nova lei de maus-tratos a animais de estimação, o Rio Grande do Sul registrou um caso de crueldade contra cães e gatos por hora.