Indicadores de criminalidade
Homicídios e latrocínios apresentam aumento em setembro no RS
Já roubos de veículo tiveram queda, segundo dados divulgados nesta sexta-feira pela Secretaria da Segurança Pública (SSP)
Um dos casos que causou comoção nas últimas semanas, a morte de Cristiane da Costa dos Santos, 20 anos, durante assalto numa parada de ônibus na zona sul de Porto Alegre, marca o crescimento de 50% nos latrocínios no mês de setembro no RS. O assassinato da jovem num roubo de celular foi o sexto ocorrido no mês — no mesmo período do ano passado foram quatro. Assim como os roubos com morte, os homicídios apresentaram aumento de 12%. Em contrapartida, os roubos de veículos caíram 27%. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (15) pela Secretaria da Segurança Pública do Estado.
Metade dos latrocínios registrados em setembro no Estado aconteceu em Porto Alegre. Além do caso da jovem, também foram mortos um taxista e o caseiro de uma propriedade. No ano passado, a Capital não teve nenhum roubo com morte em setembro. A cidade, inclusive, já ultrapassou o total de roubos com morte registrado em todo 2020 – foram 10 casos e, neste ano, já são 15. Os demais foram em Bento Gonçalves, Carazinho e Sapucaia do Sul (confira detalhes abaixo).
No caso de Cristiane, a morte se deu durante um roubo a pedestre, no qual o objetivo era levar celulares de pessoas que estavam na parada de ônibus. No mês de setembro, segundo a SSP, os assaltos a pedestres tiveram ligeira redução na Capital, de 2.490 em setembro para 2.477 neste ano. Ainda assim, não foi possível evitar a morte da jovem, que economizava dinheiro para poder voltar a cursar a faculdade de Jornalismo. Além do caso dela, aconteceram dois latrocínios durante assaltos a moradias, dois em roubos a taxistas e um no ataque a um estabelecimento comercial.
Diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, a delegada Adriana Regina da Costa afirma que a polícia vem intensificando as ações de prevenção e investigação de casos que podem resultar num desfecho trágico como esse. Seja nos ataques a pedestres, como nos roubos a residências, comércios ou veículos. No fim do mês passado, um suspeito de nove assaltos a pedestres, com violência, foi preso na Capital.
— Ao longo de setembro, conseguimos realizar prisões importantes de indivíduos suspeitos de envolvimento em séries de assaltos a pedestres e também a comércio, o que é importante para evitar o cometimento de crimes com potencial para se tornarem latrocínios. É fundamental que os cidadãos registrem ocorrência em todos os casos, mesmo que o bem subtraído não seja de grande valor ou estima, pois são essas informações que nos auxiliam a qualificar as apurações e também o policiamento preventivo — afirma a delegada.
Mudança no perfil dos homicídios
Com 125 vítimas de homicídio, o RS teve 14 mortos a mais do que em setembro do ano passado, quando foram 111. O mesmo cenário é percebido na Capital, que teve 16 vítimas, três a mais do que no mesmo período de 2020. Na análise da SSP, o fato de que setembro de 2020 foi o período em que o Estado atingiu menor marca de homicídios torna mais difícil manter os indicadores em baixa.
— Ao alcançar as reduções inéditas que obtivemos ao longo dos últimos dois anos, temos presente que fica cada vez maior o desafio de seguirmos diminuindo os crimes para níveis ainda menores, como se viu agora frente a esse recorde histórico de setembro do ano passado. Mas seguimos trabalhando forte nessa missão e já podemos dizer que, nessa primeira quinzena de outubro, retomamos a tendência de queda verificada ao longo de todo o ano — afirma o vice-governador e titular da SSP, Ranolfo Vieira Júnior.
Diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a delegada Vanessa Pitrez aponta alteração de perfil de parte das vítimas de assassinatos, com maior incidência de casos envolvendo conflitos familiares e desavenças, por exemplo. No entendimento da delegada, diferentemente dos casos que envolvem o crime organizado, esse tipo de delito é mais difícil de ser evitado.
— A ação preventiva nesse tipo de crime fica praticamente impossibilitada, diferentemente das estratégias que traçamos, por meio do RS Seguro, para antecipar movimentos relacionados a conflitos do tráfico e outros delitos. De qualquer forma, seguimos com empenho total nas investigações de todos esses fatos e temos excelentes resultados. Nossa média gira em torno de 70% de elucidação — afirma a delegada.
Na avaliação do subcomante-geral da BM, coronel Cláudio dos Santos Feoli a presença da BM em pontos estratégicos é fundamental para controlar ações criminosas como latrocínio. Argumenta, porém, que nenhum órgão policial tem controle sobre a violência que os bandidos podem exercer sobre as vítimas:
— Um exemplo é o que aconteceu com a Cristiane (da Costa dos Santos) que por ter ficado nervosa no momento do roubo, o que é plenamente plausível, foi baleada. Tem uma questão subjetiva.
