Polícia



Fronteira Oeste

MP aponta que primo planejou sequestro para extorquir dinheiro de enfermeira e que vítima foi morta por criminoso que vigiava cativeiro

Priscila Ferreira Leonardi, 40 anos, desapareceu em 19 de junho de 2023, após viajar da Irlanda para o Brasil. Ela foi encontrada morta, à margem de um rio, com sinais de espancamento. A expectativa é de que a sentença para quatro réus seja conhecida em outubro

29/08/2024 - 09h53min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Paloma Scalco / Arquivo pessoal
Priscila morava na Irlanda, voltou ao Brasil para resolver questões patrimoniais e foi morta.

O caso da gaúcha Priscila Ferreira Leonardi, 40 anos, que vivia em Dublin, na Irlanda, retornou em 2023 a Alegrete, na Fronteira Oeste, e acabou morta, está perto de ter um desfecho na Justiça. A expectativa é de que a sentença para os quatro réus seja conhecida em pouco mais de um mês, em outubro — há ainda um quinto acusado, que teria sido o autor da morte da vítima, que responde de forma separada ao processo.

Os quatro presos são suspeitos de extorquir dinheiro da vítima, o que resultou na morte dela, e ocultar o cadáver, em junho do ano passado. O corpo de Priscila foi encontrado à margem de um rio, com sinais de violência. Entre os réus, está o primo da enfermeira, Emerson Leonardi.

Nesta semana, a promotora Rochelle Jelinek, do Ministério Público, apresentou as alegações finais sobre o caso. A conclusão da acusação é de que o primo de Priscila foi responsável por planejar a ação, por acreditar que ela tinha muito dinheiro nas contas bancárias e com interesse de ficar com a casa do pai da vítima. E, durante esse sequestro, a enfermeira acabou morta pelo responsável por vigiar o cativeiro.

O intuito com o crime, conforme o MP, era extorquir dinheiro da enfermeira, obrigando-a sacar e transferir valores das contas. O grupo acreditava que ela teria cerca de R$ 1,5 milhão em bancos, mas o valor não ultrapassava R$ 200 mil. Segundo a acusação, o primo decidiu reunir outras pessoas, entre eles um presidiário de Uruguaiana, e integrantes de uma facção, para colocar o crime em prática. 

Emerson vivia numa casa que pertencia ao pai de Priscila — falecido em 2020 — e estava envolvido em disputas patrimoniais com a prima. O plano, conforme apurado pela polícia, era sequestrar a vítima e retirar o máximo de dinheiro possível dela. A extorsão teria sido planejada ao longo de semanas, ainda antes de a vítima chegar ao Brasil.

Priscila foi vista pela última vez durante um encontro com o primo. Dali, ela teria embarcado num veículo, que, segundo a investigação, seria de um comparsa encarregado do sequestro. A vítima teria pensado que se tratava de um motorista de aplicativo, acionado pelo primo. 

Durante essa corrida, o motorista desviou o trajeto pra buscar mais dois comparsas. Os três levaram a vítima até o cativeiro. Os criminosos pretendiam manter Priscila sequestrada até obterem todas as senhas para as transferências. No entanto, as transferências não foram realizadas, e a vítima foi espancada e estrangulada.

Tentativa de estupro resultou em morte

Além dos quatro réus, há um quinto que responde ao processo em separado, e é apontado como o autor do assassinato de Priscila. Numa audiência em 25 de junho deste ano, uma das testemunhas afirmou que o responsável pela vigília do cativeiro teria tentado estuprar a enfermeira e matou a vítima. A testemunha disse que não havia revelado isso anteriormente por medo de represália.

O homem apontado como autor da morte foi um dos nove investigados denunciados pelo MP em novembro do ano passado. No entanto, a denúncia foi recebida somente em relação a quatro deles, que se tornaram réus neste caso, e desde então se encontram presos. Em relação aos demais, a Justiça entendeu que não havia elementos suficientes para que eles respondessem pelo crime. No mesmo dia da audiência, o MP pediu a prisão deste homem que seria autor da morte, que foi detido, e passou a responder processo separado pelos crimes.

