Na Ilha dos Marinheiros
"Quando ela decidiu sair do relacionamento abusivo, voltou a viver", diz familiar de mulher morta a tiros em Porto Alegre
Sheila Lopes da Silva, 41 anos, e o pai dela, Rogério Santos da Silva, 61, foram mortos a tiros no domingo (10). Ex-companheiro dela é suspeito de praticar os crimes

Uma celebração do Dia dos Pais terminou em dor irreparável para a família de Sheila Lopes da Silva, 41 anos. Considerada uma mãe esforçada e mulher trabalhadora, ela foi morta a tiros na tarde de domingo (10), após visitar o pai Rogério Santos da Silva, 61 anos. O crime ocorreu na Ilha dos Marinheiros, no bairro Arquipélago, em Porto Alegre.
O familiar tentou impedir o assassinato da filha e também foi alvejado e morto. Djonatan Patrick da Silva Oliveira, 20 anos, morador da região, morreu nesta terça-feira (12). O jovem passava pelo local no momento do crime e foi baleado ao tentar intervir.
O suspeito de praticar os crimes é o ex-companheiro de Sheila, Paulo Fernando Rodriguez. O homem, de 56 anos, teria abordado a vítima de forma violenta após saber que ela estava na residência do pai. Na sequência, efetuou disparos contra a mulher, segundo a Polícia Civil. Ele está hospitalizado.
Inicialmente, o caso é investigado como feminicídio consumado, homicídio consumado e tentativa de homicídio.
Relacionamento de duas décadas
Conforme relato de familiares, o casal manteve um relacionamento por cerca de duas décadas e tinha dois filhos, de 16 e 20 anos. No entanto, há aproximadamente seis meses, Sheila resolveu romper a relação. O homem, contudo, não teria aceitado o fim da união.
— Sentíamos que ela não estava mais feliz com ele. Quando ela decidiu sair deste relacionamento abusivo, ela voltou a viver. Os olhos brilhavam. Ela começou a se aproximar mais da família, amava sair com as primas — afirmou Paulo Ricardo Portilla, 30 anos, primo de Sheila e sobrinho de Rogério.
Segundo familiares, a vítima vinha enfrentando ameaças por parte do ex-companheiro, inclusive envolvendo o uso de armas de fogo. Contudo, optou por não registrar ocorrência contra ele, tampouco medida protetiva "porque não queria atrapalhar o trabalho dele". O agressor atuava como segurança. Na casa dele, a Polícia Civil encontrou uma pistola calibre .380, um revólver calibre .38 e uma espingarda tipo Puma. A perícia analisará os equipamentos para descobrir se alguma destas armas foi usada para cometer os assassinatos.
— Esse crime acabou com a nossa família. Sheila era uma mulher cheia de vida, de fibra. Ela era inspiradora. Sempre corria atrás dos sonhos dela e trabalhou muito para dar o melhor para os dois filhos. O meu tio era como um pai para mim, sempre me impulsionou a ser quem eu sou hoje, me deu conselhos. Ele merece uma medalha de herói pelo que fez por ela — diz Portilla.
Segundo Silesia Alves Lopes, tia de Sheila, a sobrinha era uma pessoa amorosa e costumava externalizar o afeto pelos familiares nas redes sociais. Horas antes do crime ocorrer, Sheila teria postado uma homenagem ao pai nas redes sociais, com os dizeres "Feliz Dia dos Pais! Te amo", acompanhados por uma fotografia de Rogério.
A vítima havia se mudado da Ilha dos Marinheiros – onde ocorreu o crime e onde moravam os familiares e o ex-companheiro – e estava vivendo em um apartamento no bairro Farrapos, em Porto Alegre. Ela trabalhava como atendente em uma padaria.

O crime
Sheila Lopes da Silva, 41 anos, e o pai dela, Rogério Santos da Silva, 61, foram mortos a tiros na tarde de domingo (10). O ataque ocorreu na Ilha dos Marinheiros, no bairro Arquipélago, em Porto Alegre. Uma terceira vítima, Djonatan Patrick da Silva Oliveira, 20 anos, morador da região, ficou ferido e morreu nesta terça-feira (12). O principal suspeito é o ex-companheiro da mulher, um homem de 56 anos.