O coronel afirma que BM tem intensificado abordagens e faz governança com a gestão de resultados. Reuniões quinzenas com 16 comandos regionais discutem dados locais e informações de inteligência para direcionais recursos e comandos especializados —rodoviário, ambiental, chope e aviação — para áreas mais sensíveis.
A respeito do aumento dos homicídios, o subcomandante já considerava que seria mais desafiador seguir reduzindo assassinatos no mês de setembro de 2021, sendo que em igual período de 2020, foi registrada a maior redução desde 2009:
— Já tínhamos essa certeza, no começo de setembro, que seria difícil manter esse patamar, mas seguimos com trabalho de realocação de recursos e horas extras.
Crime organizado
Na análise do cientista social Charles Kieling, que estuda o crime organizado no Estado, os conflitos entre grupos criminosos impactam diretamente nos indicadores, tanto nos homicídios quanto nos latrocínios. Um dos fatores que teria impactado seria os conflitos entre os grupos por questões financeiras, envolvendo outros crimes, para além do tráfico de drogas.
— As facções passaram a investir em estelionatos, extorsões, entre outros crimes, que fez os lucros aumentarem. Isso começou também a gerar mais conflitos dentro e entre os grupos, que antes viviam momento de coalizão. As duas maiores facções do Estado começaram a se reorganizar territorialmente. Isso gera conflitos, mortes. Já prevíamos o aumento dos homicídios. A maioria das mortes ainda envolve as facções criminosas. Quando eles param de se matar, isso impacta nos números e caem vertiginosamente os indicadores. Na medida em que as facções voltam a conflitar, temos tendência de alta — afirma.
Outro cenário percebido, segundo o cientista social, indica que parte dos jovens que integravam esses grupos criminosos têm se desligado das facções e passado a agir por conta própria, de maneira violenta, desencadeando assaltos, homicídios e latrocínios.
— Muitos desses jovens que integravam esses grupos começaram a perceber que podem agir sozinhos, no estelionato, por exemplo. E em outros crimes. Quando esse jovem, que não se submete a controle algum, e está inclusive ameaçado por esse grupo do qual fez parte, passa a agir, começa a ter mais mortes. O roubo a pedestre se torna latrocínio, e assim por diante — analisa.
Feminicídios
Os assassinatos de mulheres em contexto de gênero, que tiveram aumento significativo nos meses de julho e agosto no Estado, em setembro se mantiveram estáveis. Foram cinco casos registrados, assim como no mesmo período do ano passado. Ações vem sendo realizadas para tentar coibir esse tipo de crime contra mulheres. Incentivar às vítimas a denunciarem seus agressores, buscando ajuda das autoridades, é a principal estratégia como forma de evitar que mais mulheres sejam assassinadas por esse motivo.
Canais são disponibilizados para receber informações anônimas, como o Disque Denúncia 181, o Denúncia Digital 181, no site da SSP, e o WhatsApp da Polícia Civil (51 – 98444-0606), que recebe mensagens 24 horas, sem a necessidade de se identificar. Além disso, há também a Delegacia Online neste link.
Roubos de veículos caem 27%
O roubo de veículos teve nova redução em setembro, com menor número de registros para o mês de toda a série histórica de contabilização, desde 2002. Foram 365 casos, o que representa queda de 27% em comparação com os 501 do mesmo período do ano passado.
— Mês após mês aprofundamos a queda nos roubos de veículos, crime que impacta diretamente o cidadão, com trabalho de inteligência, integração das forças na troca de informações e investimento em tecnologia especializada — afirma o vice-governador.
A Capital foi responsável por mais da metade (54%) da redução de roubos de veículos em setembro. Dos 136 casos a menos, 74 deixaram de acontecer em Porto Alegre. Os registros na cidade baixaram de 211 para 137 – queda de 35,1%. O uso do videomonitoramento e a Força Tarefa de Desmanches estão entre os motivos apontado pela SSP como essenciais para a redução obtida nesse indicador.
Os seis latrocínios no RS
Os quatro latrocínios de setembro do ano passado no Estado aconteceram em Gramado, Ibirubá, Rio Grande e Venâncio Aires. Confira onde foram os casos de setembro deste ano:
23 de setembro – Porto Alegre
Cristiane da Costa dos Santos, 20 anos, foi morta com um tiro no peito durante assalto na zona sul da Capital. A jovem, que trabalhava no BarraShoppingSul, estava na parada de ônibus, na Avenida Chuí, no bairro Cristal, quando dois assaltantes chegaram ao local. Os bandidos começaram a recolher celulares. Um deles teria gritado com Cristiane, pouco antes de disparar contra o peito dela. A suspeita é de que a jovem tenha se atrapalhado ou hesitado ao entregar o aparelho. Três suspeitos de envolvimento no caso foram presos pela polícia. Dois deles são apontados como os autores do assalto e uma mulher como a condutora do veículo usado no crime.