Não haverá júri

Apesar de o caso ter resultado na morte de Priscila, nenhum dos quatro réus responde por homicídio. Isso porque o entendimento é de que o objetivo principal do crime era extorquir dinheiro da vítima, mas ela acabou sendo morta.

Em razão disso, não há realização de júri popular. Em caso de condenação, por conta de ter havido a morte da vítima, a pena aplicada, de 24 a 30 anos de prisão, pode ser superior à de homicídio qualificado, de 12 a 30 anos. A próxima etapa do processo é a manifestação final das defesas dos réus. E, por fim, a sentença é definida pela Justiça.

Contraponto

Zero Hora entrou em contato com a advogada Jo Ellen Silva da Luz, que defende Emerson da Silveira Leonardi. Ela informou por nota que a defesa "alegará tudo que for possível de acordo com a prova processual, irá contestar pontos obscuros e enfrentará todos os pontos da acusação".  

Leia a nota da advogada:

"O prazo para oferecimento dos memorias por mim está aberto, a defesa alegará tudo que for possível de acordo com a prova processual, irá contestar pontos obscuros e enfrentará todos os pontos da acusação! O meu prazo irá até o dia 11 de setembro, será um trabalho minucioso e feito com toda diligência possível e após o oferecimento dos memoriais defensivos por parte do Emerson, ainda será necessário aguardar os demais réus e posteriormente a sentença!".

O caso

Paloma Scalco / Arquivo Pessoal
Priscila estava com passagem comprada para ir à Itália em setembro, onde comemoraria o seu aniversário.

A vítima

Priscila morava desde 2019 em Dublin, na Irlanda, onde trabalhava como enfermeira em um lar de idosos. No Brasil, formou-se em Santa Maria, onde começou atuando na profissão. Depois, trabalhou em Bento Gonçalves e, por fim, em um hospital de Nova Prata. Priscila decidiu tentar o sonho europeu e se mudou para Dublin, na Irlanda. Aperfeiçoou o inglês e, quando retornou ao Brasil, já trabalhava havia mais de dois anos como enfermeira na casa de repouso.

Retorno ao Brasil

Priscila regressou no ano passado a Alegrete,  na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, para resolver pendências do inventário do pai, Ildo, falecido em maio de 2020. Também estava em busca de documentos de ancestrais com a intenção de encaminhar a cidadania italiana. 

O desaparecimento

A enfermeira desapareceu na noite de 19 de junho de 2023, após sair da residência que fazia parte da herança dela, mas era habitada pelo primo. Priscila tinha ido ao local para buscar pertences de valor sentimental. Ela embarcou, sozinha, em um veículo que supostamente havia sido chamado pelo primo para uma corrida particular, mas que seria tripulado por um envolvido na trama.

Cadáver encontrado

Um pescador localizou o corpo de Priscila, em 6 de julho do ano passado.  Em estado avançado de decomposição, o cadáver estava preso a galhos na margem do Rio Ibirapuitã, em Alegrete. Havia sinais de espancamento e uma corda enrolada no pescoço da vítima. A perícia indicou morte por estrangulamento e apontou lesões causadas por espancamento. Ainda foi identificado traumatismo encefálico.

Disputas

Priscila e o primo Emerson tinham disputas patrimoniais. No seu retorno ao RS, a enfermeira teria tomado conhecimento de que foram sacados R$ 167,7 mil da conta do pai em cheques, em 2020, nas últimas semanas antes da morte dele. As beneficiárias dos valores, em parcelas, foram a esposa do primo e uma outra prima, que hospedava Priscila em sua casa em Alegrete.

Casa da família

A enfermeira havia encaminhado a venda da casa que era do pai dela ao primo Emerson, mas ele não havia cumprido acordos de pagamento em duas ocasiões. Por isso, ela ingressou com processo judicial de cobrança de mais de R$ 200 mil contra Emerson no início de 2023. Esse era outro ponto de tensão na relação entre eles. O primo chegou a atuar como cuidador do pai de Priscila antes da morte dele.



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