4º Distrito
Fechada desde a enchente de 2024, delegacia já sofreu invasões e furtos em Porto Alegre
Prédio da 3ª Delegacia de Pronto Atendimento (DPPA), localizado no bairro Navegantes, espera por reformas desde o evento meteorológico


Fechada desde a enchente de 2024, a 3ª Delegacia de Pronto Atendimento (DPPA) de Porto Alegre sofre com invasões e furtos enquanto aguarda a reabertura, denunciam policiais civis. O prédio, localizado no bairro Navegantes, foi impactado pela cheia do ano passado e está passando por reformas.
A delegacia era a única de pronto atendimento no 4º Distrito — região que engloba os bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Farrapos e Humaitá. Ela funcionava 24 horas por dia, atendendo ocorrências relacionadas ao tráfico de drogas, prisões em flagrante e eventuais demandas da comunidade. Outras delegacias que atendem a área, como a 4ª e 17ª Delegacia de Polícia (DP) da Capital, não funcionam o dia inteiro.
Policiais civis, que preferiram não se identificar, acreditam que realocação do serviço e pessoal da 3ª DPPA para uma sala no Palácio da Polícia, na região central da Capital, pode colaborar com a sensação de insegurança narrada por moradores do 4º Distrito à Zero Hora no mês passado.
— No local, além dos policiais civis, durante as 24 horas do dia, havia viaturas em atendimento das mais variadas instituições: Brigada Militar, Guarda Municipal, Polícia Rodoviária Federal, que agora deixaram de circular pelo bairro — relatou um agente, que teve a identidade preservada.
Segundo moradores e empresários ouvidos pela reportagem à época, o temor de circular e habitar a região havia se intensificado após a enchente do ano passado, momento em que a delegacia também passou a ficar desativada.
À espera de reformas
De acordo com policiais civis lotados na 3ª DPPA, a cheia quase atingiu o teto do prédio, que ficou cerca de um mês submerso.
— Na ocasião em que as águas da enchente baixaram, os policiais lotados na 3ª DPPA conseguiram doação de todos os móveis e divisórias para reabrir o órgão, o que foi negado pela diretora, pois as divisórias não eram no tom de cinza padrão da polícia — afirmou um agente, que preferiu não se identificar.
Com a negativa para as doações, segundo policiais, a direção da DPPA abriu um processo administrativo para a realização da reforma. Durante o processo licitatório e reparos, que ainda não foram concluídos, agentes passaram a temer a possibilidade de furtos do prédio, o que, segundo Associação dos Delegados de Polícia (Asdep), ocorreu seis vezes.
— Chegou ao ponto dos agentes se oferecerem para guarnecer o prédio, o que foi recusado. Foi também sugerido que fosse colocada uma viatura da central de volantes durante a noite, pelo menos, mas ninguém foi ouvido. O resultado foram seis furtos na delegacia — relata um policial civil.
O prédio foi arrombado, teve paredes quebradas, fiação e cabeamentos furtados, afirma a associação.
— Roubaram a própria polícia. A criminalidade tomou conta — lamentou um agente.
Em razão da ação criminosa, foi necessário abrir um aditivo ao contrato, de modo a garantir a reforma completa, incluindo o que foi depredado pelos bandidos, afirmam fontes internas. Assim, o custo da obra, inicialmente de R$ 133 mil, ficou mais elevado, e o processo de reabertura da delegacia ficou ainda mais moroso, relatam agentes.
Ofício
Um ofício foi enviado à chefia da Polícia Civil nesta quarta-feira (30) por meio do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores da Policia Civil do Rio Grande do Sul (UGEIRM) e pela Asdep. O documento cobra providências para resolver problemas estruturais e funcionais relacionados à 3ª DPPA.
No ofício, as instituições elencam seis números de boletins de ocorrência relacionados aos furtos e invasões da delegacia desde a desocupação no pós-enchente.
A manifestação também cita condições consideradas inadequadas para o desempenho das atividades de policiais que foram realocados para o Palácio da Polícia, como equipes reduzidas, falta de espaço e materiais de trabalho.
O que diz a Polícia Civil
A reportagem de Zero Hora entrou em contato com o chefe da Polícia Civil, delegado Heraldo Chaves Guerreiro, que confirmou que o prédio está fechado desde a enchente, mas afirmou que o local está passando por uma "reforma geral".
— A delegacia está em reforma, porque foi muito atingida pela enchente. Aquela área onde a 3ª DPPA está localizada foi bem atingida pela enchente. Estamos finalizando a obra para o pessoal voltar — afirmou.
Conforme o chefe de polícia, não houve prejuízo no atendimento à população, uma vez que o serviço segue sendo realizado no Palácio da Polícia.
— Na nossa visão, o policiamento preventivo é feito por outra instituição, não a Polícia Civil. A Polícia Civil age legalmente depois do crime. Até pode, pelo movimento de viaturas, pelo movimento de pessoas, ter essa sensação, mas isso é muito subjetivo. Não detectamos nenhum indicador de criminalidade a mais na região — afirmou.
Zero Hora questionou quando a licitação foi aberta, a data em que a empresa ganhadora iniciou as obras e qual o prazo final dos trabalhos. No entanto, o delegado não soube informar. Ele assegurou, no entanto, que as obras estão "em fase final".
A reportagem também perguntou se a Polícia Civil reconhecia as queixas de arrombamentos e furtos do prédio da 3ª DPPA, mas conforme a chefia, essa informação ainda não chegou ao conhecimento deles.
As alegações feitas sobre doações e pedidos para guarnecer a delegacia, que supostamente não foram aceitas, também foram questionadas. Em nota, a Polícia Civil confirmou o andamento das obras e evitou responder os questionamentos, afirmando que "são questões administrativas, de cunho interno da instituição".
"Foi realizado um procedimento licitatório e a obra já está em andamento. Salienta-se que nenhum atendimento à população foi prejudicado pois o órgão está em funcionamento junto à 2ª DPPA, localizada no Palácio da Polícia. Demais questionamentos são questões administrativas, de cunho interno da instituição."