Polícia



Serviços superfaturados

Rede de postos de combustíveis no RS é investigada por suspeita de golpe contra clientes em Porto Alegre e na Região Metropolitana

Empregados seriam cobrados por proprietário a apontar intervenções desnecessárias e até mesmo não realizadas

21/06/2022 - 07h01min

Atualizada em: 21/06/2022 - 07h01min


GZH
RBSTV / Reprodução
Reportagem mostra "atendimento suspeito" em posto de gasolina em Porto Alegre

Reportagem de Giovani Grizotti, no programa Fantástico, na RBS TV, neste domingo (19), apresentou suspeitas contra uma rede de postos de combustíveis com a bandeira Ipiranga, em Porto Alegre e na Região Metropolitana.

Segundo a reportagem, a rede de postos incentivaria os funcionários a baterem a meta da empresa, o que envolveria a venda de itens superfaturados em carros que, muitas vezes, não têm necessidade. 

— Temos até sábado pra fechar a meta, hein? Não se esqueça. Em último caso, no caso de não bater a meta, nós vamos trabalhar domingo, todo mundo. A cobrança só vai aumentar. Quem não está preparado pra cobrança pode sair, a empresa agradece — diz o proprietário da rede de postos Fabrício Corrêa Barros,  em um dos áudios apresentados à reportagem por um ex-empregado. 

Conforme um ex-frentista da rede, quando o cliente chegava ao posto, era analisado pela equipe para saber se seria "um alvo fácil":

— E aí chegava assim, a pessoa voltava da loja, e via eles chegavam assim "ó, está com problema, seu carro tá com vazamento." 

A reportagem também mostrou o vídeo de um cliente que teria sido vítima do golpe e flagrou as marcas feitas no chão pelos funcionários com óleo queimado logo depois que saiu do carro e foi até a loja de conveniência. 

Conforme o delegado da Delegacia do Consumidor (Decon-RS), Joel Wagner, o caso configura estelionato: 

— Está caracterizado o delito de estelionato. É um estelionato clássico. E que é praticado por toda uma rede que vai desde o frentista lá na ponta que abastece, que oferece o serviço, passando por gerentes e proprietários. 

Entre os casos apresentados na reportagem está o do aposentado José Silva, 73 anos, de Cachoeirinha. foi ao posto para abastecer com R$ 50. Alegando uma suposta fumaça que estaria saindo do motor, um frentista pediu para abrir o capô do veículo e apontou a necessidade de troca de óleo.  A conta fechou em R$ 1,3 mil, incluindo produtos que Silva diz não ter autorizado e com valores acima do mercado. O frasco de um aditivo para óleo custou R$ 149, mas o produto no mercado pode ser encontrado a R$ 49. 

Indignada, a filha de Silva, a representante comercial Josiane Silva, levou o pai à Delegacia do Consumidor e registraram ocorrência contra o posto de gasolina. 

— É revoltante. Acredito que nenhum colaborador faça isso sem autorização de um gestor, de um proprietário — comentou Josiane. 

Na delegacia, Josiane descobriu que o proprietário dos postos, Barros, dono de 23 postos no Rio Grande do Sul e dois em Santa Catarina, teria mais sete ocorrências registradas em casos semelhantes.  

A primeira queixa contra um posto do empresário ocorreu em 2018, quando a jornalista Civa Silveira percebeu algo errado com a conta. Acabou pagando R$ 350 por conta de aditivos no carro. O posto chegou a ser fechado pelo Procon, mas foi reaberto depois de ressarcir Civa e outros consumidores. Conforme o diretor do Procon de Porto Alegre, Wambert Di Lorenzo, há indícios de organização criminosa:

— Tem indícios de uma organização criminosa cujo objetivo é lesar vulneráveis e pessoas que demonstram um desconhecimento, uma fragilidade na relação dela com o seu próprio veículo. É uma matéria também penal. 

A reportagem do Fantástico monitorou o movimento em um dos postos de Fabrício, em Porto Alegre. O carro de um homem foi colocado no setor de troca de óleo e o atendimento durou uma hora e meia. Localizado pela reportagem, o militar reformado Wolney da Silva Garcia confirmou que precisou desembolsar R$ 1,4 mil pelo serviço. 

— Sinceramente, eu não pensei nada e olha que eu sou um cara superdesconfiado. Aí tu me vem com uma nota de R$ 1,4 mil? Eu não verifiquei isso, até porque eu não tenho a noção do mercado — disse Wolney. 

Contrapontos

O que diz Fabrício Corrêa Barros

Procurado pela reportagem, disse que não poderia atender:

"Pois é, infelizmente, agora não posso, estou viajando. Na volta, falo contigo, sem problema nenhum". 

O que diz a Ipiranga

A empresa divulgou uma nota sobre o caso:

"A Ipiranga informa que a operação dos postos é realizada por meio de revendedores, pessoas jurídicas independentes. A empresa vai acompanhar o caso e esclarece ainda que preza pela integridade e transparência na relação com seus consumidores, respeitando todos os direitos e legislação vigente para garantir a satisfação e excelência no atendimento.    

A Ipiranga realiza ações de treinamento, bem como incentivos a adoção de boas práticas nos negócios e de atendimento aos consumidores, periodicamente em toda sua rede de Revendedores. A companhia segue regras de compliance e promove capacitação anticorrupção e de integridade, que permeiam todos os seus negócios. Os consumidores podem entrar em contato em caso de dúvidas ou reclamações pelos canais de atendimento nos telefones 3003-3451 (Capitais e Regiões Metropolitanas) e 0800 720 5356 (Demais Regiões), além do acesso pelo site da empresa."


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