Polícia



Ação interestadual

Operação mira grupo de SP que aplicava golpes em todo o Brasil e fez vítima perder R$ 55 mil em Canoas

Onze pessoas são alvo de ofensiva das polícias civis gaúcha e paulista nesta quinta-feira, em Campinas, Hortolândia e São Paulo capital. Quadrilha usava inteligência artificial para mascarar número de telefone e enganar vítimas

26/09/2024 - 12h19min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Polícia Civil - SP / Divulgação
Falsa central foi descoberta em agosto, pela Polícia Civil de Campinas, no interior de São Paulo.

Às 14h26min de 25 de julho deste ano, uma servidora da justiça de Canoas, na Região Metropolitana, recebeu um telefonema de um número identificado como um dos bancos onde possui conta. Ao atender a ligação, passou a ser ludibriada por um grupo criminoso sediado em São Paulo, que lhe faria perder R$ 55 mil naquele mesmo dia. Suspeitos de integrarem esta quadrilha, com atuação em diversos Estados, são alvo de operação da Polícia Civil nesta quinta-feira (26).

Numa ação interestadual, com policiais gaúchos e paulistas, são cumpridos nesta manhã em São Paulo 11 mandados de prisão temporária contra os investigados pelo esquema. Até as 7h25min oito pessoas haviam sido detidas — duas delas em flagrante por porte de arma e posse de drogas. Os policiais cumprem ainda 16 mandados de busca e apreensão, e o sequestro de 11 veículos, que teriam sido adquiridos com valores obtidos com as trapaças. Os mandados ocorrem em Campinas e Hortolândia, no interior do Estado, e na capital paulista.  

Em agosto deste ano, sete pessoas apontadas como integrantes do grupo já tinham sido presas pela Polícia Civil de Campinas, mas acabaram autorizados a responder em liberdade. Nesta quinta-feira, os mesmos sete são alvo dos novos mandados de prisão, assim como outras quatro pessoas identificadas num esquema que teria lesado a vítima do Rio Grande do Sul. 

Polícia Civil / Divulgação
Dinheiro e cartões também foram apreendidos.

O caso chegou até a Polícia Civil de Canoas, que passou a tentar descobrir quem era o grupo por trás do golpe. Uma mulher, que recebeu os R$ 55 mil, foi identificada inicialmente – ela tinha 55 chaves Pix registrada em seu nome, assim como outra moradora de São Paulo. A partir dali, a polícia foi conseguindo chegar aos nomes de outros suspeitos e teve conhecimento da investigação que já vinha sendo realizada em Campinas contra o mesmo grupo. Em contato com os policiais de São Paulo, a polícia gaúcha descobriu que em meio aos documentos apreendidos em agosto, como prova dos golpes aplicados pelo grupo, estava um papel com nome e telefone da vítima do RS.

— É uma grande organização criminosa. Mantinham no centro de Campinas uma falsa central, numa casa alugada, com computadores, tudo estruturado, funcionando 24 horas por dia, sete dias por semana — explica a delegada Luciane Bertoletti, da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas.

Inteligência artificial

Para enganar as vítimas, os criminosos faziam uso de robôs digitais, que permitiam, inclusive, alterar a voz para forjar ser o gerente do banco. Segundo a polícia, esse foi um dos motivos que levou a vítima de Canoas a acreditar que realmente estava conversando com a equipe do banco onde possuía conta. Além disso, os golpistas usavam o spoofing, uma técnica empregada por cibercriminosos para falsificar o número de telefone de uma ligação.

— A vítima recebeu uma ligação do número que era o mesmo do banco dela. Não era nem o 0800, que sempre alertamos. Era o telefone do banco, era a voz do gerente, que eles usam robôs para simular. Ela acreditou e entrou naquela história — explica a delegada.

No caso da vítima de Canoas, os estelionatários informaram que havia sido identificada uma compra suspeita no valor de R$ 1,2 mil. Depois disso, fizeram a servidora acreditar que a conta dela havia sido invadida por uma quadrilha de golpistas investigada pela Polícia Federal. Durante as ligações, usaram a inteligência artificial para simular conversas com o gerente de dois bancos. A mulher foi convencida a fazer um empréstimo no valor de R$ 100 mil, que seria uma forma de testar se realmente a conta estava protegida. Neste momento, a instituição bancária verdadeira suspeitou do pedido e entrou em contato para verificar a transação. Mas os golpistas já imaginavam que isso poderia acontecer.

