Bobinas gigantes
Investigação busca descobrir o destino de carga milionária roubada de subestação em Porto Alegre
Cerca de 10 criminosos com armas, disfarces e caminhões invadiram sede de empresa na Capital e fugiram com material avaliado em R$ 1,2 milhão
Desde a última sexta-feira (11), a polícia tenta desvendar qual o destino de uma carga milionária roubada em um assalto orquestrado por grupo criminoso no bairro Praia de Belas, em Porto Alegre. Seis bobinas com condutores elétricos foram levadas de dentro de uma subestação de energia. Cerca de 10 assaltantes teriam participado da ação, que resultou no roubo dos produtos avaliados em R$ 1,2 milhão.
Para o assalto, além de um caminhão caçamba (usado para transportar a carga) e um caminhão munk (empregado para içar as bobinas), os bandidos contavam com armamentos – a maioria dos criminosos estava armada – e até com disfarces. O primeiro grupo de assaltantes que chegou ao local usava roupas muito semelhantes às dos funcionários da empresa, como forma de não levantar suspeitas dos vigilantes. Foi assim que eles conseguiram acessar inicialmente o local, depois render os guardas e permitir que os demais entrassem.
– Com certeza, foi um roubo com planejamento, e que envolveu risco muito grande, por ter acontecido perto dos batalhões da Brigada Militar (1º e 9º BPM). Eles sabiam, por exemplo, que estavam em busca de material que iria precisar de equipamento para erguer. E chegaram com esses dois caminhões, um para fazer o transporte e outro para içar – explica a delegada Marina Goltz, que responde de forma interina pela Delegacia de Repressão aos Crimes contra o Patrimônio das Concessionárias e dos Serviços Delegados.
A estação, localizada na esquina das avenidas Praia de Belas e Ipiranga, pertencia à CEEE-GT, teve o contrato de concessão arrematado pela empresa paulista MEZ Energia em 2020. Cada bobina roubada tem peso aproximado de 2,5 mil quilos, ou seja, a carga toda chega a 15 toneladas, recheada de fios de cobre.
– Estamos analisando o mercado que recebe esse tipo de produto. Com certeza é diferente do fio de cobre que é furtado de postes e tem como destino o mercado comum. Onde os destinatários que costumam receber esse tipo de material já são mais conhecidos. Quando furtam em um poste, é para vender rapidamente e adquirir drogas. Esse é um crime diferente. Não é um crime feito para essa venda imediata. É um roubo planejado – diz a delegada.
Segundo a polícia, no Estado, não há registros recentes de algum outro assalto com essas características. GZH apurou que no Paraná, no município de Manoel Ribas, uma semana antes do episódio ocorrido em Porto Alegre, houve um roubo parecido. Três criminosos renderam o vigilante, retirando seu colete balístico e arma. Os bandidos amarraram o guarda e então permitiram que mais assaltantes ingressassem no local, de onde foram roubadas 12 bobinas.
Em junho de 2020, também houve outro assalto em circunstâncias parecidas, na qual 32 bobinas foram levadas por bandidos. Daquela vez, o roubo aconteceu em Paracambi, município da região metropolitana do Rio de Janeiro. Os criminosos também usaram guindaste para erguer as bobinas e fugiram levando ainda três armas, que pertenciam aos vigilantes. Pelo menos dois suspeitos foram presos pela polícia fluminense, que afirmou que a carga teria sido levada para São Paulo.
Depoimentos
Embora evite detalhar o andamento da investigação, a delegada Marina afirma que os criminosos envolvidos no ataque precisavam ter algum conhecimento no ramo, especialmente para saberem como orquestrar o crime.
– Eram pessoas que tinham ao menos conhecimento do valor de mercado desse tipo de produto e que a empresa mantinha esse material no local – afirma a delegada.
As bobinas que foram levadas pelos assaltantes estavam armazenadas no pátio da empresa. Durante o assalto, para não chamar a atenção, além dos bandidos que já ingressaram com roupas semelhantes aos uniformes, outros se dirigiram até o vestiário para utilizar vestimentas e equipamentos de proteção dos funcionários. Foi necessário cerca de 1h40min para que eles conseguissem anunciar o roubo e concluir o carregamento.
A polícia está analisando imagens de câmeras de segurança para tentar identificar a rota feita pelos caminhões após deixarem o local. Até agora, seis pessoas já foram ouvidas pela investigação, entre elas os vigilantes rendidos pelos criminosos e outros funcionários da empresa. A investigação aguarda ainda os resultados de série de pericias realizadas dentro da empresa, para tentar encontrar vestígios deixados pelos bandidos.
Quem tiver informações que possam auxiliar com a elucidação do caso deve entrar em contato com a polícia, inclusive de forma anônima, pelo telefone 0800-510-2828.
A dinâmica do roubo
Os criminosos entraram por dois acessos, um pela Praia de Belas e outro pela Rua Edmundo Bitencourt. Em um primeiro momento, três deles chegaram na subestação e abordaram os vigilantes. As vítimas foram obrigadas a entregar o controle do portão, para que dois caminhões e o restante da quadrilha ingressassem na unidade.
Após o ingresso, os bandidos renderam mais um vigilante e dois funcionários da sala de controle. Eles usaram fitas e lacres para amarrar as cinco vítimas. Durante todo o roubo, fizeram ameaças de morte.
Os criminosos ainda foram até os armários dos funcionários e os outros seis que chegaram depois no local também vestiram uniformes. O objetivo era não chamar a atenção, já que em frente à subestação há um batalhão da Brigada Militar.
Eles usaram o caminhão munk para içar as bobinas no pátio e carregar o outro caminhão. Na fuga, levaram um colete balístico e dois revólveres dos vigilantes. As vítimas conseguiram escapar depois que os ladrões foram embora.