Vale do Sinos
Polícia Civil investiga denúncia de racismo contra entregador em Campo Bom
Ao fazer um pedido, suposta cliente mencionou não querer que pessoas negras tocassem em sua comida
A Polícia Civil de Campo Bom, no Vale do Sinos, apura caso que poderá se configurar como injúria racial promovida contra o entregador de uma pastelaria estabelecida no município. O caso aconteceu na noite da terça-feira (14), em pedido de lanche realizado supostamente por uma mulher pela plataforma digital iFood.
Na mensagem registrada na nota da solicitação, a pessoa que pede o lanche diz que em seu último atendimento "veio um motoboy negro" e solicita que "mande um branco": "não gosto de pessoas assim encostando na minha comida", completa a mensagem.
— Trata-se de um caso grave, de ofensa discriminatória de cunho racial. Estamos apurando a procedência da manifestação registrada no pedido da entrega de alimento. Não descartamos outras hipóteses, mas temos como linha principal evidências de uma injúria racial — explica o delegado Rodrigo Câmara, titular da Delegacia de Campo Bom.
Conforme o delegado, investigações preliminares dão conta de que o endereço fornecido à plataforma está parcialmente incorreto, o que pode indicar a criação de um perfil falso sob intenção de promover a ofensa e descaracterizaria a relação comercial como pano de fundo.
— O condomínio apontado no endereço fornecido à plataforma existe, mas o apartamento indicado não corresponde aos numerais localizados no imóvel. A plataforma (iFood) foi oficiada para fornecer informações sobre a origem do pedido. Outras diligências estão em andamento para a identificação da autoria — descreve Câmara.
O lanche não chegou a ser entregue. Em resposta à manifestação racista, a proprietária da pastelaria e esposa do entregador pediu que a pessoa não busque a pastelaria novamente e repudiou a postura da suposta cliente.
— Mesmo que esse perfil seja falso no iFood, com endereço e nome falso, tem alguém por trás disso e está sendo feito de tudo para descobrir quem é — disse a esposa da vítima, Daniela Rodrigues, 34 anos.
Conforme o assessor jurídico do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindimoto-RS), entidade de classe que congrega motoboys e ciclistas entregadores, fatos como este têm se tornado mais recorrentes.
— Foram 46 casos este ano, envolvendo agressões verbais, físicas e raciais. O sindicato presta suporte jurídico e orientações para o registro das denúncias junto às autoridades competentes — aponta o advogado Felipe Carmona.
O que diz o iFood
O iFood repudia veementemente qualquer atitude racista, seja ela física ou verbal. Assim que tomamos conhecimento do caso ocorrido na cidade Campo Bom, identificamos que o cliente em questão criou uma conta no nosso app na data de 14/11/2023, realizando esse único pedido. Além disso, buscamos contato com os donos do restaurante para prestar o apoio necessário. Já estamos tomando as providências para o bloqueio do cliente e seguimos à disposição das autoridades para quaisquer informações necessárias. É importante ressaltar que esse tipo de comportamento fere totalmente os termos de uso da plataforma e que não toleramos nenhum tipo de descriminação.
Toda vez que um entregador ou restaurante parceiro identifica um pedido com dados errados ou comportamentos discriminatórios, a orientação é informar diretamente a plataforma sobre o ocorrido, para que possamos tomar as providências imediatamente.
Nesses casos, de violências física e verbais, os entregadores parceiros do iFood contam com o suporte da Central de Apoio Jurídico e Psicológico, serviço em parceria com a organização global de advogadas negras, Black Sisters In Law, que disponibiliza uma advogada para acompanhar o caso de maneira personalizada e humanizada. Para ter acesso, os profissionais precisam acessar a área de Alerta de Casos Graves, dentro do app iFood para Entregadores, e realizar a denúncia com todas as informações do caso.