— Eles disseram para ela “vai ligar o teu gerente de conta e ele não está sabendo da investigação”. E orientaram a vítima a não falar nada. O gerente de conta liga e pergunta se ela fez a movimentação e ela confirma. Então, na sequência, repassa aos golpistas R$ 55 mil para uma chave indicada por eles, e só então se dá conta de que havia caído num grande golpe — detalha a delegada.

Milhares de vítimas

Polícia Civil / Divulgação
Policiais apreenderam diversos documentos que apontavam a existência de vítimas em vários Estados.

Segundo a polícia, o mesmo grupo fez vítimas em outras cidades do Rio Grande do Sul, especialmente médicos e dentistas. Na investigação em São Paulo, a Polícia Civil identificou que os criminosos tinham acesso a dados do cadastro de profissionais que atendiam um plano de saúde.

Com essas informações, eles conseguiam fazer contato com os alvos e simular situações que levavam as vítimas a acreditar que tinham débitos que precisavam ser quitados.

Os golpistas ameaçavam as vítimas que, caso não pagassem os valores devidos, seriam excluídos do plano de saúde. Em outra modalidade do golpe, simulavam ser funcionários de cartórios também fazendo cobranças de dívidas. Os valores pagos variavam de acordo com o que os bandidos conseguiam extrair. As ligações fraudulentas eram feitas com uso de robôs.

A polícia paulista identificou centenas de vítimas do mesmo grupo criminoso. No entanto, as apreensões realizadas numa falsa central, em agosto, pela polícia, indicam que esse número pode chegar a 7 mil vítimas. 

— Nós conseguimos apreender milhares ou dezenas de milhares de tarjetas com nome, telefone, endereço, ocupação. Valores que eram pagos, pedidos. Eles tinham esse controle, inclusive apreendemos anotações e formulários. Isso tudo denota a atuação em 23 Estados — explica o delegado Sandro Jonasson, do 11.º Distrito Policial de Campinas.

No local, os policiais apreenderam diversos documentos que apontavam a existência de vítimas em Estados como Bahia, Ceará, Tocantins, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Pernambuco, Mato Grosso, Amazonas, Minas Gerais, Santa Catarina, Pará, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Paraná, Acre, Sergipe, Paraíba, Piauí, Alagoas e Rondônia.

Na falsa central, dois suspeitos tentaram escapar correndo pelos fundos do imóvel e acabaram despencando do telhado, um deles sobre uma cerca elétrica. A dupla foi presa logo depois. No mesmo local, foram apreendidos 30 aparelhos de celular, que estão passando por análise.

Durante os mandados nesta quinta-feira, a polícia apreendeu mais documentos de controle financeiro do grupo e somas em dinheiro, ainda não contabilizadas.  

— Na casa da pessoa que recebeu o dinheiro da vítima (de Canoas) apreendemos muito dinheiro — explica a delegada Luciane. 

Como se proteger

  • Ligações recebidas pelos clientes solicitando qualquer documento, senhas, dados cadastrais, estornos ou a realização de transferências não são práticas das instituições financeiras, portanto, os clientes não devem repassar informações ou efetuar operações sob orientação desse tipo de contato.
  • Nunca realize ligações para números de telefone 0800 recebidos por SMS ou outras mensagens. Ligue sempre para o número da central de atendimento do seu banco ou para seu gerente.
  • Os bancos ligam para os clientes para confirmar transações suspeitas, mas nunca pedem dados como senhas e outras informações pessoais nessas ligações.
  • Os bancos nunca ligam para pedir aos clientes que façam transferências ou Pix ou qualquer tipo de pagamento.
  • Se receber esse tipo de ligação, desconfie na hora. Desligue e entre em contato com a instituição pelos canais oficiais, de preferência de outro telefone, para saber se algo aconteceu mesmo com sua conta.

Fonte: Febraban e Polícia Civil


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