Força aérea do crime
Investigação da Polícia Civil rastreia 386 voos feitos por drone de facção criminosa
Piloto que manipulava e ensinava a utilizar o aparelho foi preso nesta quinta-feira em Eldorado do Sul
A Polícia Civil usou de tecnologia e ciência para combater uma das mais modernas técnicas de tráfico das facções criminosas, o uso de drones. Na manhã desta quinta-feira (17), uma central de "robôs aéreos" foi desbaratada em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana, por agentes da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos.
A captura do piloto de drone, que mantinha uma oficina de conserto e treino desses equipamentos — supostamente a serviço de uma facção criminosa —, foi feita pelos policiais também com uso de um aparelho aéreo. Os agentes vigiaram a residência do investigado, que fugiu por uma janela até um mato, onde foi localizado justamente pelas lentes do artefato da Polícia Civil.
O homem, que não teve o nome divulgado, é um condenado por roubo e receptação, que está em prisão domiciliar. Os policiais realizam ainda buscas na residência de um irmão dele, que também esteve preso, por porte ilegal de arma de fogo.
A operação que resultou na prisão preventiva do homem e em buscas residenciais realizadas em três municípios é denominada Drone Delivery, porque os aparelhos são usados para entregar mercadorias proibidas. Os policiais realizam buscas em sete locais de Eldorado do Sul, Cachoeirinha e São Jerônimo.
Entre os endereços vistoriados está uma casa de onde alguns drones decolaram para voos. Ela pertence a familiares de um apenado que acumula ocorrências por homicídio, tráfico de drogas, roubo de armas, roubo a estabelecimento bancário, roubo de veículo, roubo a residência, ameaça e dano.
A Polícia Civil descobriu que os pilotos de drones são ligados à maior facção criminosa gaúcha, que tem origem no Vale do Sinos.
A investigação da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos começou em 31 de outubro, quando PMs que faziam a guarda da Penitenciária Modulada de Charqueadas surpreenderam dois homens que utilizavam um grande drone numa mata próxima à cadeia. Um deles fugiu, e o outro foi capturado, junto com o aparelho.
Por meio de técnicas de georreferenciamento e com autorização judicial, os policiais rastrearam as coordenadas de pilotagem do aparelho. E descobriram que o drone fez 386 voos na região dos seis presídios da região de Charqueadas em 2021.
Em alguns dias, chegava a fazer 20 voos, relata o delegado André Lobo Anicet, responsável pela investigação.
— Além de introduzir drogas e celulares nos presídios, verificamos que esse drone também ultrapassou várias vezes o limite vertical de voo, que é de 120 metros de altura. Ele fez sobrevoos de presídios em até 473 metros de altitude, colocando em risco aeronaves comerciais que passam pela Região Metropolitana — alerta o delegado.
A investigação também localizou, em outros drones capturados em 2021, filmagens de lançamentos de drogas feitos no Presídio Central de Porto Alegre. E gravações de treinamentos de pilotagens feitas pelos criminosos, que pousam o aparelho em terrenos baldios da Capital. Esse tipo de estratégia foi descrito em reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI) publicada no ano passado.
Em Cachoeirinha os policiais civis encontraram, numa residência, outra oficina com mais de uma dezena de drones e aparelhos de controle. O objetivo agora é descobrir e enquadrar os presidiários que receberam as mercadorias.