Investigação
Como polícia de Porto Alegre aumentou a localização de desaparecidos
Autoridades atribuem avanço a uso de tecnologia e a protocolo criado em 2023

De janeiro a setembro deste ano, 766 pessoas foram registradas como desaparecidas em Porto Alegre, e 597 delas já foram localizadas. Os dados são da Delegacia de Pessoas Desaparecidas da Polícia Civil (DPID), e foram obtidos pela reportagem de Zero Hora.
Os números mostram uma melhora em relação ao mesmo período do ano passado, quando 801 desaparecimentos haviam sido comunicados e 577 pessoas encontradas.
Ou seja, entre janeiro e setembro deste ano, 77,9% dos desaparecidos em Porto Alegre foram encontrados. Nos nove primeiros meses do ano passado, esta taxa era de 72,0%.
O avanço é atribuído a dois fatores principais:
- a implementação de um novo protocolo de busca, em 2023; e
- o uso mais intenso de ferramentas tecnológicas, como drones e sistemas de rastreamento.
O diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Capital, delegado Mário Souza, destaca que o protocolo mudou a forma de atuação das equipes:
— É um procedimento que reúne uma série de etapas e foi desenvolvido em 2023 pela DPID. Além disso, há o uso importante de ferramentas tecnológicas que auxiliam na localização, como foi o caso recente de um idoso da zona sul, encontrado com o apoio de um drone.
Os casos de desaparecimento são variados e, muitas vezes, complexos. Alguns envolvem problemas de saúde, especialmente entre idosos que se desorientam e acabam encaminhados a hospitais sem identificação. Outros estão ligados a crimes, a situações de isolamento temporário — quando a pessoa fica incomunicável por falta de sinal ou bateria no celular —, e ainda há os casos de desaparecimento voluntário, quando alguém decide se afastar da família.
Nessas situações, a polícia realiza apenas uma prova de vida, sem informar o paradeiro à família, respeitando o direito à privacidade.
O protocolo de busca prevê uma série de etapas:
- entrevistas com familiares e amigos
- verificação da rotina e possíveis deslocamentos da pessoa, com cruzamento de informações de redes sociais
- checagem de câmeras de segurança, registros rodoviários e aeroportuários
- investigação em campo
— Quando as ferramentas tecnológicas se esgotam, o policial precisa fazer aquilo que é clássico: pegar a foto da pessoa e trabalhar na rua, na área onde ela pode ter passado, até encontrá-la. Esse protocolo é seguido em todos os casos — explica Mário Souza.
Desaparecidos nas enchentes
Outro levantamento da Polícia Civil trata dos desaparecidos durante as enchentes de maio de 2024. Dos 470 registros feitos durante a tragédia, 447 pessoas foram localizadas — 185 em óbito e 262 com vida. Atualmente, 23 permanecem desaparecidas.
As investigações seguem abertas e só serão encerradas quando todos os casos tiverem desfecho. Segundo a Polícia Civil, quanto mais tempo passa, menor a chance de encontrar pessoas com vida, já que parte das vítimas pode ter sido levada pela força das águas ou soterrada em desabamentos.
O trabalho é resultado de uma força-tarefa integrada, que reúne Polícia Civil, Brigada Militar, Corpo de Bombeiros, Instituto-Geral de Perícias e também voluntários e familiares. Ainda assim, os agentes relatam casos de reencontros tardios, como o de uma pessoa em situação de rua que não sabia que havia sido dada como desaparecida.
Colabore
Quem tiver informações que possam auxiliar nos casos de desaparecimentos pode entrar em contato com a Polícia Civil pelos telefones 0800-642-0121 ou (51) 98416-7109.
Delegacia de Investigação de Pessoas Desaparecidas (DPID)
- Onde fica: Avenida Bento Gonçalves, 8855, bairro Agronomia, na Cidade da Polícia, em Porto Alegre
- Horário: 8h30min às 12h e 13h30min às 18h, de segunda a sexta-feira. O registro do desaparecimento pode ser feito em qualquer horário nos plantões de delegacias e na Delegacia Online
- Telefone: (51) 3288-2651
- E-mail: dhpp-desaparecidos@pc.rs.gov.br
Como agir em casos de desaparecimentos
- Registre o desaparecimento na polícia assim que for percebido
- Leve uma fotografia atualizada para repassar aos policiais
- Outras informações relevantes no momento do registro são saber se a pessoa tem telefone celular e se estaria com ele; se possui redes sociais; os dados de conta bancária; se possui veículo e qual a placa; locais que costuma frequentar; pessoas com quem mantém contato (amigos, familiares); se é usuária de drogas e se houve alguma desavença que pode ter motivado o sumiço
- Comunique o desaparecimento aos amigos e conhecidos que podem auxiliar com informações. Ao divulgar o sumiço, informe os contatos de órgãos oficiais como Polícia Civil e Brigada Militar para receber informações. Isso evita que criminosos interessados em extorquir familiares de desaparecidos se aproveitem da situação
- Outra orientação importante é que as famílias comuniquem a polícia não somente o desaparecimento, mas também a localização. É muito comum os policiais depararem com casos de pessoas que não estão mais desaparecidas, mas que no sistema constam como sumidas porque o registro de localização não foi feito
Se o desaparecido for criança ou adolescente:
- Percorra locais de preferência da criança
- Saiba informar quem são os amigos dela e com quem pode estar
- Esteja atento às roupas que a criança ou adolescente está usando e, em caso de sumiço, descreva para a polícia
- Mantenha alguém à espera no local de onde ela sumiu. É comum que ela retorne para o mesmo ponto
- Ensine as crianças, desde pequenas, a saberem dizer seu nome e o nome dos pais
- Quando a criança ou adolescente for localizada, informe a polícia
Fonte: Polícia Civil-RS