Polícia



Mistério segue

Filha e neto de idoso se tornam réus pelo assassinato de casal desaparecido em Cachoeirinha

Apesar das buscas realizadas, corpos de Rubem Heger, 85 anos, e Marlene Heger Stafft, 53, não foram localizados. Os dois sumiram há três meses

02/06/2022 - 07h00min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Arquivo Pessoal / Divulgação
Rubem e Marlene Heger foram vistos pela última vez em 27 de fevereiro

Filha e neto de um idoso desaparecido em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, tornaram-se réus pelo assassinato dele e da esposa. Rubem Heger, 85 anos, e Marlene Heger Stafft, 53, desapareceram há pouco mais de três meses. Seus corpos não foram localizados, apesar de buscas terem sido realizadas. Para a acusação, os dois familiares foram os responsáveis pelo crime e por ocultar os cadáveres das vítimas.  

Cláudia de Almeida Heger, 51 anos, e o filho Andrew Heger Ribas, 28, foram presos no início do mês de maio. Eles foram as últimas pessoas a terem contato comprovado com o casal. Moradores de Canoas, os dois seguiram até a casa de Rubem e Marlene, em Cachoeirinha, no domingo de Carnaval, dia 27 de fevereiro. Depois disso, o idoso e a esposa não foram mais encontrados, e a cachorrinha deles foi localizada no pátio, sem vida. A filha alega que levou o pai e a madrasta para visitarem sua casa em Canoas e que eles desapareceram de lá. 

A versão apresentada por Cláudia não convenceu a investigação e a polícia indiciou os dois pelos assassinatos e pela ocultação de cadáver. Na última quinta-feira (26), o Ministério Público (MP) apresentou denúncia do caso, que foi aceita no dia seguinte, quando se tornaram réus. 

Os dois seguem presos de forma preventiva, sendo que Andrew aguarda transferência para o Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), onde passará por perícia para verificar sua sanidade mental.  

Qualificadoras    

O promotor de Justiça Thomaz de La Rosa acusa Cláudia e Andrew de terem cometido os homicídios de forma qualificada. Segundo a denúncia, os dois assassinatos foram cometidos com dissimulação já que, com o pretexto de realizar uma visita e fazer uma faxina na residência das vítimas, colocaram colchões na frente da garagem onde estava estacionado o veículo deles, para impedir a visibilidade dos vizinhos, e ocultar o crime.  

O MP também denunciou os dois pela qualificadora de motivo torpe. Isso porque, no entendimento da acusação, o crime foi motivado pelo fato de Rubem ter deixado de prestar auxílio financeiro para Cláudia depois que ela se envolveu em um caso de falso sequestro no ano de 2016. Ainda foi acrescentada a qualificadora do feminicídio em relação a Marlene, pelo fato de o crime ter sido praticado contra mulher, por razões da condição do sexo feminino, em contexto de violência familiar.  

Os réus também respondem por outros crimes como fraude processual e maus-tratos a animal doméstico, já que a cachorrinha do casal foi encontrada morta no pátio da casa após o sumiço deles. A causa da morte do animal não pode ser apontada. Cláudia foi denunciada ainda por desacato e Andrew por resistência.

Vestígios 

Divulgação / Polícia Civil
Buscas realizadas pelos bombeiros com cães farejadores em maio

Em depoimento, Cláudia alegou que levou o pai e a madrasta para permanecer na casa dela e que lá, no dia 1º, os dois teriam sumido enquanto ela estava em um posto de saúde. No entanto, a investigação não encontrou nenhum indicativo, além do depoimento dela, que confirme que o casal realmente esteve em Canoas. Na parede da cozinha da casa de Marlene e Rubem foram localizados pela perícia respingos de sangue. A amostra é compatível com a do idoso. Isso leva a polícia a acreditar que eles foram mortos na moradia e depois tiveram os corpos ocultados.   

O Instituto-Geral de Perícias (IGP) realizou outras análises em busca de vestígios. Comidas encontradas na geladeira foram analisadas para descartar a possibilidade de envenenamento, por exemplo, mas nada suspeito foi encontrado. Em materiais de limpeza, que estavam na cozinha, houve reação com o luminol, mas não foi possível coletar amostra para verificar se era sangue. Mas isso faz a polícia suspeitar que alguém pode ter utilizado os produtos para limpar manchas de sangue na casa.  

O veículo da filha também foi periciado e houve reação com luminol no porta-malas. No entanto, o sangue encontrado não era humano, segundo a análise dos peritos. Em 16 de maio, enquanto eram realizadas buscas pelo corpo, um cão do Corpo de Bombeiros indicou que sentiu um odor emitido por cadáveres em decomposição dentro do veículo da filha. A Polícia Civil diz que outras buscas só serão realizadas em caso de serem localizadas novas pistas.  

Contraponto   

O advogado Rodrigo Schmitt da Silva, responsável pela defesa dos dois, informou que ainda não teve acesso ao teor da denúncia nem ao despacho da Justiça sobre o recebimento da mesma. O advogado disse ainda que também aguarda o prontuário médico com o estado de saúde e previsão de alta de Cláudia, que precisou ser hospitalizada, em razão de enfermidades que possui.  

– O Poder Judiciário não sabe até agora qual o estado de saúde da minha cliente. Só sabemos que ela não foi encaminhada para a audiência no dia 19 de maio por problemas de saúde e que está em um hospital. Sequer o perito assistente da defesa, professor Ricardo Caires, foi admitido no processo até agora, pois os relatórios periciais não foram concluídos. Já pedi ao Judiciário e agora peço a Deus que minha cliente não tenha um desfecho fatal nesta prisão desnecessária e injusta que está sofrendo – afirmou o advogado.  

Sobre o caso, o advogado sustenta que os clientes são inocentes e que não tiveram envolvimento no desaparecimento do casal.  


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