Mariano Moro
Pedagoga assassinada por ex queria incentivar autoestima de mulheres no norte do RS
Elisângela Bottega Vendrame foi morta no último dia 25 junto com Idanir Luís Merigo, a quem estaria conhecendo, segundo a família
Aos 48 anos, Elisângela Bottega Vendrame havia encontrado na profissão uma maneira de incentivar mulheres a fortalecerem a autoestima. Formada em Pedagogia, havia deixado a função e passado a atuar como vendedora e diretora de uma marca de maquiagens e cosméticos. No último dia 25, Elisângela foi morta dentro de casa, em Mariano Moro, no norte do Rio Grande do Sul, junto de Idanir Luís Merigo, 53 anos — segundo familiares dela, os dois estariam se conhecendo. O crime teria sido cometido pelo ex-companheiro dela, Nilton Vendrame, 54, que ainda teria atirado contra a própria cabeça após a ação.
Nascida em uma família grande, de sete irmãos (sendo seis mulheres), Elisângela era natural de Mariano Moro, onde se criou e fez amizades que gostava de cultivar em bares, festas e jantares que ela, muitas vezes, ajudava a organizar. Apegada à família, gostava de estar perto dos filhos, dos irmãos e da mãe.
— Se a gente decidia fazer alguma reunião, se juntar, era ela quem tomava a frente, pensava o cardápio, organizava as coisas. Era sorridente, uma pessoa muito divertida, que fazia as pessoas ao redor se sentirem bem. Ela sempre foi o alto astral da família, era uma pessoa muito iluminada — lembra a irmã Beatriz Cristina Bottega Targas, 44 anos.
Elisângela atuou por cerca de oito anos como pedagoga, na parte administrativa de uma escola. Depois, deixou a função para se dedicar à atividade na empresa de cosméticos. No trabalho, além de vender os produtos, selecionava novas consultoras.
— Estava sempre na ativa, de um lado para o outro, trabalhando. Ela gostava de estar sempre bem vestida, arrumada. E passava isso para os outros, com as maquiagens, os perfumes. Ela queria buscar a autoestima das mulheres, incentivar. Às vezes, fazia maquiagens também, mesmo se não vendia o produto, porque queria que as mulheres se vissem com mais carinho, com mais autoestima. Era a realização dela — conta Beatriz.
Na rotina corrida, Elisângela sempre achava espaço para a família, especialmente para a mãe, hoje com 78 anos.
— Todas as manhãs, antes de ir trabalhar, ela vinha dar um beijo na mãe, tomava um chimarrão, conversava. Só depois, ela ia. Às vezes, quando não voltava muito tarde do trabalho, vinha de novo ver como ela estava. Também fazia de tudo pela alegria dos dois filhos, queria sempre ver eles bem e felizes. Ela morava bem perto, uns 200 metros daqui de casa. Ainda é muito difícil de acreditar — lamenta a irmã.
Há pouco mais de uma semana da perda, a família reúne forças para superar a dor e lidar com a ausência de Elisângela. Em mensagens nas redes sociais da pedagoga, amigos lembram os bons momentos vividos em rodas de chimarrão e festas na região.
— Está muito difícil de suportar, parece que é mentira, que logo vamos acordar disso. Não caiu a ficha. A mãe chora muito, está desolada, é muito complicado. Ela tinha uma vida inteira pela frente — diz Beatriz.
Investigação
O delegado José Roberto Lukaszewigz afirma que irá remeter a conclusão do inquérito ao Poder Judiciário na terça-feira (4). Segundo ele, Vendrame será indiciado por feminicídio e homicídio. O delegado não deu detalhes sobre a investigação, como a motivação para as mortes, nem sobre o depoimento do homem.
Segundo a família de Elisângela, ela estava separada de Vendrame havia quase dois anos. Os dois foram casados por cerca de 25 anos. Os familiares acreditam que ele não aceitava o fim da relação.
Conforme a prefeitura do município, Vendrame atuava como fiscal sanitário na secretaria da Saúde, há cerca de 20 anos. Após o crime, ele foi encaminhado ao hospital para atendimento, em razão do disparo contra a própria cabeça. Conforme o Hospital Santa Terezinha de Erechim, ele estava internado no local desde o dia das mortes e recebeu alta na última quinta-feira (29). Ele foi levado ao Presídio Estadual de Erechim.
Contraponto
A Defensoria Pública do Estado, que atende Vendrame, afirmou que só irá se manifestar durante o processo.