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Operação

Grupo se passou pelo chefe da Polícia Civil do RS para extorquir vítima do golpe dos nudes

Suspeitos de integrar quadrilha são alvo de ofensiva nesta terça-feira. Mandados são cumpridos em São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul e Canoas

25/02/2025 - 16h39min

Atualizada em: 25/02/2025 - 16h39min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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“Meu nome é Fernando Sodré. Sou chefe da corregedoria geral de Campo Bom, estou com uma denúncia em seu nome”. Foi dessa forma que um criminoso se apresentou no início do ano passado, por meio de um aplicativo de mensagens, fingindo ser o chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. O intuito era extorquir uma vítima do golpe dos nudes

Após ser ameaçado de ir para a prisão, o jovem de 22 anos, que reside no interior do RS, pagou cerca de R$ 50 mil ao grupo criminoso. Na manhã desta terça-feira (25), suspeitos de integrar o esquema são alvo da operação da Polícia Civil. 

Foram cumpridos seis mandados de prisão temporária e seis mandados de busca e apreensão, nos municípios de São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul e Canoas. Há buscas realizadas também na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan). Os investigados identificados nesta etapa, segundo a polícia, teriam recebido os valores obtidos com as extorsões.

À frente da investigação, a delegada Luciane Bertoletti, titular da 3ª Delegacia de Canoas, explica que essa é segunda fase da investigação. Em setembro do ano passado, seis pessoas já tinham sido presas pelo mesmo crime. O golpe, que originou a apuração, aconteceu no início do ano passado. 

A polícia acredita, no entanto, que os mesmos criminosos tenham agido contra outras vítimas, em razão dos valores movimentados em suas contas. A forma de as quadrilhas agirem no chamado golpe dos nudes segue um roteiro com intuito de apavorar a vítima e fazer com que ela deposite os valores.

— Os criminosos, por meio de redes sociais, identificam uma provável vítima e, com um perfil falso de uma jovem mulher, entram em contato. Trocam mensagens, migram para o WhatsApp e começam a trocar fotos íntimas. Em um segundo momento, entra alguém alegando ser o pai dessa suposta menor, dizendo que aquele fato é enquadrado como pedofilia. E que vai buscar autoridades policiais para tomar as providências — explica a delegada.

O golpe

No ano passado, o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, recebeu um alerta por meio das redes sociais de que seu nome estava sendo usado por golpistas. A polícia deu início à investigação e descobriu que num dos casos uma das vítimas, um morador do noroeste do RS, havia desembolsado R$ 50 mil após ser extorquido e ameaçado pelo grupo. Os policiais conseguiram identificar os suspeitos de integrar o esquema.

— Estavam não só cometendo um crime, mas também usando a foto do chefe de Polícia. Na primeira fase, já tivemos pessoas presas. E na segunda fase foi descoberta essa ramificação desse grupo, que vai além daqueles que fazem o contato, o golpe. São outras pessoas que repassam os valores entre eles — afirma Sodré.

Segundo o delegado, não é incomum esse tipo de grupo criminoso fazer uso do nome de autoridades públicas para extorquir as vítimas.

— Tem casos de valores mais altos, de R$ 150 mil, R$ 200 mil, que as pessoas pagam por medo de ter a reputação afetada. Eles ameaçam enviar para a família, para a empresa. Tivemos casos de outras autoridades, em outros golpes. Por isso, é muito importante que registrem, para que possamos tomar as providências necessárias. É importante que as pessoas tenham cuidado, pensem duas vezes. Se acontecer de se deixar envolver, porque esses grupos são envolventes, procure a polícia — diz o delegado.

Nos parece uma ousadia muito grande, além de intimidar e extorquir uma pessoa, usar uma foto de uma autoridade pública conhecida

FERNANDO SODRÉ

Chefe da Polícia Civil

Morte forjada e documentos falsos

Em muitos dos casos, os alvos são homens de meia idade, mas, neste fato, a vítima foi um jovem de 22 anos. Os bandidos inicialmente se identificaram com o nome de outro delegado. A conversa se iniciou num tom conciliatório, no qual o falso policial alegava querer resolver o problema. No entanto, ao longo das conversas, ele passou a exigir os pagamentos em sequência.

Para convencê-lo a fazer os pagamentos os bandidos forjaram a internação da suposta adolescente numa clínica e, posteriormente, inclusive a morte dela, alegando que ele precisava auxiliar com os custos funerários. Um falso atestado de óbito foi enviado por mensagens. Após ele fazer os pagamentos, no entanto, ainda assim, recebeu um falso mandado de prisão em seu nome. Depois disso, o rapaz fez novos depósitos ao falso delegado, que seguia afirmando que estava tentando solucionar o caso.

Após esta etapa, os criminosos entraram em contato mais uma vez, por outro telefone. Foi neste momento que passaram a se identificar como o delegado Sodré, afirmando que havia descoberto o esquema e exigindo novos valores para que o caso não fosse adiante. Após a série de extorsões, o rapaz decidiu procurar ajuda da polícia.

Na verdade, é um crime gravíssimo, que aterroriza a vida da vítima. Em outras oportunidades, já vimos inclusive suicídios decorrentes disso.

LUCIANE BERTOLETTI

Delegada de Polícia

— Essa segunda fase foca nesse segundo nível, que são as pessoas que receberam os valores daqueles que foram cooptados para emprestar as contas. Trata-se de pessoas que gerenciavam as contas bancárias, sacavam os valores e também aqueles que cooptavam, recrutavam pessoas para os depósitos de valores ilícitos. Esses valores eram pulverizados entre os criminosos que faziam parte desse grande esquema — complementa a delegada Luciane. 

 Como não cair no golpe dos nudes:

  • Evite iniciar conversas por meio de aplicativos de mensagens com perfis desconhecidos
  • Desconfie também de solicitações de amizades nas redes sociais
  • Não troque fotografias, que possam ter conotação íntima, por meio de aplicativos, como WhatsApp ou Messenger.
  • Evite conversas por meio de aplicativos com prefixo telefônico desconhecido.
  • Não faça depósitos, transferências ou pagamentos para desconhecidos.
  • Se for vítima de algum golpe ou de tentativa de abordagem desse tipo, procure a polícia e registre ocorrência. 
  • Lembre-se: pedofilia é crime!

Fonte: Polícia Civil


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