18 de setembro – Carazinho
Fernando Schmitt, 41 anos, taxista morador de Carazinho, no norte do RS, foi morto durante assalto. O corpo do motorista foi arremessado de uma ponte na área rural do município e encontrado dias depois, durante buscas realizadas pelos bombeiros. O táxi foi abandonado logo após o crime na área central da cidade. Três suspeitos de terem cometido o crime foram presos pela polícia.
15 de setembro – Sapucaia do Sul
O dono de um minimercado foi morto com um disparo na cabeça durante um assalto. A vítima, de 61 anos, teria reagido ao roubo, após criminosos invadirem seu estabelecimento, no início da manhã, no bairro Vargas. Cerca de duas horas depois do crime, um homem de 21 anos e uma mulher de 30 anos foram presos por suspeita de serem os autores do crime. O crime foi registrado por imagens de câmeras de segurança.
13 de setembro – Porto Alegre
O taxista Gilberto Bof, 72 anos, foi assassinado com dois tiros na cabeça, enquanto atendia a uma corrida. O crime aconteceu no bairro Cavalhada, também na zona sul de Porto Alegre. A suspeita da polícia é que o criminoso tenha embarcado no táxi como um passageiro e, ao longo do trajeto, anunciado o assalto. Foram roubados dois celulares, cartões bancários, um estepe e uma caixa de ferramentas. O táxi chegou a ser levado, mas foi abandonado horas depois, no bairro Santa Teresa. Um suspeito, identificado pela investigação da Polícia Civil, teve prisão temporária decretada e é procurado.
11 de setembro – Bento Gonçalves
O advogado Roberto Fortunato Dall'Agnol, 48 anos, foi morto dentro da residência dele em Bento Gonçalves, na Serra. Três criminosos invadiram a casa, no bairro Conceição, e renderam o advogado e a esposa. Daalgnol foi morto com um tiro na cabeça. Os bandidos fugiram levando celulares e joias. A esposa relatou à polícia que os criminosos teriam exigido dinheiro e, nervoso, o advogado teria passado a senha errada do celular para acessar os aplicativos bancários. Neste momento, teria sido assassinado.
11 de setembro – Porto Alegre
Mario Fernando Camargo Fraga, 59 anos, caseiro de uma propriedade rural no bairro Restinga, no extremo-sul da Capital, foi morto com disparo de arma de fogo. A vítima foi encontrada sem vida no dia 11, mas a polícia suspeita que o crime possa ter acontecido antes. A propriedade, que é afastada de outras residências, fica na Avenida João Antônio da Silveira. Duas televisões, um celular, e a carteira do caseiro foram roubados. O caso ainda está sob investigação da Polícia Civil.
Prevenção
Confira algumas orientações para tentar evitar roubos ou como agir, caso seja alvo de criminosos:
No veículo
- Evite parar o carro em locais escuros e sem movimento. Nestas áreas há maior chance de ser surpreendido por assaltantes. Opte por lugares bem iluminados e movimentados
- Ao estacionar ou parar em cruzamentos, principalmente durante a noite, observe pessoas suspeitas nas proximidades
- Evite ficar dentro do veículo quando ele estiver estacionado ou mesmo próximo dele. O ideal é trancar o carro e se afastar
- Se suspeitar de algo, ao se aproximar de casa, por exemplo, dê a volta na quadra para verificar se há pessoas em atitudes suspeitas
- Se for abordado, não acelere, tentando escapar
Na rua
- Evite andar com fones de ouvido, uma vez que você pode não perceber a aproximação do criminoso
- Mantenha celulares e outros objetos de valor guardados. O criminoso escolhe o alvo mais fácil
- Não carregue todos seus pertences, como cartões e documentos, se não houver necessidade
- Evite andar sozinho, especialmente à noite, em locais pouco movimentados
- Se perceber que está sendo seguido, altere o caminho. Tente pedir ajuda e se abrigar em algum local que esteja aberto, como estabelecimento comercial
No comércio
- Instale equipamentos de segurança, como câmeras em pontos estratégicos
- Oriente seus funcionários para que estejam atentos e não reajam
- Não exponha ou conte valores em dinheiro na frente de clientes
- Evite manter uma rotina, como ir ao banco no mesmo horário, por exemplo
Em casa
- Instale sistemas de segurança, como câmeras e alarmes
- Mantenha a porta da garagem sempre fechada
- Ao sair ou retornar, observe nas proximidades. Se perceber algo estranho, não entre
- Não fique parado em frente à residência, especialmente durante a noite
Se for assaltado
- A orientação de maneira geral em casos de assalto é não reagir, ainda que acredite que o criminoso não está armado. Você pode estar enganado ou ser surpreendido por um comparsa. Se possível, evite movimentos bruscos e tente manter a calma
Fonte: Polícia Civil e Brigada Militar