Polícia



Falta de manutenção

Perícia aponta que falha em válvula causou explosão em barril de chope que matou homem em Campo Bom

Proprietário da empresa que vendeu o produto foi indiciado por homicídio culposo 

31/05/2022 - 07h00min

Atualizada em: 31/05/2022 - 07h00min


Laura Becker
Laura Becker
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A perícia concluiu a análise do barril de chope que explodiu em setembro de 2021, resultando na morte de um homem em Campo Bom, e constatou que uma falha na válvula de pressão causou o acidente. O proprietário da empresa que vendeu o produto foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio culposo.

— Foi uma falha na válvula redutora de pressão — explicou o perito criminal Carlos de Santis. — Deixou passar integralmente a pressão e rompeu o barril.

O barril foi analisado e não tinha defeitos, mas a falha na válvula fez com que ocorresse uma explosão, causando a morte de Gilson do Nascimento, 43 anos. Naquele dia, Nascimento comemorava seu aniversário em casa, em Campo Bom. O perito explicou que o barril ganhou força como um foguete.

— Rompeu o fundo. Quando escapa pressão para baixo, faz uma propulsão do barril. A pessoa estava próxima, em cima, com o rosto, braços, e aí atingiu ele nos braços, houve fratura dos braços, do esterno, na região da boca. E o barril bateu no teto e caiu de novo no chão — relatou Santis.

Testes realizados no Laboratório de Metalurgia Física da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apontaram que o barril, de 30 litros, rompeu ao atingir a pressão que o fabricante considera o limite para a segurança — que é de 48 bar (medida de pressão de fluídos). 

A manutenção da válvula, cujas peças internas têm de ser trocadas a cada dois anos, estava atrasada. Ela havia sido fabricada em 2016, tinha garantia de cinco anos e estava fora da validade. Em análise, realizada no laboratório da Divisão de Balística do IGP, foi possível constatar que havia desgaste nos componentes internos da válvula. 

O proprietário da empresa que forneceu a chopeira para Nascimento, indiciado por homicido culposo, não teve o nome divulgado pela polícia. Ele não foi preso e disse em depoimento que quem fazia manutenção era ele mesmo, sem o auxílio de uma empresa especializada. 

O proprietário ainda entregou a polícia todos os documentos referentes aos equipamentos. Conforme o delegado Clóvis Nei da Silva, da delegacia de Campo Bom, eles apontavam para o uso do material desde 2016. Documentos envolvendo a manutenção posterior dos mesmos não foram encontrados. 

Em 17 de setembro de 2021, dia do acidente, a família de Nascimento chegou a ligar para o proprietário da empresa que forneceu o barril de chope informando que estava ocorrendo uma falha e que era possível ouvir um barulho de pressão saindo do barril. 

Arquivo da família / Arquivo da família
Gilson Nascimento morreu aos 43 anos

—Entendemos que houve negligência da parte dele, por não fazer corretamente a manutenção nem ter especialização para isso, mas não há dolo. Assim que ele foi contatado pela esposa da vítima tentou ir auxiliando por telefone, mas a pressão dentro barril já era muito grande — afirmou o delegado.

Com a força da explosão, Nascimento sofreu múltiplas fraturas. Chegou a ser constatado esmagamento de alguns órgãos em razão da pressão do impacto causado pela explosão do barril. O delegado confirmou ainda que a morte de Nascimento ocorreu de forma imediata. 

Necessidade de legislação específica

Durante a divulgação da conclusão do inquérito e do resultado da análise pericial, representantes da Polícia Civil e do Instituto-Geral de Perícias (IGP) destacaram a falta de legislação sobre comercialização dos barris de chope no Brasil. Conforme os peritos, o comércio destes produtos acontece com o uso de itens de segurança e com cilindros de gás carbônico com pressão elevada — o que representa um risco aos ambientes onde forem instalados. 

—Não existe uma lei no país que estabeleça uma regra de itens de segurança. Por exemplo, algumas empresas oferecem um barril que possui uma espécie de entalhe no fundo, que funcionaria como uma válvula de alívio, já outras não oferecem — reforçou o perito  Santis. 

O delegado Eduardo Hartz, da 3ª Delegacia Regional Metropolitana, também destacou a ausência de uma legislação que auxilie o consumidor na escolha da empresa a ser contratada e reforçou que é preciso estar atento para a utilização destes equipamentos.

— As pessoas não devem mexer em nada além do que foi orientado pela empresa que forneceu a chopeira. Se tem algo errado, procure o responsável. E, antes de fazer a contratação, faça uma pesquisa da empresa, se está há muito no mercado, se tem conhecimento do equipamento — afirmou Hartz. 


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