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Maus-tratos

Polícia investiga se morte de idoso tem relação com supostas torturas em clínica interditada em Canoas

Morador de 84 anos que fala em áudios divulgados pela Polícia Civil na última semana faleceu no dia 23

02/10/2024 - 10h50min


Zero Hora
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Polícia Civil / Divulgação
Local foi interditado na última sexta-feira (27).

Telmo Ramos de Mattos, 84 anos, morava há 20 dias em uma instituição de longa permanência para idosos em no bairro Rio Branco, em Canoas, Região Metropolitana, quando teve uma parada cardíaca e faleceu, no dia 23 de setembro. A morte do aposentado foi dada como natural, até que, dias depois, áudios divulgados pela Polícia Civil indicaram ameaças e agressões atribuídas a funcionários que seriam dirigidas a idosos internados no local. Agora, a polícia investiga se a morte de Telmo foi consequência da violência sofrida.

O estabelecimento é investigado pela Polícia Civil por tortura e maus-tratos e foi interditado pela Justiça, após solicitação do Ministério Público (MP) na sexta-feira (27). No mesmo dia, duas cuidadoras do estabelecimento, Carla da Silva Castro e Tatiane Zepellini, foram presas em flagrante por suspeita de torturarem os residentes.

“Eu vou matar esse velho”. Essa é uma das ameaças que se ouve nos áudios, que, segundo a polícia, forma gravados na última semana. Nos registros divulgados pelo g1 é possível ouvir um idoso gemendo e dizendo “não precisa” e “para, guria” para uma das cuidadoras que o ameaçava. 

A voz do homem foi reconhecida pela família como sendo de Telmo. Geni de Mattos, irmã da vítima, conta que os familiares não suspeitavam de que houvesse violência no local, e que descobriram quando a história chegou a imprensa.

— Quando ele morreu achamos que era decorrente de problemas cardíacos, mas depois de vermos o tipo de tratamento que ele recebia, e as ameaças que faziam para ele, temos certeza de que ele torturado até a morte — afirma Geni.

Arquivo Pessoal / Reprodução
Telmo era viúvo e tinha duas filhas.

Assim como a família, a polícia não tinha conhecimento da possível ligação entre o falecimento de Telmo e as agressões registradas. O delegado Mauricio Barison, responsável pelo caso, diz que, além das agressões, a causa da morte do homem também será investigada:

— A morte dele a princípio não foi violenta, mas é possível que o estresse psicológico, emocional e físico pode ter comprometido as funções cardíacas dele.

A proprietária do estabelecimento, que já prestou depoimento à Polícia Civil, e o marido de uma das cuidadoras também são investigados.

Segundo Geni, o irmão havia pedido para trocar de instituição, pois não estaria satisfeito com os serviços do local. Ele não teria, entretanto, citado violências ou maus-tratos. Os familiares planejavam tirar o idoso do estabelecimento na última semana do mês de setembro, mas mas ele acabou morrendo antes.

— Ele era uma pessoa muito calma, nunca se exaltava. Acho que ele não quis nos preocupar, por isso não contou para gente o que acontecia, só disse que não gostava dali — conta a irmã, que complementa: 

Ele comentou que não estava se sentindo bem. Ele tinha ansiedade, mas disse para a gente que não era ansiedade que ele estava sentido, era algo a mais.

Em outros trechos dos áudios, é possível ouvir as mulheres dizendo frases como “não te levanta que tu vai apanhar”“nós vamos botar ele na cadeira amarrado lá no quarto” e “esse vai tomar muito pau”. Segundo o delegado, o alvo destas ameaças era Telmo.

— É uma barbaridade. Ele foi maltratado até a morte. Eu jamais imaginei que ele pudesse ter sido machucado em um local que deveria cuidar dele — comenta Geni.

Conforme o delegado Barison, as gravações, complementados por depoimentos dos idosos, são indícios fortes de que a morte do idoso possa estar relacionada com o crime. Além disso, a polícia avalia realizar perícias no corpo do idoso. Por enquanto, a investigação permanece sendo sobre maus-tratos e tortura, mas, eventualmente podem se tornar sobre homicídio, comentou o delegado.

Contraponto

Ao g1 a defesa de Carla afirma que a cliente não teve participação nas agressões e que a prisão dela é uma injustiça. A defesa de Tatiane afirma que a cuidadora é inocente.

* Produção: Camila Mendes


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