Minas do Leão
Caso de entregador morto em ataque de quatro pitbulls é investigado como homicídio culposo; família faz protesto
Américo Sampaio de Souza, 63 anos, foi sepultado nesta sexta-feira, dia em que familiares realizaram protesto em frente à casa onde o incidente aconteceu

Desde a morte do entregador de lenha Américo Sampaio de Souza, 63 anos, na quinta-feira (11), mudou a linha de investigação do caso do ataque por pitbulls sofrido pelo idoso. Segundo a Polícia Civil de Minas do Leão, a suspeita passou de lesão corporal culposa para homicídio culposo. O inquérito ainda não foi concluído.
Américo foi sepultado na manhã desta sexta (12) no Cemitério Municipal de Butiá. Ele estava internado na UTI do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS) em coma induzido desde sábado (6), depois de ser atacado por quatro cães durante uma entrega de lenha na casa de uma cliente no bairro São José, em Minas do Leão. Ele morreu por infecção generalizada em decorrência das lesões sofridas.
Américo, que chegou a passar por uma cirurgia de alta complexidade, teve arrancados o couro cabeludo e partes da orelha.
Protesto
Familiares e amigos fizeram um protesto na tarde desta sexta. Cerca de 40 pessoas saíram da Escola Estadual Getúlio Dornelles Vargas e caminharam com balões e cartazes por cerca de 400 metros, até a frente da casa onde ocorreu o ataque. No local, gritaram por justiça e deixaram os cartazes na cerca da residência.
No local, ninguém apareceu. A família que mora na casa, responsável pelos cachorros, saiu da cidade por medo de represálias.
Américo tinha 11 irmãos. Há sete meses, uma irmã morreu após complicações de uma doença. Sem esposa e filhos, Américo morava no mesmo pátio de outra irmã, Alvorina Sampaio de Souza Lopes, de 64 anos.
— Ele pegou o carrinho do amigo dele, botou dois sacos de lenha e veio pra cá pra esses lados. O vizinho dele até queria trazer a lenha pra ele, e ele disse não. Não sei como é que vai ser para viver assim, sem poder ouvir a voz dele. É muito triste — diz Alvorina.
Do lado de fora da casa, é possível enxergar, no pátio, o carrinho utilizado para carregar as lenhas e parte dos dois sacos que Américo entregou à tutora dos animais.
Paulo Paculski, 56 anos, mora algumas casas depois, na mesma rua. Ele e a esposa auxiliaram Américo a sair do pátio.
— Alcancei uma barra de ferro para acertarem o nariz do cachorro e afastar dele. Assim que a gente conseguiu tirar ele de lá, os cachorros vieram lá de cima e quase pegaram minha mulher. Foi por pouco que mais gente não ficou ferida. É um perigo — conta Paculski.

O ataque
Segundo depoimento de parentes, a cliente de Américo e tutora dos animais, Antonina Doraci Keenan, 82 anos, teria pedido para que ele entrasse no quintal, e foi então que os cachorros, que estavam soltos, o atacaram. A idosa afirma que o Américo entrou por conta própria no quintal. Segundo a professora aposentada, o homem já havia prestado serviço em sua casa diversas vezes, sem nunca cruzar o portão. Ela recupera de ferimentos na perna desde o episódio, quando se jogou sobre os cachorros para tentar impedir o ataque.
Cães apreendidos
Na tarde de quarta-feira (10), a Polícia Civil apreendeu três dos pitbulls de Antonina, na residência dela em Minas do Leão. O quarto cachorro foi sacrificado pelo filho da idosa durante o episódio na tentativa de proteger o entregador. Os animais apreendidos foram encaminhados ao canil da Penitenciária Estadual de Charqueadas.
Conforme a legislação estadual, tutores de pitbulls devem manter os animais em guia curta de até 1,5 metro e com focinheira em locais públicos. No entanto, a lei não estabelece exigências específicas para áreas privadas.
*Produção: Fernanda Axelrud