Nova trapaça
Golpistas invadem contas no Instagram e criam falsas vendas de móveis e eletrodomésticos
Em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, uma empresária teve rede social acessada por estelionatários, que conseguiram enganar pelo menos 10 pessoas
As redes sociais sempre foram aliadas para Ana Paula Ceolin, 32 anos, empresária de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, que trabalha com vendas online. No entanto, nesta semana, depois de ter a conta pessoal do Instagram hackeada, ela se viu em meio a um transtorno. Estelionatários fizeram anúncios falsos de móveis e eletrônicos, a preços atrativos, e conseguiram enganar seguidores da empresária para obter dinheiro. Esse tipo de trapaça, segundo a Polícia Civil, vem crescendo no Estado.
Na última segunda-feira, Ana Paula estava olhando o perfil de um spa em São Paulo no Instagram, quando recebeu uma mensagem informando que o estabelecimento estava com uma promoção. Para participar, era necessário informar nome e telefone. Como são informações que já constam em seu perfil, ela repassou os dados. Na sequência, recebeu no celular um link por SMS, que foi reencaminhado para o perfil do spa. A partir dali, ela perdeu acesso à conta pessoal (a empresária possui outras contas de lojas online, que não foram afetadas).
Até aquele momento, ela não sabia a dimensão que ter o perfil hackeado poderia tomar. Logo depois de acessarem o perfil dela, os golpistas passaram a fazer anúncios de diversos itens. Diziam que uma amiga da empresária estava se mudando para a França e que, por isso, ela estava vendendo aqueles móveis e eletrônicos.
— Não são os mesmos produtos que eu vendo, mas como as pessoas confiam em mim, viram e acreditaram. Minutos depois já começaram a me mandar mensagem. Dá um desespero, não conseguir avisar as pessoas em tempo. Comecei a disparar mensagens na lista de transmissão. Mas teve pessoas que não deu tempo. A oportunidade parecia muito boa. Meu desespero era ver as pessoas gastando dinheiro com algo que não iam receber — relata.
Pelo menos 10 pessoas procuraram a empresária e contaram terem adquirido os produtos dos anúncios falsos. Ana Paula calcula que juntos eles tiveram um prejuízo de R$ 21 mil. Alguns chegaram a encaminhar mensagem dizendo que já estavam com a casa preparada, esperando a chegada do móvel.
— Teve gente que pediu dinheiro emprestado para comprar. Isso que dói mais. A pessoa que trabalha, não tem dinheiro sobrando. Teve quem arrumou o ambiente para receber uma mercadoria que não vai chegar. Fiquei muito mal — recorda.
Por meio das outras contas do Instagram, Ana Paula passou a avisar os seguidores de que os anúncios eram falsos. Ela também registrou o golpe no site da Polícia Civil e instruiu as outras vítimas a fazerem o mesmo. A conta usada pelos golpistas é de uma agência de São Paulo.
À frente da 1ª Delegacia de Polícia de Santa Cruz do Sul, a delegada Ana Luísa Aita Pippi diz que há outros casos desse tipo em investigação no município. Ela recomenda cautela em negociações pela internet.
— Não se deve transferir valores imediatamente, sem a confirmação. Importante também atentarem para os valores ofertados pelos produtos, muito abaixo do mercado. Sinal de golpe — alerta a delegada.
Titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento de Investigações Criminais (Deic), o delegado André Anicet explica que esse tipo de golpe vem crescendo. A estratégia é semelhante a que já foi usada em outros tipos de trapaças, como a clonagem de WhatsApp ou criação de promoções falsas pelas redes sociais, e o objetivo é o mesmo: lucro fácil e rápido.
— A forma de prevenção é sempre aquela do “desconfiômetro”. Desconfie dos preços abaixo do mercado. Se alguém estiver vendendo Iphone, equipamentos eletrodomésticos, móveis, pelo Instagram, pessoas que jamais fazem isso ou raramente faziam, com preços bem abaixo do mercado, desconfie — orienta.
Vítimas
Entre aqueles que acreditaram estar fazendo um bom negócio, está o barbeiro Julian Menezes, 35 anos. Poucos minutos após as postagens, ele viu os anúncios e se interessou por dois produtos: uma cama e uma máquina de lavar. Assim que fez contato pelas mensagens do Instagram, foi respondido pelo golpista, que, fingindo ser Ana Paula, disse que iria verificar se os itens ainda estavam disponíveis.
— Foi muito convincente. Pedi para saber o tamanho da cama, me passaram. Perguntei se era possível fazer um desconto, por serem dois produtos, e ainda me fizeram desconto. Achei que nunca fosse me acontecer isso. Para mim, era ela que estava conversando comigo. Mesmo sendo no nome do Pix de outra pessoa, ela disse que era de um amigo — diz.
Logo após fazer a transferência de R$ 1,5 mil para os criminosos, o barbeiro foi alertado pela esposa que tinha visto os posts de Ana Paula nas outras contas do Instagram. Mas já era tarde. Só restou registrar o caso na polícia.
— Na hora liguei para a Ana e ela me disse: "Não me fala que fez o Pix". E eu já tinha feito. Esse seria o valor do meu IPVA, por exemplo — afirma.
