Crime organizado
O que se sabe sobre a nova onda de violência provocada pela guerra entre duas facções em Porto Alegre
Episódios recentes do conflito tiveram dois mortos, 24 feridos e arremesso de granada contra condomínio, na área central
Assim como em março, Porto Alegre voltou a registrar conflitos provocados por uma disputa entre duas facções que atuam no Estado. Por trás de mútuas retaliações, estariam uma dívida entre os grupos, a expulsão de um deles de um ponto de tráfico de drogas da Vila Cruzeiro, na Zona Sul, e a morte de uma liderança.
A consequência é o atual cenário de insegurança pela cidade. Entre a noite de domingo (4) e a madrugada de segunda-feira (5), dois fatos elevaram a tensão entre moradores: o ataque a tiros em um bar onde cerca de 80 pessoas se reuniam, no bairro Campo Novo, em que duas morreram — uma terceira vítima faleceu dois dias depois —, e o arremesso de uma granada em um condomínio da região central da cidade. Conforme a Polícia Civil, a segunda ação teria sido um revide à primeira.
Se em março a disputa havia sido sufocada após medidas adotadas pelas forças de segurança, agora ela reacende e impõe novos desafios aos órgãos públicos do Estado.
Veja o que se sabe e o que ainda deve ser esclarecido
Por que Porto Alegre voltou a registrar conflitos?
Em março, conforme a Polícia Civil, os conflitos começaram depois que o grupo criminoso nascido na Vila Cruzeiro e atuante na Zona Sul teria deixado de pagar uma dívida com a facção originada no Vale do Sinos, atualmente considerada a maior do RS. O valor, referente ao tráfico de drogas, é estimado em, ao menos, R$ 800 mil.
A sequência de ataques entre os grupos, que se concentrou especialmente em março e abril, deixou mais de 30 mortes.
Após uma série de ações das forças de segurança — como reforço no policiamento nos bairros, prisões, transferência e isolamento de lideranças que ordenavam os ataques de dentro do sistema penitenciário — o conflito arrefeceu em maio.
Em 21 de junho, no entanto, o assassinato de uma liderança do grupo da Zona Sul teria reacendido a briga. A morte é creditada pelo grupo à facção rival.
Pouco depois, em julho, a facção do Vale do Sinos foi expulsa pelo grupo rival do único ponto de tráfico que controlava dentro da Vila Cruzeiro. Assim, a facção da Zona Sul assumiu o comando do Acesso 5 da Cruzeiro.
A partir disso, uma série de homicídios vem sendo executada pelas fações, demonstrando as retaliações entre os grupos.
Escalada de ataques
Os últimos dois casos de repercussão relacionados ao conflito foram o ataque ao bar, no domingo, no bairro Campo Novo, e o arremesso de uma granada no condomínio da região central da cidade. No primeiro, duas pessoas morreram e outras 24 ficaram feridas. No segundo, que teria ocorrido em resposta ao episódio no bar, ninguém se feriu, já que o pino da granada não foi acionado.
Outra ocorrência que chamou atenção e também está relacionada ao conflito foi a que resultou no arremesso de uma cabeça na região da Vila Cruzeiro, no último dia 24. O homem decapitado — que ainda deve ter a identidade revelada pela perícia — seria ligado ao grupo criminoso da Zona Sul e teria sido assassinado pela facção rival, segundo a polícia.
Pelo menos mais duas mortes estão relacionadas ao caso. Uma delas ocorreu na Avenida Teresina, no bairro Medianeira, no dia 31 de agosto, e a outra foi na Avenida Luiz Guaranha, entre os bairros Cidade Baixa e Menino Deus, na noite de sábado (3), em que um jovem de 25 anos foi morto a tiros e um adolescente ficou ferido.
O número total de vítimas até o momento não foi divulgado.
O que as polícias estão fazendo?
De acordo com o diretor da Divisão de Homicídios da Capital, delegado Eibert Moreira, as equipes trabalham para identificar quem são os indivíduos responsáveis pelas ações e também quem as teria ordenado.
Assim como em abril, uma das medidas que deve ser adotada pela polícia para conter os conflitos é a transferências de presos:
— Se verificarmos que os ataques são ordenados de dentro da prisão, certamente uma das medidas será a transferências desses presos, para que sejam isolados e percam essa comunicação com as ruas. Estamos fazendo diligências e ouvindo testemunhas diariamente para identificar todos os envolvidos nos ataques.
Já a Brigada Militar reforçou o policiamento pela cidade, especialmente nos bairros que registraram os ataques. Conforme o subcomandante-geral da BM, coronel Douglas da Rosa Soares, há policiamento ostensivo intensificado, atualmente, em 24 pontos considerados estratégicos, em várias regiões da Capital.
Nesta terça-feira (6), mais de cem agentes, além do habitual, foram destacados para o trabalho. Nesta manhã, por exemplo, viaturas e policiais foram vistos nas proximidades do condomínio onde a granada foi arremessada, na esquina das avenidas João Pessoa e Princesa Isabel, na área central.