Crime em Alvorada
Homem preso pela morte dos quatro filhos teria ameaçado ex-companheira para se reaproximar das crianças
Depoimentos na Polícia Civil mostram que insistência e temor de nova agressão fizeram mãe permitir reaproximação de David da Silva Lemos
Uma agressão em setembro fez com que a mãe dos quatro filhos de David da Silva Lemos, 28 anos, o proibisse de ver as crianças. Ao longo dos meses seguintes, ele insistiu e até ameaçou a ex-companheira, convencendo-a, em meados de novembro, a autorizar uma reaproximação dele às crianças.
De acordo com o depoimento de uma amiga e de familiares do casal, esta foi a tônica dos meses antecedentes ao assassinato de Giovana, 3 anos, Kimberly, 6, Donavan, 8, e Yasmin, 11, nesta segunda-feira (12), em Alvorada. O casal se relacionava há 12 anos, segundo familiares.
A Polícia Civil trabalha para entender quais foram os últimos diálogos de David com a mãe das crianças no final de semana que tinha os filhos em casa, onde eles foram encontrados mortos. Havia uma medida protetiva a ela vigente desde o episódio de agressão física, em setembro.
— Amiga e familiares trouxeram à tona fatos que ainda serão confirmados com novos depoimentos. Uma amiga da mãe mencionou ameaças do pai (David Lemos) depois das lesões corporais em setembro. Desde essa agressão, a mãe impedia que o pai visse as crianças — resume o responsável pela investigação, titular da Delegacia de Homicídios de Alvorada, Edimar Machado.
Ele espera conversar com a mãe das quatro vítimas na segunda-feira (19), para apenas depois colher o depoimento do suspeito pelo crime. O delegado ressalta que o caso pode ser mais complexo do que parece em uma primeira análise, pois é preciso entender as motivações para conseguir confirmar formalmente a autoria do delito.
— Precisamos colher provas e depoimentos suficientes para concluirmos o inquérito com certezas — destaca Machado, que não estabelece um prazo para entregar a investigação pronta.
Lemos foi preso na madrugada de quarta-feira (14), depois de ser localizado em um hotel no Centro Histórico de Porto Alegre.
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) tem um mês para fornecer os relatórios e laudos técnicos sobre as vítimas e os locais do crime, mas afirma que prioriza o caso. Segundo a assessoria do IGP, os exames toxicológicos, que são os mais demorados, já estão em processamento para agilizar os resultados.
A reportagem consultou o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul para entender se havia alguma regulação judicial do compartilhamento das guardas entre David e a companheira, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.