Mais de cem casos
Como investigação descobriu quadrilha que furtava celulares em shows em Porto Alegre para revender em São Paulo
Aparelhos recuperados um dia após um dos eventos foram devolvidos às vítimas pela Polícia Civil
Enquanto fãs se divertiam no show do cantor Gusttavo Lima, no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, criminosos circulavam entre a plateia com um objetivo: encontrar alvos para furtar smartphones. Foi assim que pelo menos 50 aparelhos foram levados de forma discreta no sábado, dia 12 de março. O número de ocorrências alarmou a polícia, que passou a tentar identificar quem estava por trás desse tipo de crime. Dois suspeitos de integrarem a quadrilha especializada em furtar celulares foram presos no último fim de semana, após mais um show, em Santa Catarina.
Além do alto número de registros de furtos, outros pontos em comum chamaram atenção da Polícia Civil. A maior parte das vítimas eram mulheres, jovens, que tinham aparelhos de última geração. E elas estavam, em sua maioria, no mesmo ponto do show: na pista premium. Além disso, muitas das ocorrências tinham acontecido ou junto ao bar ou na saída dos banheiros. As características levaram os investigadores a acreditar que se tratava de um grupo organizado com foco nesse tipo de delito e não de um furto comum.
Para tentar identificar quem eram os criminosos, a polícia passou a investigar o destino dos celulares furtados. Pouco mais de uma semana depois, em um segundo evento, o Show Universo Alegria, que reuniu diversos cantores na Arena do Grêmio, o grupo voltou a agir. Dessa vez, foram levados pelos menos 64 aparelhos da plateia. Agentes da Divisão de Inteligência do DPM e da Delegacia de Polícia para o Turista (DPTUR) já estavam investigando os criminosos.
— Durante o show, começamos a ver que estavam acontecendo os furtos. Mas não era possível identificar os autores no meio da multidão. Passamos a recolher informações e a partir da localização dos celulares de algumas vítimas, conseguimos chegar a um endereço, em um hotel de Porto Alegre — explica a diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, delegada Adriana Regina da Costa.
Assim como no primeiro show, neste segundo os perfis das vítimas e dos itens furtados eram idênticos. A forma de agir também era a mesma, em locais estratégicos, como próximo de bares ou dos banheiros. Infiltrados, entre os fãs, os criminosos passavam despercebidos. Em alguns casos, os celulares foram retirados de dentro das bolsas das vítimas. Para a polícia, foi mais uma confirmação de que se tratava do mesmo grupo atuando no local. Ao longo da apuração, os policiais conseguiram identificar a possível rota usada pela organização para chegar a São Paulo, onde os aparelhos seriam comercializados.
Em contato com a Polícia Rodoviária Federal, os investigadores conseguiram que um ônibus, onde os suspeitos poderiam estar, fosse interceptado. A abordagem aconteceu no município de Barra do Turvo, em 21 de março – um dia após o show em Porto Alegre. Foram recuperados 31 celulares que haviam sido furtados, sendo 25 no evento e os demais no Paraná. Os dois suspeitos, no entanto, não foram presos em flagrante, por entendimento da polícia local, e acabaram liberados.
Policiais do Rio Grande do Sul viajaram até Barra do Turvo – a 880 quilômetros de Porto Alegre – para conferir se os aparelhos eram mesmo os celulares furtados no show. Descobriram, inclusive, que os smartphones tinham sido classificados (com uso de fitas coloridas) pelos criminosos, possivelmente devido ao valor de cada aparelho. Juntos, os 31 aparelhos têm valor estimado em cerca de R$ 100 mil. Os celulares foram devolvidos para as vítimas dias após a recuperação.
— Algumas nem acreditaram quando nossos policiais fizeram contato com elas, pedindo para virem na delegacia. Achavam que era golpe. Não pensavam que teriam o aparelho de volta — afirma a diretora do DPM.
Campana em show
Após a apreensão dos aparelhos, a polícia conseguiu obter na Justiça mandados de prisão preventiva contra dois investigados. No entanto, naquele momento não se sabia o paradeiro da dupla. Uma das suspeitas é de que eles pudessem voltar a atacar em novo show na Capital. Por isso, no dia 6 de abril foi montada operação da polícia durante a apresentação da banda Maroon 5, na área externa da Fiergs.
Ali, os policiais se dividiram entre aqueles que permaneceram fazendo o registro de ocorrências durante o show e os que se espalharam por diferentes áreas em busca de suspeitos. Para identificar possíveis ladrões durante o show, enquanto os fãs estavam atentos ao palco, os policiais, de forma discreta, circulavam pelo local de olho na plateia.
— Nesses eventos, as pessoas costumam usar muito celular para fazer selfies, fotografar os artistas. Quem está interessado em efetuar o furto, fica observando. Os celulares que os interessam normalmente são os de última geração. É algo selecionado, não é aleatório. E as nossas equipes sabem que essas pessoas que estão interessadas não estão observando o show e sim seus alvos. O que fizemos foi localizar e observar essas pessoas, para intimidar possíveis ações — explica a delegada da DPTUR, Patrícia Sanchotene Pacheco.
Ao longo do show, somente um aparelho foi furtado, o suspeito foi preso e o celular foi recuperado.
A prisão
No mesmo dia em que ocorria o show do Maroon 5 em Porto Alegre, outro evento arrastava uma multidão para o município de Patrocínio, em Minas Gerais. O cantor Gusttavo Lima se apresentava durante uma festa na cidade. Segundo a investigação, era lá que estava o grupo especializado em furtar celulares.
Quatro dias depois, após nova apresentação do cantor, desta vez em Santa Catarina, os dois suspeitos – que já tinham mandado de prisão expedido no RS – acabaram presos pela Polícia Militar. Eles foram detidos no último domingo no município de Chapecó, enquanto transportavam 19 celulares, parte deles furtados em um show que havia acontecido na noite anterior. Um deles é natural da Bahia e outro de Minas Gerais.
— Eles buscam agir em eventos que reúnem multidões, e se aproveitam do fato de que muitas vezes há consumo de bebida alcoólica. Ficam próximos dos bares. Por isso, é necessário ter muito cuidado — orienta a delegada Patrícia.
A dupla segue sendo investigada pela polícia gaúcha, assim como os outros possíveis membros do grupo.
Como se prevenir em shows
- Fique atento a quem está na sua volta.
- Desconfie de pessoas desconhecidas que se aproximam repetidas vezes ou esbarram
- Não descuide de seus pertences, como bolsas, e não deixe celulares à mostra.
- Mantenha-se ainda mais atento ao ir ao bar ou nos acessos a banheiros.
- Caso seja vítima, registre o furto imediatamente e busque fornecer o maior número de detalhes à polícia: como aconteceu o crime, o local onde estava no show, qual modelo do celular e número do Imei.
- É possível registrar a ocorrência inclusive pela Delegacia Online.
- Fique alerta a possíveis tentativas de golpes após o furto do celular. Criminosos por vezes tentam obter a senha do aparelho, por meio de e-mails falsos, para ter acesso a aplicativos de bancos ou de compras. Não forneça essas informações se receber alguma tentativa de contato.
Fonte: DPTUR