Polícia



Mistério na Região Metropolitana

"Minha vida simplesmente parou, é uma dor que vai te matando aos pouquinhos", diz mãe de jovem desaparecido há um ano em Alvorada

Ministério Público (MP) denunciou três pessoas pelo assassinato de Paulo Henrique Carvalho Rumpel

17/06/2022 - 08h53min

Atualizada em: 17/06/2022 - 08h54min


Bruna Viesseri
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Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Paulo Henrique Carvalho Rumpel desapareceu em Alvorada, aos 23 anos, em maio de 2021

Desde que Paulo Henrique Carvalho Rumpel, 23 anos, desapareceu em Alvorada, em maio de 2021, os pais do jovem travam uma busca pelo filho. Eles rodaram o município procurando informações, falaram com colegas de trabalho, amigos, vizinhos, polícia e qualquer pessoa que tivesse alguma pista. Até hoje, cerca de um ano depois, a mãe do jovem, Alveni Terezinha Carvalho Rumpel, 53 anos, afirma que ouve em repetição os áudios que recebeu de pessoas que levantam hipóteses do que pode ter acontecido ao jovem, enquanto refaz em pensamento todas as perguntas que ainda não conseguiu responder.

— Surgiu um monte de boato, cada pessoa diz uma coisa. Infelizmente, acho que se ele estivesse vivo, já tinha aparecido aqui. Eu só queria uma resposta, saber o que houve com meu filho. Só queria dar um enterro digno a ele, poder me despedir, encerrar esse ciclo, amenizar a dor. Só quero ter o privilégio de enterrar meu filho. Eu fico aqui vendo fotos, ouvindo áudios, todo dia pensando nisso, tentando entender. A minha vida simplesmente parou. É uma dor que vai te matando aos pouquinhos, a gente vai morrendo devagarinho — lamenta Alveni.

Os pais do jovem acreditam que ele tenha sido morto e seguem atrás de pistas que possam levar ao corpo de Rumpel, na intenção de se despedirem. A Polícia Civil indiciou três pessoas por homicídio qualificado, que também foram denunciadas pelo Ministério Público, que aguarda análise do Tribunal de Justiça (TJ-RS).

Conforme a família, quando desapareceu Rumpel estava morando no bairro Umbu, em Alvorada, havia cerca de dois meses, junto da esposa e do filho, hoje com quatro anos. Ele trabalhava em uma cooperativa de carga e descarga, em Porto Alegre. Antes, os três moravam em Nova Santa Rita

Por ser usuário de drogas, Rumpel foi internado em uma clínica por cerca de nove meses, em Sapucaia do Sul. Depois, mudou-se para Alvorada. Segundo os pais, o jovem teria superado o vício e a mudança de cidade significava um recomeço.

— A gente ia todo fim de semana lá, ver eles, ficar com meu neto. Levava frutas, ajudava em algo que precisasse. Ele estava bem, tranquilo, trabalhando. Do nada, ele sumiu — conta a mãe.

O pouco de consolo que os pais de Rumpel encontram é na convivência com o neto. O menino mora com a mãe, mas passa os finais de semana com os avós. A falta de Rumpel também é sentida pelo garoto.

— Ele chama pelo pai sempre. Pergunta: "Vovó, cadê o papai?". A gente não tem uma resposta para dar — conta a mãe do desaparecido.

Antes do sumiço do filho, Alveni trabalhava como auxiliar de serviços gerais. Atualmente, relata que não consegue trabalhar, diz que se sente fraca e com medo de sair de casa. O marido e pai do jovem, Paulo Roberto da Silva Rumpel, 50 anos, trabalha como pedreiro, e conta que também sente dificuldades para enfrentar o expediente de trabalho.

— Eu trabalho, não posso parar. Mas a vida está bem difícil. As vezes me pego chorando sozinho no trabalho, preciso me esconder dos outros, porque é uma angústia e uma dor muito grande. Eu não consigo imaginar isso acontecendo com a gente, se nunca fizemos maldade para ninguém. A gente não consegue sossegar, nunca conseguiu enterrar ele. Como a gente vai tocar a vida se não consegue encerrar esse ciclo? — questiona o pai.

O casal afirma que aguarda encaminhamento para atendimento psicológico junto a rede de assistência da prefeitura de Porto Alegre.

Investigação

De acordo com a Polícia Civil, Rumpel teria sido morto por uma facção que atua em Alvorada. Conforme a investigação, a morte ocorreu porque o grupo criminoso acreditava que ele teria subtraído drogas dos criminosos.

— Em um primeiro momento, ele foi acusado de furtar drogas dessa facção. Ele negou e acusou outra pessoa desse furto. A facção determinou então que ele executasse essa outra pessoa, o que ele teria feito. Mas, depois, o chefe do grupo voltou a acreditar que Rumpel seria o responsável pelo furto, e determinou que ele fosse morto — afirma o delegado Edimar Machado, da delegacia de Homicídios de Alvorada.

O homicídio teria sido determinado por um chefe da facção, que está preso, e executado por outros dois integrantes do grupo (um homem e uma mulher). A polícia afirma que solicitou a prisão preventiva de um desses dois, mas o pedido foi negado pela Justiça. Um novo pedido de prisão foi feito, mas ainda não há decisão por parte do Judiciário, conforme o delegado.

O inquérito foi concluído e remetido para a Justiça em abril. Em maio, as três pessoas foram denunciadas por homicídio qualificado por motivo torpe pelo Ministério Público, que aguarda a análise do caso por parte do Tribunal de Justiça.

— O homicídio ocorreu em razão de os denunciados suspeitarem de que a vítima havia subtraído drogas da facção. O motivo para a morte é a crença dessa facção, isso temos certeza. Mas não há como se ter certeza, neste momento, de que realmente houve a subtração — explica o promotor do MP em Alvorada, Marcelo Tubino.

A família de Rumpel, no entanto, afirma que o jovem não tinha envolvimento com tráfico e já teria deixado o vício em drogas. A mãe do homem afirma que ele passava o dia no trabalho, na cooperativa, e depois voltava para a casa onde morava com esposa e filho.

O delegado do caso acredita que o corpo de Rumpel tenha sido colocado em uma região de mata no município. As equipes fizeram buscas pelo local, com apoio dos bombeiros e de cães farejadores, mas nenhum vestígio foi encontrado. Os suspeitos pela morte do jovem foram ouvidos, mas não repassaram informações de onde o corpo estaria, segundo Machado.

GZH questionou o TJ-RS sobre a decisão de negar o pedido de prisão de um dos denunciados do caso. A comarca de Alvorada informou apenas que a negativa ocorreu em razão do "entendimento do juiz". Os nomes dos três denunciados não foram divulgados pelas autoridades.


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