Prejuízo emocional
Casos de furto e apropriação de cães de raça trazem preocupação a tutores em Canoas
Família do yorkshire mini Barney acionou a Polícia Civil e conseguiu recuperá-lo após uma fuga, no final de março
Histórias de cães de raça que não foram devolvidos após fugirem ou que foram furtados de residências causam preocupação em tutores de Canoas, na Região Metropolitana. Ao menos três casos foram registrados junto à Polícia Civil nos últimos meses, e em dois os animais foram encontrados e voltaram para casa. Boa parte dos casos acaba sendo relatada apenas em redes sociais, o que inviabiliza o trabalho das autoridades. As equipes orientam que vítimas façam o boletim assim que os casos ocorrerem.
Um dos episódios mais recentes é o do cão Barney Portaluppi Monteiro dos Santos, sete anos, que recebeu o nome em homenagem ao atual técnico do Grêmio, Renato Portaluppi, e mora com a família em um condomínio fechado em Canoas. Na noite do último dia 30, véspera da Pascoa, a aposentada Marcia Monteiro, 57 anos, saiu da casa para buscar algo no carro, estacionado a poucos passos da residência. Sem perceber que o pet também havia saído do imóvel, ela voltou para casa e fechou a porta.
Barney, um yorkshire mini, ficou circulando pelo condomínio e se aproximou das grades próximo à portaria. Imagens do residencial mostram o pequeno, de 1,5kg, passando pelo portão da garagem e acessando a rua por volta da 1h de domingo (31).
A fuga, que só foi percebida quando ela acordou na manhã seguinte, acabou com a Páscoa da família, lembra Marcia.
— Era 7h, 8h, a gente acordou e começou a procurar ele, fomos de casa em casa aqui no condomínio. Eu só chorava, estava desesperada, pensando que nunca mais ia encontrar ele. É como meu filho, é o dono da casa, movimenta toda a família e a vizinhança. Todo mundo vem brincar com ele, ver ele. O Barney dorme comigo, a cama dele é a minha cama. Ele viaja comigo, vamos para a praia. Foi horrível, um pesadelo.
Fotos do cão e pedidos de ajuda foram disseminados entre vizinhos e nas redes sociais. Na segunda-feira, receberam uma denúncia anônima: Barney estaria com uma família a poucas quadras da casa, em um apartamento.
Ainda naquela noite, Marcia e a filha, Ana Carolina Monteiro, 26, foram até o local para conversar com o casal que estava com Barney e recuperá-lo.
— A gente foi tentar conversar, explicar que ele é nosso, ver o que podíamos fazer para nos devolverem. Oferecemos recompensa. Esse casal disse que tinham gasto dinheiro no pet shop, nós nos oferecemos para pagar tudo. Nosso interesse era só pegar ele, está há sete anos na nossa família. É a alegria da minha mãe. Mas fomos recebidos com palavrões, jogaram pedras no nosso carro. A gente nunca imaginou que isso pudesse ocorrer, foi algo absurdo — lembra Ana Carolina.
Em razão do dano no veículo, mãe e filha deixaram o local com destino à delegacia. O caso passou a ser investigado pela 3ª Delegacia de Canoas. As duas reuniram fotos que mostram que o cão estava com a família desde 2017, que tinha carteira de vacinação e recebia os cuidados necessários para o bem-estar.
Cachorro correu para o policial
Na quinta-feira (4), três policiais foram até o apartamento da família que estava com Barney. O objetivo era intimá-los a prestar depoimento. Quando a porta do imóvel foi aberta, o cão correu para o colo do inspetor Leonardo Zanatta.
— Ele veio correndo e já o identificamos. O chamei pelo nome e vi que ele correspondeu, como se estivesse só esperando alguém buscá-lo. Veio conosco para a delegacia e o entregamos à real proprietária — lembra o policial.
À frente da 3ª DP, a delegada Luciane Bertoletti orienta que vítimas de casos do tipo procurem a polícia o quanto antes e registrem os fatos.
— Temos visto diversos relatos de furtos de animais de pequeno porte em Canoas, mas vemos que poucos proprietários vêm registrar ocorrência. Essa é justamente a primeira providência a ser tomada, vir até a delegacia e fazer boletim.
Ela ressalta que as vítimas que receberem pedidos de resgate não façam nenhum pagamento antes de buscar orientação com a polícia.
— A gente sabe que as pessoas ficam desesperadas, que os animais são tidos como parte da família, mas a orientação é jamais negociar recompensa, valores. É um risco porque não se sabe nas mãos de quem está o animal de estimação — diz Luciane.
Conforme a delegada, o foco em cães de raça ocorre porque criminosos buscam revender o animal, obtendo lucro financeiro, ou até pedindo resgate.
Cuidados redobrados
De volta ao lar, Barney passou a receber ainda mais mimos do que antes. Os cuidados também foram reforçados: ele agora usa uma coleira com plaquinha de metal no pescoço, com o contato de Marcia. O item de identificação foi presente de um vizinho de condomínio, também feliz com o retorno do peludo.
