Após missa de sétimo dia
Familiares e amigos de jovem morta por bala perdida pedem justiça e fazem ato em Porto Alegre
Camilla Lopes Fruck, 25 anos, foi atingida por disparo na cabeça na madrugada do último sábado (16). Suspeito de ser um dos atiradores, de 19 anos, foi preso pela Polícia Civil e pela Brigada Militar, em Butiá
Tristeza, indignação e saudade foram os sentimentos presentes na missa de sétimo dia de Camilla Lopes Fruck, 25 anos, realizada nesta sexta-feira (22), na Paróquia Nossa Senhora de Belém, no bairro Belém Novo, na zona sul de Porto Alegre. A jovem foi vítima de bala perdida na madrugada do último sábado (16), no bairro Restinga.
A solenidade teve início por volta das 18h. Familiares de Camilla distribuíam camisetas estampadas com o rosto da jovem e os dizeres: "Que você encontre a paz que tanto procurava”.
— Meu coração está esfarelado. Arrebentado com essa tragédia, a perda de uma filha jovem com um futuro pela frente é irrecuperável — lamenta o pai de Camilla, Ilson Schneider Fruck, 56 anos.
Um ato que pede justiça pela morte da jovem aconteceu ao final da missa, quando dezenas de amigos e parentes se reuniram em frente a paróquia para soltar balões de cor branca e trocar palavras de força.
— Soltamos os balões para ela ficar livre. Ela buscava muita paz, sempre agiu assim com os outros. Então, foi para mandar coisas boas para ela. E esse ato também foi para, de certa forma, lembrar e pedir para as autoridades olharem para esse caso. A gente vê isso acontecendo muito, mas nunca acha que vai acontecer com alguém tão próximo. Agora o que fica é a saudade e o pedido para não acontecer de novo — diz Eduarda Pacheco, 26 anos, que era melhor amiga de Camilla.
Uma das revoltas dos familiares e amigos é o fato de o suspeito de realizar o disparo que matou Camilla ter sido preso quatro dias antes do crime, mas solto na sequência por decisão judicial, durante audiência de custódia.
— É uma injustiça muito grande. A polícia prende com munição, com arsenal de gangue, e o juiz dá liberdade pra ele ir lá se armar de novo e ir na rua cometer assassinato. Quantas outras pessoas podiam ter morrido também por esse indivíduo que a Justiça soltou? Tem de prender o resto dos integrantes das quadrilhas envolvidas e manter presos — reivindicou o pai de Camilla.
O que dizem as autoridades
Procurado pela reportagem na quinta-feira (21), o Judiciário enviou nota onde afirma que “para que a prisão fosse convertida em preventiva, seria necessário, entre outros requisitos, um pedido formal da autoridade policial ou do Ministério Público, o que não ocorreu no caso”.
O Ministério Público (MP) enviou nota na sexta-feira (22), afirmando que “se manifestou pela concessão da liberdade provisória do flagrado, tendo em vista que, no crime de porte de munição, não ocorreu emprego de grave ameaça ou violência”. O texto acrescenta que o homem não teria, ainda, antecedentes criminais ou infracionais e que “também não houve representação por parte da polícia pela prisão preventiva”.
Da prisão com munição à morte de Camilla
Dia 12 de novembro
Fabiano de Souza, 19 anos, foi flagrado pela Brigada Militar em 12 de novembro — terça-feira antes da morte de Camilla — com munição.
Com ele, foram apreendidas 125 munições de calibre .40, três de calibre 9 milímetros — de uso restrito — e uma de calibre 45. Ele foi preso em flagrante.
Durante a audiência de custódia, ainda no dia 12, foi decidido que ele seria solto.
Dia 13 de novembro
Às 9h53min do dia 13 de novembro, Fabiano de Souza recebeu a liberdade.
Dia 16 de novembro
A morte de Camilla acontece menos de três dias depois da soltura, na madrugada do dia 16, enquanto esperava amigos dentro do carro, em frente a uma distribuidora de bebidas.
Dia 19 de novembro
Souza foi capturado novamente no dia 19, quando pistas sobre a arma usada no homicídio levaram os investigadores até ele.
O suspeito foi encontrado pela Polícia Civil e pela Brigada Militar na periferia do município de Butiá, na Região Carbonífera.
Investigação
As apurações indicam que o suspeito seria segurança do tráfico de uma facção criminosa e teria antecedentes por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e lesão corporal.
Após a prisão dele, a polícia segue tentando identificar quem são os outros envolvidos no tiroteio — os membros da facção rival.
Em paralelo, a investigação continua para apurar qual o envolvimento das lideranças dos grupos criminosos nesse tiroteio. Ainda não há previsão para a conclusão do inquérito.
O caso
Camilla Lopes Fruck, 25 anos, morreu durante troca de tiros na madrugada de 16 de novembro, exatamente um mês antes de seu aniversário de 26 anos. O crime aconteceu em frente à Esplanada da Restinga, na zona sul de Porto Alegre, por volta das 3h30min.
De acordo com a Polícia Civil, a vítima estava em um carro com outras quatro pessoas: dois homens e duas mulheres. O grupo parou em frente a um depósito na Estrada João Antônio da Silveira para comprar bebidas. Dois amigos desceram do automóvel e foram até o estabelecimento, enquanto as jovens ficaram aguardando no carro.
Neste momento, criminosos teriam começado a disparar na mesma rua. Durante o tiroteio, Camilla foi atingida na cabeça. Ela foi levada ao Hospital da Restinga, mas não resistiu.
Segundo a polícia, o tiroteio seria resultado de um conflito entre facções pelo tráfico de drogas. Dois grupos criminosos foram identificados pela polícia — um ao qual pertence o segurança do tráfico preso, uma facção de formação mais recente com atuação nas zonas norte e sul da Capital.
O outro grupo é vinculado a uma facção com berço no Vale do Sinos, e que possui ramificações por praticamente todo o Estado.
Quem era
Camilla Lopes Fruck, 25 anos, era considerada apaixonada pela vida, alegre e amigável. A vítima vivia no bairro Belém Novo, na Zona Sul, região onde aconteceu o assassinato.
Segundo a amiga Endriely Barbosa, 24 anos, Camilla havia sido aprovada em um emprego recentemente e começaria na nova vaga na segunda-feira seguinte ao crime (18).
Nas redes sociais, a vítima se identificava como estudante de técnico de enfermagem e torcedora do Internacional. Além disso, ela tinha a pet Pandora, a qual era muito apegada. A cachorrinha ficou sob os cuidados da família.
Colabore
Quem tiver informações que auxiliem na elucidação do caso pode entrar em contato com a Polícia Civil, por meio do telefone 0800-642-0121, do Departamento de Homicídios.