Polícia



Crime da mala

Preso por suspeita de ter matado e esquartejado a namorada manteve corpo da vítima em geladeira na pousada onde estava hospedado

Ricardo Jardim, 66 anos, apontado como autor do homicídio de Brasília Costa, mudou a versão no interrogatório e falou que descartou partes do corpo e espalhou pela cidade

16/09/2025 - 09h59min


Pâmela Rubin Matge
Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Ricardo está preso desde o começo de setembro.

Ricardo Jardim, 66 anos, preso desde 4 de setembro por suspeita de ter matado e esquartejado a namorada, manteve o corpo da vítima dentro de uma geladeira na pousada onde o casal estava hospedado, conforme a polícia.

As informações foram divulgadas depois de 12 dias de sigilo, pela Polícia Civil, na manhã desta terça-feira (16) durante uma coletiva à imprensa, na Cidade da Polícia. 

Ainda conforme as forças de seguraça, Ricardo planejou meticulosamente o crime. Ele fez a compra de mala, serra, luvas, sacos plásticos e fita.

Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Ricardo comprou mala, serra, luvas e fita.

Em fotos, vídeos e acesso ao histórico de pesquisa de Ricardo, a polícia constatou que ele acompanhava o trabalho da imprensa sobre o caso. O homem, que mantinha perfis falsos na redes sociais e utilizava pelo menos três celulares, ainda pesquisou como identificar digitais depois de um crime. 

Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Ricardo mantinha perfis falsos na internet e usava pelo menos três celulares.

Após o crime, passou a utilizar o telefone celular de Brasília, se passando pela vítima. O assassinato, de acordo com a polícia, aconteceu entre 8 e 9 de agosto.

Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Ricardo passou a se passar pela vítima.

No interrogatório, o suspeito mudou a versão e apenas falou que descartou partes do corpo e espalhou pela cidade

— Ele não confessou. Ele negou o crime— diz o delegado Mario Souza, diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Segundo a polícia, Ricardo plantou provas, deixou pistas falsas e agiu de forma cênica.

"Ele plantou provas falsas. Partes do depoimento podem ser verdade outras não. É paradoxal o que ele faz.Ele traz informações , mas sempre com partes (relatos) faltando ou que não procedem.

MARIO SOUZA

Diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa

Entre a morte, o esquartejamento e o descarte foram 5 dias. Ele utilizou uma serra. Diferentemente do crime organizado, não foram lesões brutais. A polícia tem duas hipóteses. Uma delas é ampla pesquisa feira por Ricardo na internet e em livros. A outra, ter dividido cela por anos com um criminoso condenado por um crime de esquartejamento. Trata-se de Vandré Centeno da Costa.

Causa da morte ainda é desconhecida

O IGP ainda trabalha para estabelecer a causa da morte, aguarda exames laboratoriais para saber, por exemplo, se a vítima foi drogada. 

Pode se afirmar que o esquartejamento ocorreu após a execução. 

Buscas pelo crânio seguem e devem completar a perícia.

Demonstrou ser uma pessoa tranquila, mas tentou nos induzir ao erro com relatos parcialmente falsos e parcialmente verdadeiros.

ANDRÉ LUIZ FREITAS

Delegado responsável pela investigação.

Relembre o caso

A vítima foi identificada como Brasília Costa, 65 anos. O publicitário Ricardo Jardim está preso preventivamente desde 4 de setembro.

O tronco da vítima estava dentro de uma mala no guarda-volumes na Estação Rodoviária de Porto Alegre. Restos mortais foram localizados em sacolas de lixo deixadas em uma rua na Zona Leste. As pernas foram encontradas em dois trechos diferentes da Zona Sul.

O crânio da vítima ainda não foi localizado pela polícia. Aos policiais, Jardim disse ter depositado a cabeça da mulher numa lixeira perto da Usina do Gasômetro.

Após ser preso pela equipe do Departamento de Homicídios, Jardim chegou a admitir aos policiais ter esquartejado a vítima, mas alegou que a namorada sofreu um mal súbito. No entanto, a polícia trata o caso como feminicídio, com motivação financeira.

Análise preliminar da Polícia Civil indica que o publicitário pesquisou na internet sobre identificação de pessoas e DNA um dia após deixar a mala com o tronco da vítima na Estação Rodoviária.

Alessandro Agendes/Grupo RBS
Ricardo Jardim foi ouvido no início da noite de 10 de setembro.

A Defensoria Pública, que representa o suspeito, diz que só se manifestará nos autos do processo.

Semiaberto

Foi a juíza Sonáli da Cruz Zluhan que concedeu o regime semiaberto a Jardim, em janeiro de 2024. Ele estava preso desde 29 de maio de 2015.

Ainda faltavam cerca de três meses para ele ter o tempo necessário para pedir a análise do benefício, mas a saída acabou sendo antecipada. Jardim passou por avaliação psicossocial e os laudos psicológico e social foram favoráveis, segundo a Justiça.

— Ele estava preso há nove anos sem tratamento penal nenhum, com parecer favorável da psicóloga e da assistente social e com conduta carcerária plenamente satisfatória. Não tinha nada que contraindicasse a progressão dele — diz Sonáli.

A vítima

Bia, como era conhecida a vítima, era manicure e trabalhava eventualmente em salões na zona norte de Porto Alegre. Ela e Jardim teriam se conhecido em junho do ano passado, num abrigo, durante o período da enchente.

Em outubro, os dois teriam rompido a relação, mas retomaram no começo deste ano. Bia era divorciada e não tinha filhos. A mulher era natural de Arroio Grande, no sul do Estado.

Condenado por matar a mãe

Em 2018, Ricardo foi condenado a 28 anos por matar e concretar a mãe. Ele foi solto em 2024 após conseguir autorização para progressão ao regime semiaberto

Vilma Jardim, 76 anos, teve o corpo encontrado dentro de um armário, com a porta concretada, em seu apartamento, no bairro Mont'Serrat, em 2015. A apuração indicou que o móvel havia sido feito sob medida. A busca no apartamento foi feita depois de familiares darem falta da idosa. Ela sumiu em 10 de maio, Dia das Mães.

Parentes desconfiavam da conduta de Jardim, que estava desempregado e começou a aparecer com bens. O publicitário foi preso em casa com uma arma e passaporte. Inicialmente, o criminoso teria confessado o crime à Polícia Civil. Depois, ao longo do processo, teria se negado a falar. Diante dos jurados, em 2018, sustentou que a mãe havia cometido suicídio com facadas, após uma discussão entre os dois. A perícia indicou que a idosa recebeu 13 golpes, a maior parte na região do pescoço e na cabeça.


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