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Zona Norte

"A família toda está destruída", diz mãe de mulher que teve o corpo queimado em Porto Alegre 

Patrycia Dutra Mendonça, 34 anos, está hospitalizada desde sexta-feira (7), quando sofreu queimaduras em cerca de 25% do corpo. Ex-namorado da vítima foi preso na noite de quarta-feira (12) por suspeita do crime

14/03/2025 - 15h58min

Atualizada em: 14/03/2025 - 15h58min


Júlia Ozorio
Júlia Ozorio
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Arquivo pessoal/Divulgação
Patrycia Dutra Mendonça, 34 anos, está internada em estado grave.

O relacionamento de Patrycia Dutra Mendonça, 34 anos, já havia chegado ao fim há mais de um ano quando, segundo a Polícia Civil, ela sofreu uma tentativa de feminicídio por parte do ex-companheiro. O caso aconteceu na sexta-feira (7) em uma residência da zona norte da Capital. O suspeito, de 30 anos, foi preso preventivamente na quarta-feira (12)

Desde o fato, a vítima está hospitalizada em estado grave, com 25% do corpo queimado, incluindo regiões como a face e o tronco.

— A família toda está destruída. Todos estão muito tristes. Vimos uma luz no fim do túnel com a prisão, mas a Paty segue entubada. Se ela sobreviver, vai ter que passar por várias cirurgias plásticas. O caso é bem grave e vão ficar sequelas — lamentou a mãe da vítima, Mery Dutra, 52 anos, que ainda não conseguiu falar com a filha desde o ocorrido.

À polícia, o preso, que se relacionou por cerca de quatro anos com a vítima, negou que tenha acontecido crime, justificando que houve um acidente na cozinha da casa. Segundo ele, Patrycia estava manuseando álcool perto do fogão, o que causou fogo e queimaduras na ex-companheira.

Para familiares, essa história não faz sentido, levando em consideração o histórico de ameaças e agressões feitas por ele contra Patrycia, que já havia registrado ocorrência contra o ex-companheiro. 

— Durante a pandemia, ele já tinha tocado álcool em gel pela casa e na minha filha, só que ele não conseguiu terminar, de fato. Tem mensagens que ele dizia que ia bater nela com um pau, deixando em estado vegetativo, que ia picar ela em quatro. Ele ameaçava que ia bater, que ela não ia ficar com ninguém — afirma Mery.

A delegada Fernanda Campos, titular da 2ª Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Alegre, disse que ainda não foi possível conversar com a vítima, uma vez que ela está hospitalizada em estado grave. A polícia deve colher o testemunho da vítima sobre o fato assim que for possível.

O suspeito, que possui antecedentes por lesão corporal e ameaça, foi encaminhado na quarta-feira ao Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp).

Divulgação/Polícia Civil
Suspeito foi preso na quarta-feira (12) pela Polícia Civil.

Divertida, alegre e torcedora do Internacional

Considerada uma pessoa divertida, alegre e preocupada com os outros, Patrycia passou a viver de forma mais reclusa nos últimos anos. Segundo familiares, isso foi reflexo do relacionamento que ela manteve com o suspeito de atear fogo nela.

— A Patrícia é uma pessoa incrível. Humana. Qualquer problema, nós ligávamos para ela, porque ela sempre resolvia. Ela gostava de ajudar os outros. Ela era divertida, estava sempre sorrindo. Desde que ela conheceu ele, ela mudou. Começou a ficar muito quieta, parecia triste — relata Mery Dutra.

Ela, que sonhava em viajar para diferentes destinos, havia conquistado carro e apartamento próprios após anos de trabalho como técnica de saúde bucal em um posto de saúde de Porto Alegre.

Entre afazeres e trabalho, ela gostava de praticar vôlei com amigos e participar de torcidas organizadas do Internacional. Contudo, todos esses hobbies teriam sido protelados porque o suspeito de tentativa de feminicídio não gostava que ela os praticasse.

— Eu acabava convidando ela para ir nos jogos comigo e ela dizia que não ia porque ele ficava bravo. Muitas vezes que ela queria ir para o jogo, ela tinha que pedir permissão para ele também. Então, ela parou de participar das torcidas — acrescentou Marcela Dutra, 18 anos, uma das quatro irmãs de Patrycia.

Mesmo após romper o relacionamento, segundo a irmã, a vítima teria sido procurada por diversas vezes pelo suspeito, que teria continuado a realizar ameaças, sobretudo, quando ela saía com amigos ou quando ia viajar.

Doação de sangue

Patrycia Dutra Mendonça, que está entubada e se recuperando das queimaduras, precisa de doação de sangue para o tratamento.

Interessados podem colaborar doando qualquer tipo de sangue no Hospital Conceição, no bairro Cristo Redentor, em Porto Alegre (Avenida Francisco Trein, 596).

Onde pedir ajuda em casos de violência contra a mulher

Brigada Militar – 190

  • Se a violência estiver acontecendo, a vítima ou qualquer outra pessoa deve ligar imediatamente para o 190. O atendimento é 24 horas em todo o Estado.

Polícia Civil

  • Se a violência já aconteceu, a vítima deverá ir, preferencialmente à Delegacia da Mulher, onde houver, ou a qualquer Delegacia de Polícia para fazer o boletim de ocorrência e solicitar as medidas protetivas.
  • Em Porto Alegre, há duas Delegacias da Mulher. Uma fica na Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia, no bairro Azenha. Os telefones são (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências).
  • A outra fica entre as zonas Leste e Norte, na Rua Tenente Ary Tarrago, 685, no Morro Santana. A repartição conta com uma equipe de sete policiais e funciona de segunda a sexta, das 8h30min ao meio-dia e das 13h30min às 18h.
  • As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há DPs especializadas no Estado. Confira a lista neste link.

Delegacia Online

  • É possível registrar o fato pela Delegacia Online, sem ter que ir até a delegacia, o que também facilita a solicitação de medidas protetivas de urgência.

Central de Atendimento à Mulher 24 Horas – Disque 180

  • Recebe denúncias ou relatos de violência contra a mulher, reclamações sobre os serviços de rede, orienta sobre direitos e acerca dos locais onde a vítima pode receber atendimento. A denúncia será investigada e a vítima receberá atendimento necessário, inclusive medidas protetivas, se for o caso. A denúncia pode ser anônima. A Central funciona diariamente, 24 horas, e pode ser acionada de qualquer lugar do Brasil.

Ministério Público

  • O Ministério Público do Rio Grande do Sul atende em qualquer uma de suas Promotorias de Justiça pelo Interior, com telefones que podem ser encontrados no site da instituição.
  • Neste espaço é possível acessar o atendimento virtual, fazer denúncias e outros tantos procedimentos de atendimento à vítima. Acesse o site.

Defensoria Pública – Disque 0800-644-5556

  • Para orientação quanto aos seus direitos e deveres, a vítima poderá procurar a Defensoria Pública, na sua cidade ou, se for o caso, consultar advogado(a).

Centros de Referência de Atendimento à Mulher

  • Espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência.

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