Alvo de operação
Áudios e mensagens mostram como atuava advogada investigada por fornecer drogas e celular a detentos
Suspeita, que está presa, entregava itens a seus clientes, que serviam de interlocutores para que outros presos recebessem os artigos proibidos


A advogada que foi um dos alvos de operação da Polícia Civil deflagrada nesta quinta-feira (10) criou esquema de entrega de drogas e equipamentos eletrônicos durante visitas a prisões gaúchas. É o que aponta a investigação do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), após análise de áudios e mensagens trocados entre ela e os clientes.
Conforme a apuração, a advogada era contratada por membros do grupo criminoso alvo da operação. Pelo menos 12 pessoas foram presas preventivamente durante a ofensiva. O nome dela não foi divulgado, mas Zero Hora apurou que se trata de Fernanda dos Santos.
Fernanda foi detida em flagrante duas vezes ao repassar itens para clientes no parlatório – local onde detentos e advogados se encontram. A última foi em maio – ela segue presa. A reportagem busca a defesa dela para contraponto.
Troca de mensagens
A reportagem teve acesso a trocas de mensagens, extraídas do celular de um dos presos que era cliente da advogada. Conforme apuração, esse apenado atuava como mediador entre a investigada e outros presos que desejavam receber os itens. Ela acessava os locais por ser advogada, ainda que não representasse oficialmente os presos que visitava.

Na conversa por um aplicativo de mensagens, o preso que atuava como mediador entra em contato com a advogada:
— Em Charqueadas consegue entrar com algo?
Ela responde que a entrada depende do tipo de prisão:
— Depende onde (qual dos módulos).
Em outro trecho, esse apenado explica que eles fizeram um buraco no parlatório:
— O parlatório é encostado na cela, aí abrimos o furo pela cela que dá no corredor do lado do parlatório.
Após fazer a entrega, a advogada destaca que o buraco foi feito no lugar errado:
— Tinham que ter feito embaixo, não em cima. Ali dá pra ver de longe e o advogado vê também, tinha que ter feito embaixo.
Em outra conversa, ela conta ao interlocutor que pediu que o pagamento fosse em dinheiro, e reforça que é necessário arrumar o buraco:
— Pedi pra eles que fossem dinheiro, pra mim era melhor (...). Tem de arrumar o negócio deles ali (o buraco feito no parlatório).
A advogada ainda explica que entregou oito celulares, mas poderia ter fornecido mais:
— Ia levar mais, mas ele só tinha uns oito, eu ia levar mais, o cara levou 19 ontem, hoje ele entrava 20 tranquilo.
Suspensão da advogada
A advogada foi presa por duas ocasiões por ser flagrada realizando entregas. A primeira foi em 2021, em Charqueadas. A mais recente ocorreu no final de maio, na Penitenciária Modular de Montenegro – situação pela qual ela segue presa.
Na ocasião, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS) suspendeu a sua carteira de forma provisória. Um processo de cassação está em andamento. A entidade se manifestou por meio de nota.
Veja íntegra da nota da OAB
"A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do Sul (OAB/RS), esclarece que, diante dos fatos envolvendo a advogada citada na operação policial deflagrada nesta quarta-feira (10/7), já havia adotado as providências cabíveis no âmbito ético-disciplinar, a saber:
1- A OAB/RS tomou conhecimento da prisão da advogada no final de maio deste ano, ocasião em que abriu imediatamente processo ético-disciplinar pelo Tribunal de Ética e Disciplina (TED) para apuração dos fatos no qual foi deferida a suspensão preventiva do seu exercício profissional, a qual permanece vigente enquanto tramitam as apurações no TED;
2- Em relação aos fatos objeto da ação da Polícia Civil do dia hoje, a OAB/RS informa que já solicitou cópia do inquérito para que esses novos elementos sejam incluídos no processo ético-disciplinar;
3 - A OAB/RS reforça que não compactua com práticas ilícitas eventualmente cometidas por advogados e reitera seu compromisso com a ética profissional e a defesa da sociedade, sempre observados os princípios do contraditório, ampla defesa e devido processo legal."