Reviravolta no caso
Após desaparecimento, construtor confessa ter matado PM aposentado em Pontão, diz polícia
Dupla não era encontrada desde quarta-feira (23), e crime pode ter sido cometido em razão de um suposto desentendimento sobre a venda de uma propriedade
Uma ocorrência inicialmente registrada como desaparecimento de dois homens teve uma reviravolta e é investigada pela Polícia Civil em Tio Hugo, no norte do Estado. Após ter sido considerado desaparecido na última quarta-feira (23), junto de um policial militar aposentado, um construtor alegou, em depoimento, que teria matado o PM em legítima defesa em razão de um suposto desentendimento sobre a venda de uma propriedade, conforme a polícia.
Segundo o relato do construtor Rodrigo Flávio Domingues às autoridades, ele e o PM aposentado Lorivan Antônio de Mattos saíram de Passo Fundo, na quarta-feira, para mostrar uma propriedade, localizada em Tio Hugo, a possíveis compradores. O local pertence ao policial. Segundo o construtor, os compradores não apareceram e os dois começaram a discutir.
— Nessa discussão, o construtor alega que percebeu que o PM colocou a mão na arma, como se fosse sacar, e que teve que reagir. Afirma que aplicou um "mata-leão" em legítima defesa. Depois, disse que ficou desesperado e pensou em encobrir o fato. Nós estamos investigando e iremos confrontar o depoimento dele com informações que temos. Nenhuma hipótese é descartada neste momento — explica o delegado à frente do caso, Tiago Bittencourt.
O PM morreu no local. A arma que estaria com o policial não foi localizada até o momento.
Os dois teriam se conhecido no final do ano passado, quando o filho do construtor vendeu a propriedade em questão ao PM. Desde então, os dois homens mantinham uma "relação comercial", segundo o delegado, e, por isso, Domingues acompanhou o PM naquele dia.
O construtor aguarda o andamento das investigações em liberdade.
Construtor teria pedido ajuda por mensagem
De acordo com a Polícia Civil, um registro por desaparecimento dos dois homens foi registrado na quarta-feira, dia em que a dupla foi até a propriedade. Naquela tarde, o construtor mandou mensagens para o filho, pedindo ajuda, relata o delegado.
"Avisa a polícia. Pegaram eu e o seu Lorivan aqui na saída de Tio Hugo. Tô no mato, tô ferido", dizia Domingues na mensagem, indicando um suposto assalto ou sequestro. Depois disso, nenhum dos dois homens fez mais contato com familiares.
No domingo (27) de manhã, o construtor pediu ajuda em um posto, perto da entrada de Passo Fundo. Segundo a polícia, ele teria pedido ao frentista que acionasse as autoridades e tinha escoriações pelo corpo. Equipes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foram até o local e levaram o homem até a delegacia.
No depoimento formal, a polícia afirma que o homem confessou que matou Mattos, alegando legítima defesa. Depois, Domingues teria levado o corpo, no carro, até um matagal no município de Pontão, onde enterrou Mattos.
O corpo do PM foi encontrado na noite de domingo, no local indicado às equipes por Domingues. A polícia aguarda o laudo pericial para descobrir a causa da morte. Outras informações também são apuradas, como se os dois teriam tido desentendimentos anteriores e quem seriam os supostos compradores que iriam ao local na quarta. A possibilidade de o crime ter sido premeditado também é apurada.
À polícia, Domingues afirmou que ficou no mato de quarta a domingo, quando decidiu ir até o posto.
O que diz a defesa do construtor
O advogado do construtor, Manoel Castanheira, afirma que a morte ocorreu em legítima defesa:
— Domingues vinha sofrendo ameaças por parte do policial, em razão de uma documentação da chácara, que foi vendida ao PM. Isso já havia gerado discussões. No dia da morte, houve uma agressão por parte do PM, o que acabou desencadeando o fato. Domingues estava se protegendo e também preservando sua família, que também vinha sofrendo essas ameaças.
O construtor não havia feito registro na polícia sobre as ameaças, no entanto. A reportagem tenta localizar a família da vítima.