Polícia



Após briga

Polícia vai indiciar motoboy e idoso por lesão corporal e investigará acusação de racismo em Porto Alegre

Sérgio Camargo Kupstaitis disse à polícia que tem desavença antiga com motoboy Everton Henrique da Silva e admitiu tê-lo agredido com um canivete; sindicância aberta pela BM investiga a abordagem

20/02/2024 - 10h05min


Jonas Campos
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Renato Levin Borges / Arquivo Pessoal
Caso aconteceu no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, no último sábado (17).

A Polícia Civil vai indiciar o motoboy negro detido depois de ter sido agredido com canivete e o idoso branco apontado como agressor após uma briga, no sábado (17), em Porto Alegre, por lesão corporal. A informação foi confirmada, nesta segunda-feira (19), pela delegada que investiga o caso, Rosane de Oliveira, da 3ª Delegacia de Polícia da Capital.

— Efetivamente, vai ter o indiciamento de lesão corporal de ambas as partes, tanto do motoboy quanto do senhor, que feriram-se mutuamente. O outro delito (racismo) ainda vai ser apurado — disse.

O motoboy Everton Henrique Goandete da Silva, 40 anos, foi detido pela Brigada Militar após ter sido agredido com um canivete. Ele acabou contido pelos policiais, enquanto o homem apontado por testemunhas como o agressor, Sérgio Camargo Kupstaitis, 71 anos, só foi detido posteriormente. A diferença no tratamento aos envolvidos motivou protestos e críticas nas redes sociais.

A delegada já ouviu o morador do bairro Rio Branco. A Polícia Civil ainda aguarda o depoimento do motoboy e dos policiais que atuaram na ocorrência. Com base nas imagens, a delegada Rosane ainda aponta que o motoboy foi rendido por estar "mais alterado".

— O Everton estaria mais alterado. O outro indivíduo, que é a outra parte, estaria mais calmo, mais quieto — afirmou Rosane de Oliveira.

Uma sindicância foi aberta pela Brigada Militar para apurar a abordagem dos policiais. Segundo o secretário de Segurança Pública, Sandro Caron, sete pessoas já foram ouvidas ainda no fim de semana.

— Se houver algum desvio, a corregedoria vai tomar providencias. (Os policiais) ficam afastados das atividades e nós podemos, em uma semana, concluir aí o que foi e se houve falha de procedimento ou não — disse o secretário de Segurança Pública Sandro Caron.

A Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul informou que também apura. A Instituição já expediu ofício solicitando informações sobre a abordagem. Além disso, os defensores irão se reunir com Silva. A Defensoria também irá propor à Brigada Militar um curso de capacitação em relações raciais.

Desavença antiga e canivete

Kupstaitis contou, em depoimento, que teria uma desavença antiga com o motoboy. O idoso compareceu a delegacia sem estar acompanhado de advogados.

— O senhor disse que vem enfrentando uma desavença com esse indivíduo, em torno de quatro anos, porque esses indivíduos (motoboys) ficam defronte à casa dele e acabam provocando algum tipo de tumulto ou importunando ele. Mas ainda temos que apurar isso no inquérito para ver as outras versões — relata a delegada Rosane.

Ainda de acordo com a titular da 3ª DP, o morador admitiu ter usado um canivete para agredir o motoboy. O objeto foi entregue à polícia. Como reação, o homem negro teria acertado pedradas na perna do vizinho.

— Ele (morador) admitiu que desceu do apartamento já com o canivete na mão porque estava alterado em razão das provocações do motoboy. Ele disse que acertou o motoboy. Em contrapartida, ele levou duas pedradas na perna — afirma a delegada.

O eventual abuso de autoridade cometido pelos policiais vai ser apurado pela Brigada Militar.


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