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Abutres

"A gente vive um inferno, tem de ficar se escondendo", diz homem que deixou grupo de motociclistas responsável por tiroteio em Porto Alegre

Uma ação da Polícia Civil, nesta terça-feira (11), cumpriu 10 mandados de busca e apreensão em sete cidades gaúchas contra sete integrantes do agrupamento

12/01/2022 - 10h15min

Atualizada em: 12/01/2022 - 10h16min


Bruna Viesseri
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Em ação realizada nesta terça-feira, Polícia Civil cumpriu mandados contra integrantes do grupo

Um dos homens que deixou o grupo de motociclistas intitulado Abutres, responsável por um tiroteio durante um evento em novembro em Porto Alegre, revelou a GZH os cuidados que ele e demais ex-integrantes precisam incluir na rotina para se proteger de ameaças do clube do qual fizeram parte. Nesta terça-feira (11), sete homens do grupo foram alvo de uma operação da Polícia Civil, que cumpriu 10 mandados no Estado.

O homem falou sob condição de anonimato, e afirma que prefere não divulgar detalhes da época, mas relata que, do momento em que entrou no grupo até a decisão de sair, viu o comportamento de outros membros mudar drasticamente.

— Eu era um entusiasta do motociclismo. Comprei uma moto e queria viajar com mais gente. Eles te seduzem, dizem que são uma irmandade. Depois, começa a humilhação, te xingam, não te deixam falar. Cada vez que você se opõe a algo, é ameaçado, sofre uma sanção — afirma.

Um dos atos violentos cometidos pelo grupo, segundo a polícia, foi o tiroteio durante um evento de rua no bairro Santa Maria Goretti, na Capital, em novembro de 2021. No local, ao menos sete homens passaram a agredir e disparar contra outro grupo. 

A motivação seria vingança contra um homem que decidiu deixar o Abutres e integrar outro agrupamento, o que seria considerado uma traição. Seis pessoas ficaram feridas. O caso é tratado pela polícia como tentativa de homicídio. Sete pessoas são investigadas — elas não tiveram os nomes divulgados.

Conforme a investigação da 2ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre, o propósito inicial da criação do Abutres, que seria promover viagens, passeios e confraternização, foi desvirtuado por alguns membros. Segundo a apuração, determinados integrantes passaram a realizar atos violentos, como o tiroteio. A polícia afirma que são homens de classe média e média alta que têm autorização para adquirir armas, fazem ameaças e promovem brigas. A polícia destaca, no entanto, que nem todos os integrantes do grupo têm envolvimento nos atos ilícitos.

Segundo o homem ouvido pela reportagem, atos violentos contra terceiros, mesmo mulheres e moradores de rua, são incentivados por integrantes do clube. Ele afirma que deixar o grupo é tido como uma traição e que ex-membros precisam, por vezes, trocar de rotina, casa e até mesmo de cidade:

— A gente vive um inferno. Tem de ficar se escondendo, trocando de casa. Muitos têm família, esposa, filhos. Fico sempre olhando para todos os lados, porque eles colocam gente para te vigiar. Eles não têm limites.

Ação em sete cidades tem duas autuações

Uma ação da Polícia Civil, nesta terça-feira (11), cumpriu 10 mandados de busca e apreensão em sete cidades gaúchas contra integrantes do grupo de motociclistas.

Os mandados foram cumpridos em residências e estabelecimentos comerciais da Capital e de Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, Novo Hamburgo, Alvorada e Nova Santa Rita. Foram apreendidas três armas de fogo, facas, celulares e dois bastões, um deles com a palavra "motivação" escrita.

Durante a ofensiva, duas pessoas foram autuadas em flagrante, em Esteio e Nova Santa Rita, por porte ilegal de arma de fogo — a dupla está entre os sete investigados. A polícia pediu também a prisão do grupo, o que foi negado pela Justiça. O inquérito segue em andamento.


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