Relatos iniciais indicam que Sheila estava na casa do pai, comemorando o Dia dos Pais. O suspeito, que mora em uma casa ao lado, na Rua Nossa Senhora Aparecida, teria abordado a vítima para conversar.
Em seguida, ele teria efetuado disparos de arma de fogo, atingindo a ex-companheira na cabeça e no tórax, segundo a Polícia Civil. Ela chegou a ser socorrida e levada ao hospital por familiares, mas não resistiu aos ferimentos.
Rogério tentou impedir o assassinato da filha, mas foi alvejado e morreu no local. Oliveira, que passava pelo local no momento do ataque, também tentou intervir, mas foi baleado. Ele foi encaminhado em estado grave ao Hospital de Pronto Socorro (HPS), mas morreu nesta terça-feira.
Suspeito está hospitalizado
Após os crimes, o suspeito teria atirado contra ele mesmo. O homem foi levado ao HPS e permanece sob custódia. Na segunda-feira (11), ele foi transferido para o Hospital Vila Nova, conforme informou o HPS. Depois de receber cuidados médicos, ele deve prestar esclarecimentos à polícia.
Como está a investigação
Inicialmente a ocorrência é investigada pela Polícia Civil como feminicídio consumado, homicídio consumado e tentativa de homicídio. De acordo com o delegado Anderson dos Santos Hermel, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a mulher não tinha medida protetiva contra o suspeito.
A investigação prossegue na 1ª Delegacia da Mulher (Deam) de Porto Alegre. A delegada Thaís Dias Dequech busca confirmar a dinâmica e a motivação do crime. Para tal, estão sendo ouvidas testemunhas e a polícia aguarda para recolher o depoimento do suspeito. O resultado pericial também é esperado para determinar as causas das mortes.
Como pedir ajuda
Brigada Militar – 190
- Se a violência estiver acontecendo, a vítima ou qualquer outra pessoa deve ligar imediatamente para o 190. O atendimento é 24 horas em todo o Estado.
Polícia Civil
- Se a violência já aconteceu, a vítima deve ir, preferencialmente à Delegacia da Mulher, onde houver, ou a qualquer Delegacia de Polícia para fazer o boletim de ocorrência e solicitar as medidas protetivas.
- Em Porto Alegre, a Delegacia da Mulher na Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia, no bairro Azenha. Os telefones são (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências).
- As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há DPs especializadas no Estado. Confira a lista neste link.
Delegacia Online
- É possível registrar o fato pela Delegacia Online, sem ter que ir até a delegacia, o que também facilita a solicitação de medidas protetivas de urgência.
Central de Atendimento à Mulher 24 Horas – Disque 180
- Recebe denúncias ou relatos de violência contra a mulher, reclamações sobre os serviços de rede, orienta sobre direitos e acerca dos locais onde a vítima pode receber atendimento. A denúncia será investigada e a vítima receberá atendimento necessário, inclusive medidas protetivas, se for o caso. A denúncia pode ser anônima. A Central funciona diariamente, 24 horas, e pode ser acionada de qualquer lugar do Brasil.
Defensoria Pública – Disque 0800-644-5556
- Para orientação quanto aos seus direitos e deveres, a vítima poderá procurar a Defensoria Pública, na sua cidade ou, se for o caso, consultar advogado(a).
Centros de Referência de Atendimento à Mulher
- Espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência.
Ministério Público do Rio Grande do Sul
- O Ministério Público do Rio Grande do Sul atende o cidadão em qualquer uma de suas Promotorias de Justiça pelo Interior, com telefones que podem ser encontrados no site da instituição.
- Neste espaço é possível acessar o atendimento virtual, fazer denúncias e outros tantos procedimentos de atendimento à vítima. Para mais informações clique neste link