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Quem era a família encontrada morta em casa na zona sul de Porto Alegre

GZH ouviu pessoas próximas que contam como moradores do bairro Santa Tereza eram amorosos e prestativos

02/05/2022 - 09h10min

Atualizada em: 02/05/2022 - 09h16min


Bruna Viesseri
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Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Pai, mãe e filho foram enterrados na quinta-feira, em Porto Alegre

Durante o velório do sogro Aldino Lazaretti, 82 anos, em Canudos do Vale, no Vale do Taquari, no último sábado (23), Octávio Driemeyer Júnior, 44, abraçou a esposa, Lisandra Lazaretti Driemeyer, 45, e o filho Enzo, 14, e disse que os amava. 

Quem assistiu à cena ou convivia com a família tem dificuldade para preencher as lacunas que separam esse momento da descoberta de um crime estarrecedor quatro dias depois. O casal e o adolescente foram encontrados mortos dentro de casa na quarta-feira (27), em Porto Alegre, assim como duas idosas. A investigação aponta o empresário, que tirou a própria vida, como autor dos disparos.

Aparentemente uma família tranquila, o casal e o filho viviam em um condomínio de alto padrão na Rua Dona Maria, no bairro Santa Tereza, na zona sul de Porto Alegre. Também moravam na casa de três andares a mãe de Júnior, Delci Driemeyer, 79, e a sogra, Geraldina Lazaretti, 81 — o sogro também vivia na casa até morrer, na semana anterior. 

Foi ali que todos foram encontrados mortos na manhã de quarta-feira (27). Responsável pela investigação do caso, o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia afirma que o perfil do empresário é um dos pontos que chamaram a atenção no caso:

— É um perfil que diverge do que normalmente encontramos em casos como esse. Os familiares e amigos que nos procuraram descrevem como uma pessoa tranquila, amorosa com o filho. Isso é o mais chocante.   

A polícia tenta desvendar os motivos que podem ter levado ao desfecho trágico. Uma das hipóteses é uma possível crise financeira, embora isso ainda precise ser aprofundado pela investigação, que ouvirá os familiares na próxima semana. 

Júnior era um dos sócios de uma distribuidora de alimentos, no bairro Harmonia, em Canoas. A empresa, fundada em dezembro de 2001, segundo informações que constam no site, conta com mais de 500 funcionários e 25 mil clientes de ramos como mercados, restaurantes e lojas de conveniência.  

— Eu fazia trabalho voluntário em um abrigo. Pedia doações para o Júnior, de alimentos, e ele sempre doava — recorda um amigo da família. 

Na última Páscoa, o amigo esteve na residência e levou o netinho junto. Júnior tentou agradar a criança com balas e doces. Era conhecido por ser agregador, de muitos amigos.  

— Era uma pessoa dócil, meiga, amável, compreensivo. Não tem explicação isso que aconteceu — desabafa.  

Em Porto Alegre, a família frequentava o Clube dos Jangadeiros, do qual era sócia desde outubro de 2017. Em fotos nas redes sociais, o pai, a mãe e o filho aparecem navegando. Nos mesmos perfis há registros das férias em Porto Seguro, na Bahia, e no Rio de Janeiro. A paixão por aviões também aparece em alguns registros nos quais pai e filho estão juntos.  

Participativos  

Filha única de Aldino e Geraldina, Lisandra viveu com os pais no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. Ali, foram proprietários de uma lancheria e, mais tarde, pai e filha abriram uma ferragem, na Rua Marcílio Dias. Lisandra cursou Ciências Contábeis na PUCRS e, ainda durante a faculdade, no fim de 1998, passou a namorar com Júnior. Formou-se no início dos anos 2000 e os dois se casaram em 2006, na Capital. Enzo era o único filho do casal.

O adolescente estudava no 9º ano do Colégio João XVIII em Porto Alegre. A instituição suspendeu as atividades na quinta-feira (28), em razão da cerimônia de despedida, e emitiu nota à comunidade escolar ressaltando “uma trajetória marcada pela afetividade do estudante e pela participação ativa e solidária de seus pais na vida comunitária”. 

Além da dedicação aos estudos, Enzo era apaixonado por futebol. De porte alto e canhoto, o adolescente era talentoso, jogando como atacante.  

— Ele tinha um perfil de um menino bem resolvido. Sempre foi um líder da geração dele. Os amigos dele todos tinham ele como um líder, tinham respeito grande por ele. Um menino calmo, nunca brigou — recorda um ex-professor de futebol de Enzo.

Quando teve passagem pelo Ipanema Sports, o adolescente era acompanhado pela mãe nos treinos duas vezes por semana. A família costumava ser participativa nas atividades.

— A família se dava com os pais dos outros alunos. Enzo tinha muitos amigos. Foi algo muito triste para o pessoal que convivia com ele. E bem surpreendente também. Conhecia o pai e a mãe, eram pessoas muito tranquilas — diz o professor.

Gremista, como os pais, Enzo passou pela escolinha do clube entre os anos de 2019 e 2021. A escolinha enviou uma bandeira do Grêmio ao garoto, que foi entregue durante o velório a um familiar.

Perda recente

Apegada ao pai, Lisandra se tornou sócia dele na ferragem criada em novembro de 2000 e ajudava a tocar o negócio da família. Era responsável pela área de compras, preços e reposição de mercadorias da loja. A reportagem esteve na ferragem da família, no bairro Menino Deus, na quinta-feira, mas o estabelecimento estava fechado.

Além da ferragem, Aldino era sócio de uma construtora em Cruzeiro do Sul, onde mantinha uma casa. Foi lá que a família passou reunida o Ano-Novo antes do início da pandemia. Aldino sofria de câncer e passou por cirurgia no fim do ano passado. 

— Aldino, para o Júnior, era um pai e não um sogro — diz um amigo da família. 

Quando deixou o hospital, Aldino foi residir com a filha, o genro e o neto no bairro Santa Tereza. O idoso faleceu no fim da semana passada e foi sepultado no último sábado (23), na localidade de Rui Barbosa, na área rural de Canudos do Vale. 

Foi ali que, durante o velório, Júnior abraçou a esposa e o filho e disse que os amava. O empresário demonstrava estar bastante abalado com a perda do sogro. A polícia apura ainda se ele estava realizando algum tratamento para depressão, já que havia medicamentos para esse fim na residência.

No mesmo local do enterro de Aldino, foi sepultado o corpo de Geraldina, na tarde de quinta-feira. A mãe de Júnior, Delci, também era natural do Vale do Taquari. Nascida na área rural de Westfália, município de 3 mil habitantes, residia em Canoas, na Região Metropolitana, antes de se mudar para a casa do filho. Lá frequentava a Comunidade Evangélica Luterana, que divulgou nota de pesar na quarta-feira pela perda da idosa.


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