Polícia



Estelionato

Ao menos 10 moradores do RS perderam mais de R$ 1 milhão no golpe da falsa corretora de investimentos

Entre as vítimas que registraram boletim de ocorrência há um homem de 69 anos que afirma ter tido prejuízo de R$ 3,5 milhões

03/06/2025 - 16h30min

Atualizada em: 03/06/2025 - 16h31min


Vinicius Coimbra
Vinicius Coimbra
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Polícia Civil/Divulgação
Um dos homens presos em Natal durante operação em 22 de maio.

Busca pela confiança da vítima, pressão por depósitos, resultados financeiros exorbitantes e plataformas manipuladas. Esses são elementos comuns identificados pela 8ª Delegacia de Polícia (8ªDP) de Porto Alegre na investigação do golpe das falsas corretoras de investimentos.

Na semana passada, os agentes observaram disparada no número de registros após operação que desarticulou um grupo suspeito de causar um prejuízo de R$ 1,8 milhão a um morador da Capital. Na ofensiva em 22 de maio, dois suspeitos foram detidos em Natal, no Rio Grande do Norte. 

Entre as vítimas que registraram boletim de ocorrência há um homem que afirma ter perdido R$ 3,5 milhões.

— É um golpe sofisticado, com uma engenharia social complexa. Com esse grau de elaboração, não me lembro de ter visto nos 25 anos que sou delegado — resume Juliano Ferreira, responsável pelo inquérito.

Ferreira estima que 30 pessoas tenham procurado a delegacia na semana passada. Dezenas de supostas vítimas também contataram a equipe por ligações e pela internet. Ao menos 10 vítimas relataram perdas de mais de R$ 1 milhão.

A soma dos prejuízos relatados fica na casa dos R$ 15 milhões, sofridos por moradores da Capital e do Interior que buscaram a delegacia.

Como funciona o esquema

As histórias convergem para um esquema semelhante, que tem como principais alvos idosos que pesquisam corretoras de investimentos na internet.

O contato é feito a partir do número de telefone informado pela vítima ou por mensagens automáticas no site — os chamados chatbots. Depois, a conversa passa a ocorrer pelo WhatsApp. 

Também há relatos de contatos telefônicos sem a pesquisa prévia pelo serviço. Os golpistas costumam se apresentar como integrantes de corretoras com atuação fora do país e ligadas aos principais bancos mundiais. Eles afirmam atuar em bolsas de valores e na compra de criptomoedas (moedas digitais).

Perda de R$ 3,5 milhões

Após os depósitos nas contas do grupo, os golpistas permitem que a pessoa faça saques, numa tentativa de fazer parecer que o esquema não é fraudulento. Depois, acreditando tratar-se de um sistema seguro, o investidor aumenta os aportes. 

Foi o que ocorreu com um homem de 69 anos, morador da Capital, que relatou à polícia prejuízo de R$ 3,5 milhões no esquema. 

O valor foi depositado durante oito meses, período no qual a suposta corretora permitiu saques entre R$ 20 mil e R$ 30 mil. O idoso, porém, foi impedido de ter acesso ao patrimônio total.

Todo o estelionatário busca a confiança para iludir a vítima e fazê-la se sentir confortável. A pessoa deposita um valor menor e depois resgata. À medida que a confiança aumenta, eles convencem a vítima a investir mais. Daí começam a dificultar o saque, alegando que precisam de tempo para cumprir a promessa de retorno e que há uma multa para sacar. Esse é o golpe — diz o delegado.

Outra estratégia é exigir metas de depósitos para atingir um percentual maior de rentabilidade do investimento. 

Se a vítima não enviar as quantias, diz a narrativa, o montante não se valorizará conforme o assegurado pela falsa corretora. 

Também ocorre o condicionamento de mais dinheiro como forma de “multa” por interromper o investimento. Isso aconteceu com uma vítima que depositou R$ 1,1 milhão, mas, para ter acesso ao valor, tinha de pagar R$ 20 mil à suposta corretora como penalidade.

Valorização manipulada

Os falsos corretores prometem ganhos iniciais entre 20% e 30%, em poucos meses, algo acima da média do mercado. A rentabilidade pode ser superior em caso de mais aportes. 

Segundo o delegado, os golpistas enviam um link para a vítima acessar a plataforma na qual pode acompanhar a evolução do patrimônio. Os valores, porém, são manipulados para simular a valorização.

— É um trabalho diário. O investidor recebe indicações de investimento, onde é melhor colocar o dinheiro, o que está valorizando, mas, na verdade, tudo não passa de ilusão — acrescenta Ferreira.

O esquema é tão sofisticado que as vítimas “acreditam até o fim” na narrativa, segundo Tatiana da Rosa Giuliatto, comissária da 8ª DP.

— As pessoas registram boletim de ocorrência e apontam como prejuízo aquilo que teria “rendido” na plataforma. Na verdade, elas perderam tudo o que botaram. O primeiro centavo que elas investiram na empresa já foi perdido. Tudo aquilo que eles viram diariamente, aquele suposto aumento de rendimento, não existiu, é fictício — relata.

Segundo ela, a investigação trabalha com a hipótese de que o esquema tenha ramificações em outras regiões do país.

— É tudo muito semelhante: a plataforma, os argumentos e o modus operandi. Estamos lidando com mais de um grupo criminoso que possui algum elo em comum. Por isso, mantemos contato diário com polícias de outros Estados, que estão nos ajudando na identificação de criminosos. Temos certeza que há mais pessoas envolvidas — afirma a comissária.


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