Região Carbonífera
Crime da mala: polícia faz buscas por cabeça de vítima em aterro sanitário de Minas do Leão
Ricardo Jardim, 66 anos, suspeito do crime, alegou ter depositado crânio de mulher em lixeira na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre

A Polícia Civil seguirá as buscas pela cabeça da vítima de um crime que despertou a atenção nas últimas semanas em Porto Alegre. Brasília Costa, 65 anos, teve o corpo esquartejado e dispersado em diferentes locais da Capital. Nesta quarta-feira (17), foram realizadas buscas no aterro sanitário de Minas do Leão, na Região Carbonífera, mas o crânio não foi localizado.
O local é destino dos resíduos que são recolhidos em Porto Alegre e em outros municípios do Estado. O publicitário Ricardo Jardim, 66 anos, que era namorado da vítima e está preso desde o começo de setembro por suspeita de ter cometido o crime, alegou ter depositado a cabeça da mulher numa lixeira perto da Usina do Gasômetro.
Somente o ponto onde foi concentrada a procura, encerrada no início desta tarde, possui cerca de 100 mil toneladas de material orgânico.
É um ambiente dificílimo para fazer uma busca. Nós tivemos o apoio dos tratoristas, dos equipamentos da empresa para fazer essa busca. Para os bombeiros, a cadela trabalhou muito bem, porque ela não deu nenhum falso aviso. Ela trabalhou de forma homogênea, sempre mantendo o mesmo ritmo. Então significa que, em tese, na área de alcance dela, naquela área enorme, não havia um sinal de que essa cabeça poderia estar.
MARIO SOUZA
Diretor do DHPP
— Pode estar para baixo, pode não estar aqui, mas foi importante fazer essa grande operação de busca para essa parte do corpo que falta — explica o delegado Mario Souza, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção às Pessoas (DHPP).
A cadela mencionada por Souza é Meltz, uma pastor belga malinois de dois anos e seis meses do Batalhão de Busca e Salvamento de Porto Alegre.
A cachorra percorreu o aterro em buscas de resíduos biológicos humanos. Ela não manifestou nenhum sinal de que pudesse haver algo desse perfil na área onde foi realizada a procura.
— Ela é certificada para buscas de pessoas vivas e de cadáveres. E estou treinando ela para busca de odor específico. Apresento ela a um odor e ela busca — explicou o soldado Luis Eugênio Goularte, do Corpo de Bombeiros.
Para proteger Meltz, Goularte colocou botas nas quatro patas da cadela, em razão do risco de queimaduras, cortes e contaminações.
— Esse ambiente é um dos mais difíceis que já enfrentamos. É material orgânico em decomposição, tem ponta, tem pedra, vidro. E o clima também, com calor. Se já está calor para nós, imagina para o cachorro que está farejando — explicou o bombeiro.
As buscas em Minas do Leão foram realizadas pela Polícia Civil, com apoio do Corpo de Bombeiros e das empresas de limpeza urbana. Outras ações seguirão sendo realizadas na tentativa encontrar o crânio da vítima.
— Desde o momento que nós tivemos a informação de que essa parte do corpo da vítima havia sido descartada numa lixeira de lixo orgânico, viemos tentamos localizar. Nosso intuito é localizar o crânio da senhora Brasília e poder devolvê-lo à vítima e também encaminhar para o Instituto-Geral de Perícias, que com certeza vai colaborar aí para identificar a causa da morte dela e a gente poder dar um desfecho para esse caso — afirmou o delegado André Freitas, responsável pela investigação.
Pela manhã, empresas de limpeza urbana prepararam o local para que fossem realizadas as buscas.
— Existe um local exato onde o lixo que vem dessa região de Porto Alegre é depositado. Então, as empresas já organizaram o terreno, delimitaram esse local e vamos auxiliar com equipamentos e pessoas para tentar encontrar essa parte do corpo que falta. Se encontrarmos qualquer parte, qualquer material orgânico suspeito, vamos também acionar o Instituto-Geral de Perícias, que está de prontidão aguardando o chamado — afirmou Souza mais cedo.
Antes de inicar os trabalhos, o soldado Goularte, do Corpo de Bombeiros, comentou a complexidade da operação:
— É uma missão muito difícil, o terreno é uma área muito ampla, não temos uma área inicial para começar. Mas o Corpo de Bombeiros está à disposição e vamos fazer o impossível para tentar localizar e dar um descanso à família.
As outras partes
O tronco da vítima foi encontrado no início deste mês dentro de uma mala deixada no guarda-volumes da rodoviária da Capital.
Outras partes do corpo foram encontradas envolvidas em sacos plásticos, dentro de uma bolsa, no bairro Santo Antônio, em 13 de agosto, e também no Guaíba, em 6 e 7 de setembro. O crânio da mulher é a única parte que ainda não foi encontrada.
O caso
Jardim foi preso em 4 de setembro pela Polícia Civil numa pensão na zona norte da Capital. Segundo a investigação, o crime aconteceu em outra pousada onde ele vivia com a namorada, na mesma região da Capital. Na terça-feira (16), o Departamento de Homicídios divulgou novas imagens de antes e depois do crime.
Nos vídeos, de câmeras de segurança de dentro da pousada, foi captada a última imagem da vítima com vida. Segundo a polícia, isso aconteceu no dia 8 de agosto. A investigação acredita que a mulher tenha sido morta entre os dias 8 e 9 de agosto. Nos vídeos, também é possível ver Jardim circulando dentro da pousada, numa das imagens usando as luvas que a polícia acredita que tenham sido empregadas no crime.
Nos outros registros de vídeos, Jardim aparece saindo da pensão carregando bolsas, onde a polícia acredita que estavam partes do corpo da vítima. Numa das imagens, em 14 de agosto, ele chega à pensão com uma mala, que teria sido comprada no centro da Capital. Com esta mesma mala, ele deixa a pousada na noite de 20 de agosto, e segue em direção à rodoviária.
O caso é tratado como feminicídio, mas a polícia acredita que havia motivação financeira. Durante o interrogatório, na semana passada, Jardim apresentou diferentes versões. Numa delas, admitiu ter esquartejado a mulher, mas negou que tenha sido o responsável pela morte dela. Ele afirmou que a vítima teria sofrido um mal súbito.
Quando aconteceu o crime, Jardim já se encontrava foragido. O publicitário foi preso em 2015 e condenado três anos depois por assassinar a própria mãe e concretar o corpo dela no apartamento onde a idosa vivia, no bairro MontSerrat, em Porto Alegre.