Após festa
"Simplesmente acabaram com a nossa família", diz mãe de jovem espancado e morto em Gravataí
Polícia Civil apura as motivações e quem seriam os autores do homicídio, ocorrido há quase um mês
Foi durante o velório do filho que Geovana Reis, 45 anos, descobriu detalhes que Andriel Reis dos Santos, 24 anos, não mencionava dentro de casa. Por amigos e vizinhos, ela soube que o filho fazia doações de fraldas, remédios e itens de necessidade básica a alguns moradores do bairro, além de ajudar com pequenos consertos em casas na região. O jovem morava com os pais em Gravataí e também costumava auxiliar em casa, segundo a mãe. Em 27 de março, ele saiu para festejar o aniversário de 15 anos de uma prima. Quando retornava a pé, de madrugada, foi baleado e não resistiu, morrendo a duas quadras de onde morava.
— Já sabia que meu filho era uma pessoa boa. Mas, quando ele morreu, fiquei sabendo de coisas que ele fazia pelas pessoas, gente que ele ajudou. De alguém não ter fralda para o filho, não ter remédio, e ele ir comprar. De ele ajudar as pessoas nas casas. Vieram falar comigo amigos que ele tinha, pessoas que tinham carinho por ele, que eu nem conhecia. Porque ele ajudava os outros e nem comentava. Ele nos faz falta todos os dias — lamenta Geovana.
A mãe do jovem conta que o filho completaria quatro anos de trabalho em uma fábrica no próximo mês. Aos 24 anos, ele vinha pagando as parcelas da moto que adquiriu e construía, aos poucos, uma casa no mesmo terreno onde fica a moradia dos pais. Apegado à família, Santos deixou também dois irmãos. Na casa, cheia de lembrancas do jovem, a família busca formas de viver com a perda.
— Ele era um filho que ajudava pai e mãe no que fosse preciso. Pegava uma conta de luz e pagava, fazia rancho. Era educado, querido por todos. Sempre trabalhou. Tudo em casa lembra ele. Meu marido está inconsolável. Até o cachorro que ele tinha, que dormia no quarto com ele, passa as noites chorando. Tudo que me resta é ouvir os áudios que ele me enviava, ficar vendo uma foto que ele me mandou pouco antes da morte. Como é que vai ser daqui para a frente? Simplesmente acabaram com a nossa família.
Natural de Gravataí, Santos foi velado e sepultado em Cachoeirinha, em 28 de março.
Polícia investiga motivação
Um inquérito da Polícia Civil investiga a motivação para o crime e também quem seriam os autores. Conforme a investigação, Santos foi, naquela noite, até o aniversário de 15 anos de uma prima. Ao sair da festa, se deslocava para casa a pé, na companhia de um primo.
No caminho, os dois decidiram entrar em outra festa, particular, que seria também um aniversário. Os dois jovens não estavam convidados para esse evento. No local, eles foram espancados, conforme a investigação. A dupla então deixou a festa.
Poucas quadras depois, os dois foram atacados. Santos foi baleado e não resistiu, morrendo no local. O primo teve ferimentos, mas sobreviveu. O crime ocorreu no bairro Parque Florido, em Gravataí. Santos não tinha antecedentes criminais, segundo a polícia. Até o momento, ao menos oito pessoas foram na delegacia.
— Teve essa agressão na festa, em que eles não tinham sido convidados, e os dois saíram dali. O ataque ocorreu depois, duas quadras dali, na rua. Até o momento, não há uma motivação clara para esses disparos. Seguimos realizando as diligências e apurando mais informações, mas a investigação está bem avançada — diz o delegado de homicídios de Gravataí, Daniel de Queiroz Cordeiro.
O jovem morreu a duas quadras de casa, na rua. A mãe de Santos afirma que chegou a ouvir os disparos. Ela conta que, horas antes, o jovem havia enviado uma foto, ainda no aniversário da prima. Pelo relato de familiares que também estavam na festa, ele estava alegre durante a comemoração.
— Ele estava muito feliz na festa, todo mundo comentou isso. Não sei exatamente o que aconteceu, mas acho que só pode ser maldade. Da minha casa escutei os tiros, mas nunca vai passar na tua cabeça que é com o teu filho. Depois vieram me avisar. Saí de casa do jeito que estava, de pijama, mas era tarde demais. Foi um ataque covarde, que não tem justificativa. A gente não aceita isso e nunca vai aceitar — diz a mãe.