Polícia



Lavagem de dinheiro

Polícia abre nova investigação contra líder de facção apontado como um dos executores de preso em penitenciária

Rafael Telles da Silva, 36 anos, o Sapo, foi identificado como um dos mentores do assassinato do rival Jackson Peixoto Rodrigues, 41, o Nego Jackson, dentro da Pecan 3, em Canoas

08/12/2024 - 14h13min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Polícia do Paraguai / Divulgação
Nego Jackso foi morto dentro de cela da Pecan 3. Polícia mira facção rival ao grupo criminoso ao qual ele pertencia.

Um segundo inquérito da Polícia Civil foi aberto contra a facção envolvida na morte de um preso na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) 3. O foco da nova investigação é lavagem de dinheiro, ou seja, a forma usada pelo grupo criminoso para ocultar valores obtidos de maneira ilegal, como, por exemplo, por meio do tráfico de drogas. No centro dessa apuração está Rafael Telles da Silva, 36 anos, o Sapo, apontado como um dos líderes da organização e também como um dos mentores da execução de Jackson Peixoto Rodrigues, 41.

Nego Jackson, como era conhecido o preso assassinado a tiros dentro do Complexo Prisional de Canoas, era uma das lideranças de um grupo rival ao de Sapo. No dia 23 de novembro, ele foi alvejado por uma sequência de disparos de pistola calibre 9 milímetros dentro de uma das celas da penitenciária. O apenado chegou a ser socorrido, mas morreu durante atendimento médico. O caso levou a uma crise no sistema prisional gaúcho — o governo do Estado admitiu que se trata de um episódio inaceitável e que materializa falhas na prisão.

Uma série de medidas foi adotada após o episódio, entre elas o reforço do policiamento nas ruas — com 520 policiais militares das tropas especiais — a fim de evitar retaliações entre os grupos, e o afastamento de cinco servidores da penitenciária. A segunda medida, conforme o governo, é uma forma de manter a isenção durante as investigações e não denota necessariamente culpa por parte dos servidores. As 17 lideranças que eram mantidas na Pecan 3 foram transferidas de volta para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) após a unidade receber bloqueadores de sinal de celular. Já Sapo foi levado ao sistema penitenciário federal — a Polícia Penal afirma que essa transferência já estava prevista.

Na semana passada, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) desencadeou a Operação Queda Livre contra a facção envolvida no crime. Na ação, foram presas 11 pessoas suspeitas de envolvimento em casos de execuções protagonizadas pelo grupo criminoso. Uma dessas mortes, segundo a polícia, teria sido ordenada por Sapo por meio de videochamada de dentro da prisão, em setembro deste ano.

Asfixia financeira

A investigação de lavagem de dinheiro é mais um passo dessa série de estratégias adotadas após o crime. O intuito agora da investigação da Delegacia de Polícia de Repressão à Lavagem de Dinheiro do DHPP é atacar a facção economicamente.

— É uma medida visando a asfixia financeira da facção, principalmente da parte envolvida no ato do assassinato da liderança rival, na penitenciária. Tudo será apurado. Quem tiver envolvimento financeiro será alvo da investigação, todos os valores identificados como obtidos de forma ilícita, independentemente da pessoa que estiver em poder, serão retirados e entregues ao Judiciário— afirma o diretor do DHPP, delegado Mario Souza.

Vamos atacar o poderio econômico dessa facção criminosa para, por exemplo, enfraquecer a capacidade de compra de armas e drogas.

MARIO SOUZA

Diretor do DHPP

A estratégia faz parte de um protocolo de sete medidas adotado pelo departamento, em caso de homicídios cometidos pelo crime organizado. Essas ações são colocadas em prática, em sequência, de forma escalonada, sempre que ocorre algum homicídio patrocinado pelas facções. As operações de lavagem de dinheiro representam a quinta medida implementada nessa linha. O intuito é fazer com que, além de prejuízo com prisões de integrantes e responsabilização dos envolvidos no homicídio, a facção sinta os efeitos na parte financeira.

— As outras medidas seguem sendo adotadas, como a saturação de área, com policiamento, as operações especiais, como a realizada na semana passada. Esse é mais um passo que visa desestruturar o grupo não só com prisões, mas também nessa área — explica Souza.

A apuração da morte

divulgação / Brigada Militar/Divulgação
Rafael Telles da Silva, o Sapo, é apontado como um dos líderes da organização investigada e um dos mentores da execução de Nego Jackson.

Além dessa investigação, a Polícia Civil apura também como se deu a morte dentro da penitenciária. Entre as questões que devem ser esclarecidas é como a arma ingressou na prisão e como os presos tiveram acesso à cela da vítima. Uma das possibilidades é que a pistola tenha sido entregue na galeria com uso de um drone. Nego Jackson foi morto a tiros, que teriam sido disparados por meio de uma portinhola da cela.

Além de Sapo, teve prisão preventiva decretada pelo crime Luis Felipe de Jesus Brum, 21 anos. Os dois são integrantes da facção rival a de Nego Jackson. Quando a polícia tentou ouvi-los sobre o crime, permaneceram em silêncio. Eles teriam se aproveitado do momento da conferência de presos, realizada rotineiramente, para sair, acessar o corredor, ir até a cela do rival e disparar pela abertura na porta.

A polícia aguarda a finalização de perícias para concluir como se deu a dinâmica da execução. Um dos pontos apurados é se houve participação de mais pessoas na morte, seja de outros apenados na penitenciária, ou de membros da facção, do lado de fora. A Polícia Penal também está com uma investigação em andamento para averiguar como aconteceu a execução. Neste caso, a expectativa é de conclusão na próxima semana.

Outras medidas

Desde a ocorrência no Complexo Prisional de Canoas, o Grupo de Ações Especiais (Gaes) está presente na unidade, intensificando os procedimentos de segurança, segundo o governo do Estado. Além disso, revistas gerais foram realizadas em vários estabelecimentos prisionais do Rio Grande do Sul, como forma de tentar prevenir esse tipo de crime. Outra ação adotada — que gerou reclamação por parte dos familiares dos presos — foi a desarticulação do comércio no entorno do Complexo Prisional de Canoas.


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