Operação Bloco da Laje
Grupo criminoso furtava celulares e depois extorquia e ameaçava as vítimas
Investigação da Delegacia de Investigações Cibernéticas Especiais do Departamento de Repressão aos Crimes Cibernéticos descobriu que ao menos 15 pessoas sofreram o mesmo tipo de crime pela quadrilha

No fim de janeiro, um administrador de 36 anos participava do Bloco da Laje — que abriu as comemorações de carnaval de Porto Alegre neste ano — quando teve o celular furtado. O transtorno não parou por aí. Dois dias depois, começou a receber pelo WhatsApp ameaças de criminosos, exigindo que desbloqueasse o aparelho e removesse o rastreio.
Investigação da Delegacia de Investigações Cibernéticas Especiais do Departamento de Repressão aos Crimes Cibernéticos descobriu que ao menos 15 pessoas foram vítimas do mesmo tipo de crime por este grupo.
A polícia cumpre na manhã desta terça-feira (1º) seis mandados de busca e apreensão São Leopoldo e Colinas, além de dois de prisão preventiva em Pato Branco, no interior do Paraná, onde residem os dois investigados pelo esquema criminoso. Ambos foram presos na cidade paranaense.
— Furtavam os celulares, e, na sequência, entravam em contato e passavam a extorquir, pedindo dinheiro sob ameaças de morte, ameaças aos familiares. Eles conseguiram informações provavelmente com dados vazados na internet para identificar esses familiares — afirma o delegado Filipe Bringhenti.
Segundo a investigação, os criminosos, que furtavam celulares e notebooks em eventos, como o do Bloco da Laje ou de dentro de veículos estacionados na rua, afirmavam serem integrantes de uma facção criminosa para assustar as vítimas — a polícia não confirmou o vínculo com o grupo. Em média, os bandidos exigiam o pagamento de cerca de R$ 2 mil.
— Além das ameaças de morte e de perseguir familiares, em alguns casos as vítimas foram ameaçadas que teriam imagens íntimas divulgadas, compartilhadas nos meios que eles frequentavam — diz o delegado.
Conforme a investigação, parte do grupo atuava a partir do Paraná, coordenando as extorsões a distância, enquanto outros membros agiam no Rio Grande do Sul. O casal de gaúchos, que reside em Pato Branco, foi identificado como mentor do esquema.
— O objetivo era fazer com que a vítima que teve o aparelho subtraído retirasse a sua conexão, desbloqueasse o aparelho para que eles pudessem reinserir esses aparelhos e colocá-los à venda. A gente fez essa operação para coibir esse grupo criminoso, atacar e reduzir esses crimes nos grandes eventos — diz o delegado Eibert Moreira Neto, diretor do Departamento Estadual de Repressão aos Crimes Cibernéticos.
“Sabiam meus endereços, meus horários”, relata vítima

Para furtar o celular do administrador durante o Carnaval, os criminosos aproveitaram que se tratava de um evento movimentado. O prejuízo da vítima foi de cerca de R$ 6 mil.
— Tinha muita gente, era um bloco de Carnaval. Quando fui passar, abriram o fecho e tiraram meu celular de dentro. Não percebi nada, só depois que já tinha sido furtado.
Virou um inferno. Começaram as ameaças no telefone.
Houve troca de mensagens por WhatsApp — a vítima havia habilitado a conta em outro aparelho — os bandidos alegavam ter informações sobre a vida privada do administrador:
— Começaram ameaças pedindo para desbloquear o telefone e desativar o rastreio. Ameaçaram porque tenho uma filha, e sabiam meus endereços, meus horários. O sentimento é de impotência. Não sabe quem é aquela pessoa, covarde, através do WhatsApp, tentando te coagir, está sem aplicativos de banco, toda a tua vida no telefone. Eles queriam que eu desbloqueasse para eles pudessem passar adiante.
Um dos recados enviado à vítima dizia para desbloquear o telefone que “se não fosse na boa”, “poderia ser na ruim”. O administrador decidiu não ceder e buscou ajuda da Polícia Civil. Foi a primeira vítima a relatar o caso, que levou à abertura da investigação.
Hoje é cuidado redobrado, com certeza. Não saio mais com meu telefone em bloco de Carnaval.
A polícia suspeita que o número de vítimas possa ser ainda maior do que as 15 já identificadas pela investigação. Os criminosos usavam múltiplas linhas telefônicas registradas em nome de terceiros, incluindo dados de vítimas de furtos anteriores.
De acordo com o delegado Eibert Moreira, Porto Alegre tem registrado um grande número de ocorrências relacionadas a esse tipo de crime em grandes eventos, em shows, e em casas noturnas.
A operação
Os mandados de busca serão cumpridos em endereços ligados aos suspeitos de envolvimento no esquema, além das prisões das lideranças do grupo. Outro intuito da operação é apreender aparelhos eletrônicos, documentos e valores em espécie que comprovem os crimes, além de identificar outros membros da organização.