Cão foi levado de dentro de casa
Um caso de furto também é investigado em Canoas. O episódio aconteceu no último dia 29, quando a cachorrinha Pérola teria sido levada de dentro de casa, no Mato Grande, segundo a tutora Bianca Caldeira, 26 anos.
Temos visto diversos relatos de furtos de animais de pequeno porte em Canoas, mas vemos que poucos proprietários vêm registrar ocorrência.
LUCIANE BERTOLETTI
Delegada
Ela conta que, naquele dia, um feriado, saiu de casa por volta das 11h30min. Deixou a porta do apartamento destrancada, porque a mãe chegaria em seguida. Só que, ao chegar e não encontrar Pérola, a mãe achou que Bianca tivesse levado a cachorrinha consigo.
Bianca só retornou no sábado de manhã, quando perceberam a confusão.
— Ela foi levada de dentro da nossa casa, pegaram só ela, nada mais foi roubado. Não sei se a porta abriu com o vento ou se alguém abriu, porque não estava cadeada.
A jovem conta que procurou o síndico do prédio e pediu para ver as câmeras de segurança do local, mas o homem não teria autorizado. Bianca fez posts e divulgou a busca pela cachorrinha na vizinhança e redes sociais. Ela registrou o caso na polícia no dia 6, último sábado.
Enquanto aguarda por respostas, lida com a frustração da filha de sete anos, que pergunta diariamente sobre Pérola. O furto já completa quase duas semanas. A cachorrinha tem cerca de três meses, e chegou há dois na família, dada pelo namorado de Bianca.
— Ela é só um bebê, ainda não tinha recebido todas as vacinas. É a cachorrinha de uma criança, a companheira dela. Na primeira semana, minha filha teve febre e não comia, não brincava nem queria ir para a escola. Dizia que queria estar em casa quando a Pérola chegasse. Agora ela está melhor, mas toda noite pergunta se a cachorrinha vai voltar e diz que está com saudades — lamenta Bianca.
É importante o registro de ocorrências. Muitas vezes o conjunto de registros é que vai possibilitar a identificação de uma pessoa ou grupo que comete esses crimes.
NEWTON MARTINS DE SOUZA FILHO
Delegado
Ela diz que recebeu trotes pedindo recompensa pela cachorrinha, cobrando "qualquer valor" para devolvê-la.
A Polícia Civil de Canoas, por meio da 4ª Delegacia, investiga o caso e deve analisar imagens de câmeras de segurança. O titular da DP, delegado Newton Martins de Souza Filho, ressalta a importância de fazer o registro junto às autoridades o quanto antes:
— É importante o registro de ocorrências. Muitas vezes o conjunto de registros é que vai possibilitar a identificação de uma pessoa ou grupo que comete esses crimes.
O boletim de ocorrência pode ser feito direto nas delegacias ou pela internet, no site da Delegacia Online.
Roubo de veículo e cachorros
Em outubro do ano passado, criminosos levaram dois cães ao roubar um carro, na tarde de uma terça-feira no bairro Olaria, em Canoas. A vítima era a dona de uma pet shop, que levava dois cães da raça shitzu de volta para a tutora, após o banho.
Ela foi abordada por três homens armados, que se aproximaram utilizando um Fiat Uno, de cor prata, e anunciaram o assalto. A vítima foi obrigada a descer do veículo e não pôde retirar os cães do banco traseiro antes de os criminosos fugirem. O celular dela também foi roubado.
O veículo foi deixado em uma rua de Cachoeirinha, para "esfriar" o carro — quando ele é abandonado por alguns dias para os criminosos verificarem se eram rastreados ou não.
Um dos animais conseguiu se livrar dos braços do criminoso e fugiu. Ele foi localizado depois e entregue à tutora, que já havia anunciado o caso nas redes sociais. O outro cão foi levado.
Após diligências, a polícia identificou os assaltantes e fez batida na casa de um deles, em Cachoeirinha. O cão foi encontrado no local (assim como a arma usada no crime), resgatado e entregue à responsável.
Roubo a pet shop
Em setembro de 2022, GZH já havia registrado um caso similar em Porto Alegre. Na ocasião, dois criminosos assaltaram uma pet shop localizada na zona norte da Capital, com o objetivo de roubar dinheiro da proprietária da loja, que também é veterinária. Como não havia notas no caixa, obrigaram a mulher a transferir o valor que estava na conta bancária dela, de R$ 1,4 mil.
Durante a ação, os dois assaltantes decidiram levar também um filhote da raça lulu da pomerânia, então com quatro meses, que era cão de estimação da vítima.
Ela teve as mãos amarradas durante a ação, que levou cerca de 15 minutos, e recebeu ameaças. A vítima estava sozinha na loja naquele momento e também teve o celular roubado, antes de os homens fugirem do local.
Dois dias depois do roubo, a veterinária recebeu mensagens dos criminosos pelo WhatsApp. Eles enviaram foto do cachorro e pediram uma quantia de R$ 1,5 mil para devolver Bolt. A mulher afirmou que não faria transferências sem antes ver que o pet estava bem, e acabou bloqueada pelos assaltantes.
A vítima não conseguiu recuperar o animal.