Ao ver os mesmos anúncios, outra moradora de Santa Cruz do Sul, de 29 anos, que preferiu não ser identificada, também acreditou ter encontrado boa oportunidade de adquirir móveis e eletrônicos. Pela rede social, passou a negociar a compra de uma cama, geladeira, ar portátil e Iphone. Acertou que o smartphone seria pago em duas parcelas. Acabou transferindo aos golpistas cerca de R$ 5 mil.
— Não comprei nada de pessoas que não conhecia. Foi de um perfil conhecido, já tinha comprado coisas. Tinha confiança. Só fui perceber (o golpe) duas horas depois do combinado de ela entregar lá em casa. Foi um grande prejuízo. Ninguém espera. Fiquei bem mal, emotiva. É um dano psicológico, porque a gente se sente culpada. Quando consegui me recompor, fui até a Polícia civil fazer boletim de ocorrência — relata.
O que diz o Instagram
Procurado por GZH, o Instagram informou que "trabalha na implementação de recursos capazes de barrar o acesso de hackers a contas de terceiros, em campanhas educativas de identificação e prevenção a esse tipo de ataque, bem como em ferramentas e processos para a recuperação de contas da plataforma. Esse é um trabalho de aperfeiçoamento contínuo", disse a plataforma. (Abaixo confira dicas).
Como funciona o golpe
- Criminosos usam de engenharia social para capturar a conta do usuário do Instagram. Uma das formas, como a relatada pela empresária, é o envio de links, por onde conseguem redefinir a senha da conta. Outra possibilidade é pela clonagem do chip, chamada SIM swap
- Após obter o acesso, os criminosos usam fotos de produtivos atrativos e de venda fácil, como sofás, camas, hack, geladeira, smartphones, com preços abaixo do mercado
- Para justificar o pagamento em nome de terceiro, dizem que os móveis e eletrônicos pertencem a um amigo que está de mudança
- A pessoa acredita estar comprando um produto de alguém conhecido e faz a transferência ou pagamento por cartão. O produto não existe e nunca é recebido
Como se proteger
Na hora da compra
- Desconfie de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por um valor abaixo do preço de mercado
- Não adquira produtos pela internet sem antes se certificar de quem está vendendo. Mesmo que seja um perfil conhecido, só efetue o pagamento após conversar diretamente com a pessoa
- No momento do pagamento, seja por Pix ou transferência, confira se o nome do destinatário é o mesmo de quem está adquirindo o produto
A sua conta
- Caso precise divulgar seu telefone nas redes sociais, para trabalho, por exemplo, evite usar o mesmo número para habilitar a recuperação de senhas das contas
- Não clique em links desconhecidos, especialmente se não tiverem sido ativamente solicitados por você pelos caminhos oficiais de marcas ou estabelecimentos
- Não compartilhe links ou códigos de acesso recebidos por e-mail, SMS ou WhatsApp. Eles podem ser o código de acesso à sua conta
- Ative a autenticação de dois fatores: com essa etapa extra de segurança, além da sua senha, você também receberá um código de acesso novo, no dispositivo de sua preferência, que deverá ser informado todas as vezes que iniciar um login na sua conta. Para ativá-lo, vá em Configurações>Segurança>Autenticação de dois fatores
- É possível habilitar a verificação em duas etapas da sua conta no Instagram por meio de aplicativo de verificação. É possível fazer isso acessando as configurações de segurança da conta
- A plataforma também disponibiliza a visualização de e-mails enviados oficialmente pelo Instagram no próprio aplicativo, para os usuários saberem que receberam uma mensagem autêntica em seu e-mail cadastrado
- Para conferir se o Instagram tentou entrar em contato com você, acesse as Configurações, Segurança e E-mails do Instagram
- Não clique em links de e-mails que afirmam ser do Instagram se não for possível confirmar que o Instagram realmente os enviou por meio desse recurso
- Verifique se seu número de telefone e e-mail estão atualizados no aplicativo
- Jamais informe sua senha a terceiros
Fonte: Polícia Civil-RS e Instagram
Recuperação da conta
A recuperação de conta deve ser feita pelos caminhos indicados na Central de Ajuda do Instagram. Verifique se há uma mensagem do Instagram na sua conta de email.
Se você recebeu um e-mail de security@mail.instagram.com informando que seu endereço de e-mail foi alterado, poderá desfazer a ação usando a opção "reverter essa alteração" na mensagem do e-mail. Por isso é importante sempre manter seu e-mail e telefone atualizados.
Se outras informações também foram alteradas (por exemplo, sua senha) e não foi possível reverter seu endereço de e-mail, solicite um link de login ou um código de segurança ao Instagram: na tela de login, toque em "Obter ajuda para entrar".
Se não você não conseguir recuperar sua senha com o link de login, é possível solicitar o nosso suporte (toque em "Precisa de mais ajuda?").
Para recuperar a conta, será necessário um endereço de e-mail seguro, diferente do usado anteriormente, ao qual somente você tenha acesso. Depois de enviar a solicitação, você receberá um e-mail do Instagram com as próximas etapas.