Polícia



Operação Condominium

Sócias de imobiliária de Porto Alegre são indiciadas por apropriação indébita de R$ 7,5 milhões

Investigação policial apurou ainda indícios de furto qualificado e associação criminosa. Duzentos e cinquenta condomínios no Estado teriam sido lesados. Defesas afirmam que não tiveram acesso ao inquérito

04/09/2024 - 10h26min


Pâmela Rubin Matge
Pâmela Rubin Matge
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Ronaldo Bernardi / Agência RBS
Imobiliária foi alvo de operação em 2023.

A Polícia Civil indiciou, nesta segunda-feira (2), três sócias da Imobiliária Menino Deus, em Porto Alegre, por furto qualificado mediante abuso de confiança, apropriação indébita de R$ 7,5 milhões e associação criminosa. As irmãs Nádia Silvane Vieira Schallenberger, 56 anos, e Eliane Janete Vieira Schallemberger, 62, além de Sueli Ivone Fin Gonzales, 72, são suspeitas de lesar 250 condomínios.

De acordo com a Polícia Civil, os condomínios repassavam o dinheiro para o pagamento de contas para a imobiliária. Porém, segundo a investigação, as responsáveis pela empresa transferiam valores para contas pessoais.

Apartamentos, carros e até mensalidades de curso superior teriam sido pagos com dinheiro dos condôminos e prestadores de serviço.

O advogado Carlos Pereira Thompson Flores, que representa as irmãs Nádia e Eliane, disse que não teve acesso ao inquérito

— Por ora, não iremos nos manifestar, pois não tivemos acesso ao indiciamento — falou.

Os advogados Felipe Cardoso Moreira de Oliveira, Cristiano Moreira de Oliveira Jacinto Pereira, Mariana Gastal, que representam Sueli, afirmaram que não tiveram acesso ao inquérito e que não conseguem contato com a Polícia Civil desde julho. 

— No momento, o escritório não pode prestar nenhuma declaração, pois não temos acesso ao inquérito há alguns meses — afirmaram.

Documentos e comprovantes localizados nas diligências indicaram, ainda, o pagamento de empregadas domésticas das três indiciadas e de faturas do cartão de crédito das sócias e dos filhos delas, segundo a polícia.

Conforme quebra do sigilo bancário, a imobiliária teve um fluxo de caixa de R$ 250 milhões no período de dois anos e meio. As sócias teriam transferido R$ 4 milhões indevidamente da imobiliária para contas pessoais neste período, apontou a investigação.

Em outubro de 2023, a polícia chegou a solicitar a prisão preventiva de Nádia, mas o pedido foi negado pela Justiça. Ela teve o passaporte apreendido e foi proibida de deixar Porto Alegre. No apartamento de Nádia, foi encontrado um comprovante de transferência de R$ 1 milhão para uma empresa do segmento de loterias, de acordo com a polícia.

Sueli Gonzales, ex-sócia da imobiliária, recorreu à Justiça e solicitou para que fosse destituída da sociedade da empresa. A solicitação foi aceita. Contudo, a investigação policial apontou que ela também foi responsável pelos crimes.

Durante o inquérito, mandados de busca e apreensão foram emitidos contra as três sócias, além de dois funcionários. Foram recolhidos seis celulares e centenas de documentos.

A investigação ainda não terminou, pois, até o momento, a polícia apurava somente a responsabilidade das sócias. O levantamento de informações acerca dos funcionários da imobiliária segue.

Relembre o caso

As investigações começaram em 2023, quando a imobiliária passou a ser investigada por suposta apropriação indébita de R$ 1 milhão, lesando 46 condomínios.

A Justiça determinou o ressarcimento dos valores supostamente desviados e decretou o bloqueio das contas da empresa. De acordo com as investigações, o dinheiro repassado pelos síndicos para o pagamento de contas básicas como água, luz e gás, teria ido para a conta pessoal das sócias da imobiliária.

Em outubro de 2023, uma das sócias foi detida por desacatar agentes da Polícia Civil. Ela teria proferido palavras de baixo calão quando os policiais entraram na casa dela para cumprir ordens judiciais.

A empresária Nadia Vieira Schalemberger ficou durante 1h30min na delegacia, assinou termo circunstanciado e foi liberada, sob a condição de usar tornozeleira eletrônica. Na época, a defesa da empresária não comentou o caso, mesmo após os contatos da reportagem.

Na ocasião, a Polícia Civil identificou a suposta participação de dois funcionários da imobiliária nos desvios. Eles supostamente inseriam no sistema de pagamentos notas fiscais "frias" de serviços que teriam sido prestados, como uma manutenção de elevador, por exemplo.

De acordo com a polícia, as sócias-administradoras carimbavam as notas e autorizavam o pagamento. O dinheiro, então, seria sacado do caixa e repassado para as contas pessoais das sócias; outra parte ficava com os dois funcionários e os prestadores de serviços ou fornecedores ganhavam uma gratificação pela emissão da nota fiscal.



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