Região Metropolitana
Dois meses depois, como está o caso de pai preso por suspeita de matar os quatro filhos em Alvorada
David da Silva Lemos, 28 anos, é suspeito de ter assassinado as crianças dentro da casa onde vivia
Ao longo dos últimos dois meses, a Polícia Civil tentou compreender os motivos que levaram a um crime estarrecedor em Alvorada, na Região Metropolitana. Em 14 de dezembro, um pai foi preso por suspeita de assassinar os quatro filhos, com idades entre três e 11 anos. Os corpos das crianças tinham sido localizados horas antes, dentro da casa onde ele vivia. David da Silva Lemos, 28, continua preso, e a polícia ainda aguarda a conclusão dos laudos periciais para encerrar a investigação. A expectativa é de que o inquérito, que foi prorrogado, possa ser finalizado até o fim deste mês.
Após o próprio pai admitir o crime, a polícia passou a reunir as provas que ajudem a compreender o que motivou os quatro homicídios e de que forma eles aconteceram. A polícia já sabe que ele deverá ser indiciado por homicídio qualificado, mas somente após a análise de todos os elementos vai apontar por quais qualificadoras o preso deve responder. É preciso saber se houve emprego de alguma substância para dopar as vítimas ou impossibilitar a defesa por parte delas, por exemplo.
Yasmin, 11 anos, Donavan, oito, Giovanna, seis, e Kimberly, três, foram encontrados mortos dentro da casa do pai — os três primeiros tinham marcas de golpes de faca. Quando foi ouvido pela primeira vez, Lemos afirmou que havia sufocado a caçula. Ao ser interrogado novamente, no fim de dezembro, o suspeito não quis detalhar aos policiais como havia se dado o crime. Sobre a motivação, Lemos afirmou que amava a ex, e que não aceitava o término da relação ou que ela se relacionasse com outras pessoas.
— Seria uma espécie de vingança ou não aceitação do término. Ele disse também que estava descontente com a situação que as crianças estavam vivendo. É um misto que ele aponta. Isso tudo na visão dele, claro — diz o delegado Edimar Machado.
A polícia buscou traçar o perfil do preso e não identificou episódios anteriores de violência por parte dele contra os filhos. No entanto, a ex-companheira já havia sido agredida e, em razão disso, obteve medida protetiva contra ele. A determinação judicial para que ele não se aproximasse dela não se aplicava aos filhos.
— Exceto aquele episódio de violência contra a mãe das crianças, existe somente outra ocorrência. Ele usou cocaína por algum tempo e agrediu uma outra pessoa. Fora isso, não tem histórico de agressão. Os familiares não relatam que tivesse comportamento agressivo, nem com as crianças — afirma o delegado.
Quando foi ouvida durante a investigação, a mãe das crianças, Thays Antunes, 26 anos, relatou que, quando aconteceu o crime, estava separada do companheiro havia alguns meses. Ela negou que tivesse havido algum episódio anterior de violência do pai contra os filhos, mas confirmou que ele não aceitava o fim do relacionamento e que havia lhe agredido, motivo pelo qual ela obteve a proteção judicial.
Além da mãe, foram ouvidas outras testemunhas, como a avó paterna, que foi quem localizou os corpos dos netos. As crianças tinham passado o fim de semana na casa do pai, que ficava no mesmo pátio da residência dela. Naquela segunda-feira, dia 12 de dezembro, os quatro deveriam ter retornado para a mãe, que residia em Porto Alegre, mas isso não aconteceu. O crime teria acontecido neste mesmo dia, no fim da tarde, mas só foi descoberto no dia seguinte, quando a avó foi até a moradia.
As perícias também podem ajudar a polícia a esclarecer se há algum indício de premeditação do crime. Quando foi ouvido, Lemos negou ter planejado a morte dos filhos, alegando que teve uma espécie de surto. Por outro lado, alegou ter empregado um chá para fazer as crianças dormirem, evitando assim que elas pudessem reagir ou pedir socorro. O delegado pondera que, mesmo que ele tenha feito uso de alguma substância, existe a possibilidade de que ela não seja identificada pela perícia, dado o tempo até a descoberta dos corpos.
Celulares
Dois aparelhos celulares recolhidos com o próprio preso, detido na recepção de um hotel em Porto Alegre, e um terceiro entregue à polícia pelo funcionário de um bar na Orla, onde o suspeito esteve após o crime, consumindo bebida alcoólica, são analisados pela polícia. O intuito é buscar saber se Lemos realizou algum tipo de pesquisa na internet que indique premeditação ou mesmo se enviou mensagens sobre o crime.
Segundo o Instituto-Geral de Perícias (IGP), 48 análises referentes ao caso foram solicitadas, sendo 23 delas da área de toxicologia, que deve responder se havia alguma substância sedativa no corpo das crianças. Os laudos toxicológicos foram concluídos, porém foram necessárias novas análises, que ainda estão sendo realizadas.
Do total de exames, 36 já foram concluídos, entre elas a análise de impressões digitais, a perícia que verificou a possibilidade de presença de álcool etílico nas vítimas e uma das necropsias. Outras análises ainda são aguardadas, como as três necropsias das outras crianças, que devem ser remetidas até esta segunda-feira (13). Conforme o IGP, as demais perícias pendentes possuem prioridade e devem ser concluídas em breve.
Contraponto
O que diz a defesa de David da Silva Lemos
A Defensoria Pública do Estado se manifestou sobre o caso, informando que o suspeito segue sendo defendido pela instituição, como forma de “garantia da plena defesa do contraditório”, e que neste momento aguarda a conclusão do inquérito e posterior envio ao Ministério Público. A DPE já havia informado que só deve se manifestar sobre o caso nos autos do processo.