Polícia



Operação Per La Madre

Grupo por trás de ataque que matou irmãos adolescentes na zona sul da Capital é alvo de ofensiva policial

São cumpridas 203 ordens judiciais, sendo 66 mandados de prisão preventiva e 137 de busca e apreensão

24/10/2023 - 09h54min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Marina Maciel dos Santos, 16 anos, e João Francisco Maciel dos Santos, 14, saíram de casa em 19 de abril para comprar refrigerante e nunca mais voltaram. Os irmãos pretendiam ir até uma padaria perto da residência, no bairro Cascata, na zona sul de Porto Alegre, mas enquanto caminhavam pela Avenida Herval se viram cercados por uma cena de terror. Criminosos atiravam a esmo de dentro de um carro na direção de quem estava na rua, no intuito de apavorar a comunidade e afrontar rivais.

O grupo por trás desse atentado criminoso é alvo nesta terça-feira (24) de ofensiva da Polícia Civil. A investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apontou que integrantes de uma facção, com berço no bairro Bom Jesus, na zona leste da  Capital, invadiram a área de criminosos rivais, no Cascata, e cometeram o ataque. Sem encontrar inimigos na rua, miraram suas armas para outro alvo: os moradores. Foi assim que Marina e João Francisco, alunos dedicados do Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot, foram sentenciados à morte, sem qualquer culpa.

— Foi um crime grave, violento, irresponsável e fora da curva. Isso é gravíssimo porque é quando a violência transborda dos conflitos entre as facções para as vítimas inocentes na sociedade, como esses dois adolescentes, que nada tinham a ver com esse conflito. Eles eram inocentes — diz o diretor do DHPP, delegado Mario Souza.

Além dos irmãos que não resistiram aos disparos, foram baleados outro adolescente de 17 anos, uma mulher e um homem. A partir desse ataque, a polícia intensificou a investigação contra a facção. Com isso, chegou a outros envolvidos, para além daqueles que atuaram diretamente neste homicídio. Durante a apuração, foram identificados também outros ataques semelhantes realizados pelo grupo. Num deles, uma mulher foi baleada quando chegava em casa, em maio.

— Eles formam esses bondes para dar os ataques com alvos específicos, é feito levantamento de local anteriormente, mas, quando por alguma questão diversa, não conseguem efetuar o ataque ao alvo acabam demonstrando poder dentro da comunidade. Isso tem se tornado uma sistemática para causar temor à comunidade rival — explica a delegada Clarissa Demartini, da 1ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Porto Alegre.

Até coquetel molotov

Durante a chamada Operação Per La Madre (para a mãe), são cumpridos 66 mandados de prisão em 11 municípios do Estado e em Santa Catarina. Ao todo, cerca de 600 policiais participam da ofensiva, que conta com apoio da Brigada Militar e da Polícia Penal. Por volta das 9h, havia 49 presos e cerca de 130 quilos de drogas apreendidas.

Dos alvos com mandado de prisão, oito são apontados como diretamente envolvidos no ataque que resultou na morte dos irmãos. Cinco deles foram identificados como executores, responsáveis por disparar contra as vítimas, e três como mandantes. Para além dessas pessoas diretamente envolvidas no ataque, a investigação buscou entender a estrutura criminosa que existe por trás desses bondes.

— Como é um crime que transcende a guerra entre facções, no sentido de atingir um alvo específico, era necessário também transcender a investigação tradicional. Por isso, a gente se debruçou para tentar entender toda a estrutura criminosa envolvida num ataque dessa maneira. Tem a EcoSport roubada, tem o combustível, que vem do dinheiro do tráfico, o retorno para um local seguro, a dispensa das armas, quem faz previamente o levantamento do local. Não nos bastava identificar os atiradores. Era necessário punir toda essa estrutura, para que de fato haja efetividade na segurança, na parada dessas formações de bondes — explica a delegada Clarissa.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Dos alvos com mandado de prisão, oito são apontados como diretamente envolvidos no ataque que resultou na morte dos irmãos.

Um dos criminosos foi identificado por meio das impressões digitais deixadas num coquetel molotov (explosivo artesanal). O investigado é apontado como o responsável por articular os ataques dos bondes, reunindo armamentos e organizando os demais criminosos. O artefato foi encontrado dentro do carro usado no ataque que matou os adolescentes. A suspeita é de que o armamento fosse utilizado para destruir o veículo, mas não se descarta que eles pudessem empregar no crime.

— Além de tiros, o ataque foi tão violento, que foi autorizado a usar coquetel molotov. Nós optamos por atingir toda a facção porque foi ela que concordou com o ataque de bonde, da forma que foi feito. Ataques violentos como esse são autorizadas pelas lideranças. Assim a gente espera impor o maior prejuízo possível a essa facção — afirma o diretor do DHPP.

Os ataques

Na noite do dia 19, por volta das 21h, um veículo Ecosport, desceu a Avenida Herval, com cinco criminosos a bordo, fortemente armados. Eles efetuaram diversos disparos em direção à rua, vindo a atingir cinco pessoas, entre elas os dois irmãos adolescentes, que não resistiram.

Menos de um mês depois, em 15 de maio, também no bairro Cascata, um novo ataque deixou uma mulher ferida. Dessa vez, os bandidos, dentro de um Prisma branco, dispararam contra a moradora. A vítima, que estava chegando em casa, na Rua Francisco Martins, foi alvejada no ombro.

Quinze dias depois, o grupo criminoso, teria usado o mesmo veículo, com placas clonadas, para atacar outro local. Dessa vez, foram efetuados disparos contra uma loja de conveniência. Neste ataque ninguém foi atingido.

A Operação

São cumpridas 203 ordens judiciais, sendo 66 mandados de prisão preventiva e 137 mandados de busca e apreensão.

As ordens judiciais são cumpridas em Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Alvorada, Viamão, Sapucaia do Sul, Gravataí, Parobé, Capivari do Sul, Charqueadas, Arroio dos Ratos e Florianópolis, em Santa Catarina.

A ação conta com a participação de 420 policiais civis, 120 policiais militares e 30 policiais penais.


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