Polícia



Crime na Região Metropolitana

Vendedor ambulante morto após ser agredido em açougue de Alvorada faliu na pandemia e era pai de três filhos

Depois de perder agropecuária, Wagner de Oliveira Lovato, 40 anos, vendia salgados feito pela esposa na mesma avenida em que foi espancado

05/10/2021 - 08h36min

Atualizada em: 05/10/2021 - 08h38min


Jeniffer Gularte
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André Ávila / Agencia RBS
Wagner de Oliveira Lovato foi agredido na calçada do Shopping das Carnes na noite de sábado (2)

O vendedor ambulante Wagner de Oliveira Lovato, 40 anos, havia encerrado o sábado (2) de trabalho na Avenida Presidente Getúlio Vargas, em Alvorada, na Região Metropolitana, após conseguir vender todos os salgados. Com uma bolsa térmica e o valor que havia ganho no dia guardado no bolso, entrou no Shopping das Carnes por volta das 20h. Fez um comentário e ao sair foi agredido por dois homens, um deles gerente do estabelecimento. Tombou no primeiro soco. Acabou desfalecendo na rua em que sempre trabalhou e era conhecido.

A Polícia Civil apura o motivo das agressões e como a discussão começou. Dois homens estão presos. Na altura da parada 46, Wagner foi dono de uma agropecuária por seis anos. O empreendimento faliu durante a pandemia, ele chegou a trabalhar em outro estabelecimento do mesmo ramo e foi taxista. Por não ter o próprio carro, largou as corridas e passou a vender salgados e pães feitos pela esposa. Dois primos de Wagner ouvidos por GZH o descrevem como alegre, muito bem humorado, alto astral e trabalhador.

— Ele era conhecido por essas características. Fazia brincadeiras, mas era alguém que cumpria com suas responsabilidades, estava sempre junto da família. Não é alguém que chegaria e puxaria uma briga. Estamos desolados, é difícil de acreditar no que aconteceu. Passamos por uma pandemia sem perder ninguém da família e agora perdemos dessa forma desumana um ente tão querido — diz o assistente de ensino e pesquisa Everton Lovato, 27 anos.

A técnica de enfermagem e socorrista Taimanda Lovato, 22 anos, estava chegando com o pai no Shopping das Carnes no começo da noite de sábado quando viu o Samu socorrendo o primo. Não entendeu o que estava acontecendo, olhou para o chão e identificou que era Wagner:

— Queria entender se ele tinha caído no chão, se havia sido um acidente. As pessoas que estavam lá nos disseram que ele entrou para comprar carne e fez alguma reclamação do valor, algum questionamento. Não sabemos ao certo.

A família acredita que pelo perfil brincalhão de Wagner, ele pode ter feito algum questionamento com o valor da carne e não ter sido bem interpretado. Wagner nasceu em Alvorada e morava em uma rua que faz esquina com a Avenida Presidente Getúlio Vargas, no bairro Bela Vista, a cinco minutos a pé do local em que foi agredido. Vivia com a esposa e dois filhos, um de quatro anos e outro recém nascido, de dois meses. Também tinha uma filha de 21 anos e era avô.

— Ele não conseguiu se defender. No primeiro soco já caiu inconsciente no chão. Só pararam porque testemunhas se debruçaram por cima do meu primo no chão — conta Taimanda.

Depois que Wagner foi levado, populares ajudaram a recolher os potes de salgados vazios.

O vendedor chegou inconsciente ao Hospital de Alvorada. Em estado gravíssimo, foi transferido uma hora depois para o Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre. Taimanda acompanhou o primo na ambulância. Na instituição da Capital, a tomografia detectou pressão intracraniana e sangramentos fortes, o que impossibilitou a realização de cirurgia. Ainda na noite de sábado, o hospital adiantou que, nas horas seguintes, o quadro evoluiria para morte cerebral. A morte de Wagner foi confirmada às 20h deste domingo. No Cristo Redentor, entregaram à prima todo o valor que o vendedor havia conseguido no sábado de trabalho.

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Wagner de Oliveira Lovato morreu aos 40 anos

— Todos os demais órgãos estavam estáveis, morreu de morte cerebral pela pancada na cabeça. É uma brutalidade gigantesca. Como outro ser humano pode fazer isso sem motivo nenhum? Porque se é só reclamação de preço, é sem motivo. Quando estávamos saindo do açougue na ambulância, eles já estavam limpando o sangue com balde de água e continuaram trabalhando normalmente. Abriram normalmente no domingo. Todos nós moramos perto, não tem como não passar na frente — desabafa a prima.

A esposa de Wagner, Rubia Masuhin, afirmou em publicação no Facebook que seu marido foi vítima de uma "atrocidade". "Após terminar de vender seus salgados, entrou no estabelecimento para comprar carne e reclamou dos valores. O segurança em um ato desumano retirou ele a força e em frente ao estabelecimento começou a agressão. Wagner logo caiu desacordado, mas mesmo assim as agressões continuaram por parte do segurança e gerente. Nenhuma família deve sentir o que estamos passando agora", disse no post.

O Shopping das Carnes abriu na Avenida Presidente Getúlio Vargas, em Alvorada, há três meses. 

André Ávila / Agencia RBS
Shopping das Carnes com nota na fachada do estabelecimento em Alvorada

O corpo de Wagner será velado no Cemitério São Jerônimo, na Capela 2, em Alvorada, a partir das 20h desta segunda-feira (4). O sepultamento está marcado para 9h desta terça (5).

Contraponto do Shopping das Carnes

"Nós, do Shopping das Carnes, lamentamos profundamente a morte de Wagner de Oliveira Lovato, confirmada ontem, dia 3 de outubro. Estamos adotando todas as medidas possíveis para auxiliar as autoridades na apuração das responsabilidades neste ato criminoso em frente ao estabelecimento em Alvorada. O funcionário envolvido neste episódio inaceitável, que não estava em atividade de trabalho no momento do crime, foi afastado pela empresa e está sob custódia da polícia.

Desde o ocorrido, estamos buscando contato com a família da vítima para dar o suporte necessário. Compreendemos o momento de dor e de reserva e respeitamos o tempo dos familiares. Estamos à disposição para que esse diálogo aconteça. Em respeito a Wagner de Oliveira Lovato e a sua família, a loja estará fechada nesta segunda-feira (04/10).

O Shopping das Carnes abriu as portas há apenas três meses e emprega 32 funcionários instruídos a atender com respeito e atenção ao cliente. Estamos profundamente consternados com este episódio inexplicável. Não toleramos, nem admitimos, nenhum tipo de violência." 


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