Polícia



Instituto Penal Feminino 

Edelvânia Wirganovicz, condenada pela morte do menino Bernardo, é encontrada morta na cadeia, em Porto Alegre

Óbito foi confirmado pela Polícia Penal. Ela retornou ao regime semiaberto em 2025 após dois anos em prisão domiciliar

23/04/2025 - 12h03min

Atualizada em: 23/04/2025 - 12h04min


Lisielle Zanchettin
Lisielle Zanchettin
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Jefferson Botega/Agencia RBS
Edelvânia recebeu sentença de 22 anos e 10 meses em julgamento realizado em março de 2019.

Condenada pela morte de Bernardo Uglione Boldrini, em abril de 2014, Edelvânia Wirganovicz, 51 anos, foi encontrada morta nesta terça-feira (22), dentro do Instituto Penal Feminino de Porto Alegre.

O óbito foi confirmado pela Polícia Penal. De acordo com a nota divulgada,  os indícios apontam para que a "própria apenada tenha cometido o ato". Ela retornou ao regime semiaberto em 2025 após dois anos em prisão domiciliar.

A Polícia Penal e o Instituto-Geral de Perícias (IGP) foram acionados. A Corregedoria-Geral do Sistema Penitenciário também acompanha a apuração do caso. 

Edelvânia foi condenada a 22 anos e 10 meses de prisão pela morte do menino Bernardo em março de 2019. O crime aconteceu em abril de 2014, no município de Três Passos, no noroeste do Rio Grande do Sul. 

André Ávila/Agencia RBS
Edelvânia Wirganovicz foi encontrada morta no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre.

Em maio de 2022, Edelvânia Wirganovicz foi para o regime semiaberto. Em 2023, uma decisão do juízo da 2ª Vara de Execuções Criminais da comarca de Porto Alegre determinou que Edelvânia cumprisse pena em prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica em razão da falta de vagas no sistema prisional.

No entanto, em 25 de fevereiro de 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF) revogou a prisão domiciliar e determinou o retorno dela ao semiaberto. A decisão do ministro Cristiano Zanin atendeu uma reclamação da Procuradoria de Recursos do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS). Segundo o MP, Edelvânia não poderia receber o benefício de regime domiliciar porque teria 50% de pena pendente para cumprimento. 

Procurado, Jean Severo, advogado de defesa Edelvânia Wirganovicz, não se manifestou até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto. 

Mauro Vieira/Agencia RBS
Bernardo Boldrini foi morto em 2014.

Madrasta de Bernardo é autorizada a ir para regime semiaberto

Na última quinta-feira (17), a Justiça determinou que a madrasta de Bernardo, Graciele Ugulini, irá para regime semiaberto. A decisão foi anunciada pelo juiz Geraldo Anastácio Brandeburski Júnior, do 1º Juizado da 2ª Vara de Execuções Criminais (VEC) da Comarca de Porto Alegre.

Ela foi condenada em 2019 por homicídio quadruplamente qualificado e ocultação de cadáver. Atualmente, ela cumpre pena no Presídio Estadual Feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre.

De acordo com a decisão, Graciele deverá ser transferida no prazo de cinco dias para uma penitenciária compatível com o regime semiaberto.

Segundo o juiz, a mulher atingiu o requisito para progressão de regime, conforme previsto na Lei de Execução Penal. Também foram identificados elementos para o semiaberto como exercício de atividades laborativas e educacionais.

Morte de Bernardo

De acordo com a polícia, o menino foi visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril de 2014, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância de onde ele morava. No dia 6 de abril, o pai do menino foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava no local e que não havia chegado nos dias anteriores.

Vários dias após o suposto sumiço do filho, o pai de Bernardo procurou uma emissora de rádio de Porto Alegre para pedir ajuda nas buscas pelo menino.

— A gente está com uma força-tarefa com a Polícia Civil, Brigada Militar. Assim, a gente tá procurando esse menino, que é o Bernardo Uglione Boldrini — relatou Leandro Boldrini à Rádio Farroupilha, do Grupo RBS.

O corpo do menino foi achado em Frederico Westphalen, no Norte do estado, a 80 km de Três Passos. Na época, a polícia não descartava nenhuma linha de investigação. Dois carros da família foram recolhidos para perícia.

André Piovesan/Folha do Noroeste
Menino foi encontrado morto em Frederico Westphalen.

Na mesma noite em que o corpo foi encontrado, a polícia prendeu o pai, a madrasta, Graciele Ugulini, e uma amiga do casal, Edelvânia Wirganovicz. No dia do desaparecimento, Graciele foi multada por excesso de velocidade entre Três Passos e Frederico Westphalen. Bernardo estava no banco de trás do carro.

O corpo de Bernardo foi velado em 16 de abril, no ginásio do Colégio Ipiranga, onde ele estudava, em Três Passos. A cerimônia foi marcada pela comoção de moradores do município. A vítima foi enterrada no Cemitério Municipal de Santa Maria, no mesmo jazigo da mãe, Odilaine, que cometeu suicídio em fevereiro de 2010, aos 30 anos.

Carlos Macedo/Agencia RBS
Bernardo Boldrini foi velado em ginásio de colégio em Três Passos.

Investigação

Órfão de mãe, o garoto se queixava de abandono familiar. Bernardo chegou a procurar o Judiciário no início de 2014 para falar do assunto, pedindo para morar com outra família, segundo o Ministério Público.

A avó materna, Jussara Uglione, disse que a criança era maltratada pela madrasta.

— Ela não deixava ele entrar em casa enquanto o pai não chegasse — afirmou.

Já uma ex-babá do menino afirmou que ele recebia pouca atenção do pai e da madrasta.

— Ela sempre afastava o menino dela. Agredia com palavras — disse.

Em 10 de maio de 2014, a A Polícia Civil prendeu o irmão de Edelvania, Evandro Wirganovicz, suspeito de participação ou ocultação de cadáver no caso. A Justiça considerou que o terreno onde o corpo de Bernardo foi encontrado era de difícil escavação, o que poderia indicar a participação de um homem, além de Edelvânia e da madrasta.

Em 15 de maio daquele ano, o pai, a madrasta e a amiga foram denunciados por homicídio quadruplamente qualificado (motivos torpe e fútil, emprego de veneno e recurso que dificultou a defesa da vítima). Eles também foram acusados de ocultação de cadáver. 

Dois julgamentos

O primeiro júri do Caso Bernardo ocorreu em março de 2019. Na ocasião, Leandro foi condenado ao lado dos outros três réus — a madrasta do menino, Graciele Ugulini; a amiga da madrasta, Edelvânia Wirganovicz; e o irmão de Edelvânia, Evandro Wirganovicz.

Contudo, o pai conseguiu a anulação da primeira sentença em dezembro de 2021. Os desembargadores do Tribunal de Justiça consideraram que houve disparidade de armas entre a acusação e a defesa, o que acabou beneficiando Boldrini.

O novo júri foi realizado em março de 2023. Dessa vez, o médico Leandro Boldrini foi condenado a 31 anos e oito meses de prisão pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado e por falsidade ideológica. Ele foi absolvido da acusação de ocultação de cadáver. Boldrini cumpre pena em regime semiaberto em Santa Maria.

A madrasta Graciele Ugulini está presa no Presídio Estadual Feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre.

Evandro Wirganovicz cumpriu a pena de nove anos e meio de prisão, extinta em janeiro de 2024, e está solto.


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